O alerta foi feito pela coordenadora do Escritório das Nações Unidas sobre as Drogas e o Crime (UNODC), Manuela Carneiro, quando intervinha na abertura do "Seminário sobre o fortalecimento inter-institucional de Angola para combater o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo".
"Precisamos de coragem para agir, para aplicar a lei com rigor e para afirmar que o branqueamento de capitais, o financiamento do terrorismo e o crime económico não terão espaço nas nossas sociedades", afirmou Ma-nuela Carneiro.
A responsável da ONU indicou que a realidade exige uma resposta, igualmente, sofisticada, baseada na especialização técnica, na cooperação efectiva e na resiliência institucional.
Manuela Carneiro fez saber que o UNODC mantém um compromisso firme com Angola, e trabalha em estreita colaboração com as instituições judiciais, policiais, financeiras e da sociedade civil. O objectivo, segundo a responsável, é claro: "promover um ambiente de legalidade, transparência e confiança mútua."
"Vivemos tempos de mudança acelerada. Precisamos de coragem para agir, para aplicar a lei com rigor, e para afirmar que o branqueamento de capitais, o financiamento do terrorismo e o crime económico não terão espaço nas nossas sociedades", sublinhou.
Durante a sua intervenção, Manuela Carneiro enalteceu ainda o papel da Unidade de Informação Financeira (UIF) e das autoridades nacionais de supervisão, justiça e investigação criminal contra estes crimes, defendendo um verdadeiro espírito de cooperação para que Angola possa consolidar os progressos alcançados.
"Esta formação não é apenas uma acção teórica, ela centra-se na realidade, na análise de casos concretos, nas dificuldades enfrentadas e nas soluções encontradas. É um exercício de reflexão conjunta que se pode traduzir em resultados práticos e duradouros", frisou.
Participação regional
A coordenadora do UNODC destacou o carácter regional do evento, sublinhando o simbolismo da participação activa dos especialistas do Quénia e de Marrocos, bem como o apoio das respectivas embaixadas em Angola.
"A presença destes países reforça o espírito de amizade, solidariedade e cooperação regional, fundamentais no combate ao crime financeiro", referiu.
O evento, que conta com a participação de especialistas do Quénia e do Reino de Marrocos, visa reforçar as capacidades nacionais através da partilha de experiências, da análise de casos práticos e do fortalecimento da articulação entre instituições com responsabilidade directa na prevenção e repressão do crime económico e financeiro.
"Este seminário assume uma importância estratégica para Angola, sobretudo no contexto da avaliação mútua do GAFI (Grupo de Acção Financeira). Permite criar uma oportunidade única de reforçar a coordenação interinstitucional e acelerar as reformas já em curso no país", afirmou Manuela Carneiro.
Relevância da cooperação
No encontro, a chefe-adjunta da Missão Diplomática do Reino de Marrocos em Angola, Hibat Allah Faouzi, destacou a relevância da cooperação com o UNODC. "A nossa colaboração com o UNODC tem sido essencial para o sucesso alcançado. Juntos promovemos iniciativas de capacitação, partilha de conhecimentos e assistência técnica que fortaleceram tanto a experiência nacional, como a resiliência regional", disse.
Segundo Hibat Allah Faouzi, o Reino de Marrocos, sob a liderança de Sua Majestade o Rei Mohammed VI, tem dado prioridade máxima ao combate às ameaças financeiras ilícitas, através da implementação de uma estrutura legal e institucional moderna e abrangente.
A diplomata revelou que o Reino do Marrocos tem vindo a implementar diversos programas de formação especializada nas áreas da Justiça, Segurança e Combate ao Crime Financeiro, promovendo um reforço das capacidades institucionais em vários países do continente.
Durante a sua intervenção, Hibat Allah Faouzi destacou a presença do especialista marroquino Mohamed Amine Jardani como testemunho do forte envolvimento do seu país nos programas da organização em África.
"É um grande privilégio para mim participar deste evento, em nome da Embaixada do Reino de Marrocos, a presença do Sr. Mohamed Amine Jardani representa o nosso compromisso contínuo em enfrentar os desafios globais mais prementes, entre os quais se destacam a lavagem de capitais e o financiamento de actividades terroristas", destacou.
Hibat Allah Faouzi reiterou, também, o papel crucial da cooperação Sul-Sul como mecanismo para enfrentar os desafios comuns, valorizando o intercâmbio de boas práticas e soluções adaptadas ao contexto africano.
Contribuição do Quénia
A chefe-adjunta da Missão Diplomática do Quénia, Dorcas Rukunga, sublinhou que os crimes financeiros representam uma das maiores ameaças insidiosas à estabilidade económica global, afectando directamente a integridade das sociedades e dos sistemas financeiros nacionais.
"O nosso compromisso aqui, hoje, não é apenas sobre concorrência e regulamentos. É sobre proteger as nossas comunidades dos efeitos corrosivos das finanças ilícitas, ligadas ao tráfico de drogas, terrorismo, tráfico humano e à corrupção", afirmou.
Segundo a diplomata, os crimes financeiros têm-se tornado cada vez mais sofisticados, explorando vulnerabilidades dos sistemas através de novas tecnologias e redes digitais. "A revolução digital trouxe enormes benefícios, mas também abriu portas para novas formas de criminalidade financeira. Essas redes são complexas, obscuras nas suas origens e extremamente difíceis de rastrear", disse.
Dorcas Rukunga partilhou um caso concreto que ilustra a dificuldade das autoridades em lidar com estas redes: uma investigação de mais de dez anos, envolvendo operações simultâneas no Quénia, Angola, Namíbia e Zâmbia, com dinheiro movimentado entre várias instituições financeiras.
"É impossível, sem competências específicas, seguir o rasto do dinheiro. Não se sabe de onde vem, para onde vai, ou o que foi vendido para justificar o montante. Casos como este desafiam as capacidades dos nossos governos e põem à prova a integridade das instituições financeiras", sublinhou.
A palestra decorre em Luanda ao longo da semana e insere-se numa série de iniciativas regionais, promovidas pelo UNODC, com vista à criação de sistemas financeiros mais íntegros e resistentes à criminalidade organizada, promovendo, em simultâneo, a segurança, o investimento e o desenvolvimento sustentável.