"Concordo que a democracia falhou em África. Porque se somos 54 nações e apenas cinco são tidas como democráticas, é porque realmente foi um fracasso", afirmou, na sua intervenção no colóquio "Como se constrói um país: diálogos interdisciplinares", a pretexto dos 50 anos de independência de Angola, que se completam em 11 de novembro.
Os cinco países considerados democráticos são a África do Sul, a Namíbia, as Maurícias, o Botsuana, o Gana e Cabo Verde.
"É um fracasso total. Quer dizer quase. Mas a questão que eu coloco é: a democracia falhou, mas falhou porquê? Será o modelo ou nós, os africanos, é que não estamos comprometidos em fazer funcionar a democracia?", questionou.
César Chiyaya salientou que, sendo a democracia uma instituição, um conjunto de normas e de valores, para esse sistema funcionar "é preciso que haja um compromisso de quem queira que essa instituição funcione. E que sirva os interesses dessa sociedade".
O compromisso a que aludiu deve vir de quem está no poder.
"Ou seja, o que é que eu quero dizer com isso? Quero dizer que a democracia fracassou porque, efetivamente, nós não estamos comprometidos, ou pelo menos aqueles que deviam, porque não é responsabilidade do povo fazer funcionar a democracia, mas sim a responsabilidade de quem detém o poder em fazer funcionar a democracia", explicou.
O analista defendeu ainda que a opção pela democracia foi oportunista, que visou a "sobrevivência dos próprios regimes".
"Não há compromisso. Por isso é que, mesmo quando ela chega em África, foi uma coisa de falsidade. Nós transitamos do regime de partido único para o multipartidarismo por uma questão de sobrevivência dos próprios regimes", frisou.
Os regimes africanos "queriam dinheiro do Ocidente porque o muro de Berlim tinha caído. O bloco socialista ficava sem meios para sustentar esses regimes. Renderam-se ao Ocidente e aderiram a esse movimento de realizar eleições e por aí fora, mas não foi na vontade de transformar as sociedades africanas em sociedades abertas", sublinhou.
"Foi mais uma questão de sobrevivência. Ou seja, nunca houve um compromisso real", concluiu.
O colóquio, organizado pelo portal eletrónico Buala, contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e decorreu na Biblioteca Nacional.