"Mas é no actual e corrente ciclo, mais do que em qualquer outra época, que se nota uma maior e clara degenerescência do sistema político nacional e até, do regime, suas políticas e nomenclatura que o sustenta", referiu o presidente da UNITA, na abertura da conferência sobre geopolítica e segurança nacional, organizada pelo "Governo Sombra".
"Só um cego não vê que o Executivo do MPLA deixou de cumprir com um dos pressupostos legais que consiste na responsabilidade constitucional de garantir e consolidar o Estado Democrático e de Direito em Angola", acrescentou.
Para o líder da UNITA, "deliberadamente, ou apenas por inépcia, o edifício da democracia angolana está claramente em grave crise e ameaça ruir".
"A clássica separação entre os poderes que constitui o pilar de qualquer democracia está a estilhaçar-se cada vez mais. O exemplo mais evidente é a imoralidade que campeia hoje no sistema judicial, onde os tribunais superiores e os respectivos magistrados se renderam ao regime de partido Estado e na sua maioria revelam-se marionetas do poder unipessoal do Presidente da República", lamentou.
De acordo com o principal líder da oposição, os governantes mostram uma postura de quem deixou cair o serviço e o conceito de servir, a todos e ao País, "e nos mais distintos segmentos da sociedade impera a incerteza, o desânimo e o desencanto perante uma realidade dura e uma desgovernação que depaupera o País e a todos expõe".
"Daí as múltiplas manifestações que vão sendo desencadeadas por diversos sectores sócio-profissionais, pelos jovens angolanos, reivindicando direitos e exprimindo anseios. Hoje muitos exprimem estarem fartos do sistema autocrático que cerceia as liberdades e garantias fundamentais constitucionalmente previstas", argumentou.
Referiu que a segurança do Estado é com efeito um elemento primordial para a defesa e salvaguarda dos interesses estratégicos nacionais, tendo sempre, em última instância, a manutenção da inviolabilidade do território e a garantia das aspirações materiais e espirituais do povo angolano.
"Angola ocupa uma posição privilegiada em termos geopolíticos e geoestratégicos, por isso, não tenhamos ilusões, Angola suscita cobiças diversas no cenário internacional", avisou, acrescentando que não é avisado que a sua governação seja deixada aos caprichos e humores das nossas preferências e divergências político-partidárias.
Segundo o presidente da UNITA, decorreram duas décadas desde que o País alcançou a paz, sendo assim incompreensível que se tenha delapidado, "de forma irresponsável e em prejuízo das actuais e futuras gerações", os recursos financeiros que lhes teriam permitido retornar à condição de auto-suficiência alimentar.
"Não faz sentido que, com o grande e benfazejo potencial hídrico e agrário de que Angola dispõe, continuemos a importar alimentos que poderiam ser produzidos localmente. O que é feito do planalto central, que já foi o celeiro de Angola? Onde está o grémio do milho, que além de alimentar os angolanos também enriqueceu, honestamente, os empreendedores dessa área? As principais cidades de Angola foram erguidas com receitas das exportações de café, algodão e outros produtos do campo", precisou.
Na sua opinião, o Governo angolano deixou-se adormecer na ilusão de que exclusivamente com o petróleo se pode obter riqueza para construir tudo e, até, para criar uma classe empresarial nacional.
"O regime levou a má governação, adensada por uma estrutura corrupta, venal e decrépita, ao extremo de obrigar agora o País a ter não só de vender os anéis, mas possivelmente, também, os dedos, se tão clamorosos erros de governança persistirem", lamentou, frisando que o desastre está mais do que evidente na situação de insolvência (bancarrota) a que o MPLA conduziu e está a conduzir o País.
"Infelizmente, atingimos os níveis de decadência e descalabro que se observam nos dias de hoje apenas por incúria governativa. Por falta de sabedoria na gestão da coisa pública. A mendicidade aumentou exponencialmente, atingindo comunidades e famílias inteiras em zonas onde não se imaginava que isso pudesse ocorrer", disse.
O líder da UNITA falou igualmente sobre fundamentalismo religioso como uma putativa ameaça à segurança nacional, frisando que pela sua natureza e sensibilidade, constitui um tema para ser abordado com pinças e sem alarmismos.
"A religião é um fenómeno intrinsecamente humano que define crenças, hábitos e vivências díspares entre as pessoas de uma mesma sociedade, num quadro de tolerância e liberdade religiosa que a nossa Constituição acolhe nos seus artigos 10º e 41º. Mas esta laicidade não significa que não nos devamos preocupar que o País tenha, presentemente, um excessivo número de denominações religiosas, igrejas, seitas, enfim o que quer que seja, sem serem suportadas por uma doutrina teológica", disse.
Segundo Adalberto Costa Júnior, é dado adquirido que entram no território nacional muitas denominações de índole duvidosa e elas têm comprovadamente desenvolvido uma acção perniciosa para a vida normal na sociedade angolana, chegando a destruir famílias inteiras ao inculcar-lhes valores completamente estranhos e que vão contra a identidade cultural angolana.
"Isto deve-nos preocupar. Não somos anticlericais, mas temos de ser realistas em relação à questão do actual florescimento anárquico das religiões em Angola", sublinhou
"A despeito de todo o actual panorama desesperante e susceptível de abafar qualquer sentimento de esperança, a UNITA e os angolanos não devem desistir de lutar pela mudança e pelo futuro com todas armas de uma política honesta, credível e ética, mas sobretudo patriótica", concluiu. NJ