O Presidente angolano, João Lourenço, encontrou-se na terça-feira (26.07) com o embaixador norte-americano Tulinabo Mushingi para falar sobre o reforço dos laços diplomáticos entre Angola e os EUA.
À saída do encontro, Tulinabo Mushingi teceu elogios a João Lourenço por ter desencadeado uma série de "reformas políticas, democráticas e sociais", que têm "produzido resultados positivos".
"Sou novo, mas posso dizer que só não vê quem não quer ver, porque há uma diferença, que se pode sentir", salientou o diplomata norte-americano. "Podemos reconhecer este positivo, enquanto continuamos a criticar ou melhorar o que não gostamos. Mas [é preciso], pelo menos, reconhecer o que é positivo e continuar a trabalhar no que podemos melhorar em conjunto."
O encontro com João Lourenço, no Palácio Presidencial da Cidade Alta, serviu não só para abordar questões de natureza económica entre os dois países, mas também para formular o convite do Presidente Joe Biden ao homólogo angolano para a participação na Cimeira EUA-África, em dezembro próximo.
Porque não depois das eleições?
A postura da embaixada dos Estados Unidos está a ser alvo de condenação nos mais diversos setores da sociedade, principalmente entre os partidos na oposição.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) lamenta que o embaixador norte-americano se tenha pronunciado naqueles termos a menos de um mês das eleições gerais em Angola.
"Nós estamos no fim de um ciclo, no fim de um mandato, e os governos mantém relações com outros governos. Por isso mesmo, numa fase destas, penso que é mais prudente que alguns pronunciamentos se façam, sobretudo, depois das eleições", disse o secretário para Relações Exteriores da UNITA, Rafael Massanga Savimbi.
Diante da polémica instalada, a DW África contactou a embaixada dos Estados Unidos, em Luanda. Um oficial reconheceu que o embaixador terá ido além das declarações previstas, mas adiantou que, de momento, a Embaixada decidiu não se pronunciar mais sobre o assunto.
Política interna é política interna, cooperação é à parte…
A analista de relações internacionais Emília Gorete Pinto refere que uma coisa é política interna, outra coisa são negócios e o reforço da cooperação entre os países.
"Essas declarações são o reflexo daquilo que são os programas da política externa norte-americana destinados aos países africanos", diz Gorete Pinto em declarações à DW África.
Segundo a analista, as reformas que o Presidente João Lourenço tem feito nos últimos cinco anos para melhorar o ambiente de negócios no país também têm sido do interesse dos EUA.
"É importante que a política incida sobre reformas, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista económico. Não podemos nos esquecer que o Governo norte-americano, sob o comando de Joe Biden, segue uma política democrática, onde pressupõe a manutenção do sistema político, como também todas as atividades económicas."
Embaixador na qualidade de "cabo eleitoral"?
Mesmo assim, Evaristo Mulaza, diretor do semanário Valor Económico, diz que as declarações do embaixador foram "infelizes".
"Ao dar nota positiva a esta alegada agenda de reforma, num momento em que o país se encontra em plena campanha eleitoral, o embaixador colocou-se quase na qualidade de um cabo eleitoral", comenta o jornalista em declarações à DW África.
Por outro lado, "quando fez referências a reformas políticas no sentido da democratização, com resultados positivos, isto é, no mínimo, de quem eventualmente não percebe onde está ou de quem estará motivado por interesses completamente estranhos", acrescenta o jornalista.
A DW África contactou Manuel Augusto, secretário do Bureau Político do MPLA para as Relações Internacionais, mas não foi possível obter uma reação até ao fecho da reportagem. DW África