Em declarações à Lusa, Reginaldo Silva que conheceu José Eduardo dos Santos em Brazaville (Congo) em 1974, ainda antes da independência e deste ser Presidente, sucedendo a António Agostinho Neto, afirmou que “ninguém pode ser indiferente” ao seu legado, por ter alcançado a paz, em 2002, na sequência da morte de Jonas Savimbi, líder da UNITA, que durante 30 anos combateu as forças governamentais do MPLA.
“Ninguém lhe pode tirar esta medalha do peito, por ter conseguido uma paz que tanto custou e que tanto estava a dificultar o presente e o futuro dos angolanos", considerou.
Afirmou que José Eduardo dos Santo ganhou “todas as batalhas que havia para ganhar na sua trajetória enquanto politico enquanto dirigente máximo de um país”, sublinhando que depois de derrotar a UNITA teve toda a oportunidade de tornar Angola no país que todos desejavam, mas tal não aconteceu, apesar de ter tido todos os recursos, sobretudo a paz, mas também recursos financeiros
“Não esteve à altura de transformar tantos recursos num estado melhor de desenvolvimento e sobretudo de erradicação da maior dificuldade que é a pobreza extrema, o tecido social angolano continua marcado por uma percentagem muito grande de angolanos que vivem mal” e “podia ter feito muito mais”.
Teve ainda a agravante de “no tempo das vacas gordas”, o seu consulado ter ficado marcado pelo desvio dos recursos públicos para bolsos privados do seu círculo próximo e familiar, criticou.
“Na gestão económica e social do país, o presidente angolano e o seu governo não estiveram nada bem, sobretudo em matéria de recursos públicos desviados para bolsos privados e para fora do país e que não ajudaram a desenvolver o país”, avaliou.
Sobre o impacto da morte para MPLA, que se encontra em fase de pré-campanha eleitoral para as eleições gerais de 24 de agosto, considera que será sobretudo negativo, devido às relações tensas entre o presidente do partido e Presidente de Angola, João Lourenço, e as filhas mais velhas do ex-chefe de Estado.
“Admite-se que esta morte venha a ter um impacto negativo sobre a campanha de João Lourenço explorada quer pela oposição, quer por tendências dentro do próprio MPLA”
“Digamos que foi a pior altura que José Eduardo dos Santos escolheu para morrer”, reforçou, destacando que vai haver questões para resolver em termos do funeral, que vai ter de ser gerido também com a família.