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Quinta, 01 Julho 2021 10:36

O que está por trás da exoneração da governadora de Luanda?

Com menos de um ano de gestão, Joana Lina é exonerada e dá lugar a Paula de Carvalho no Governo de Luanda. Analistas creem que saída de Lina não ocorre somente pelo "caos do lixo" em Luanda. O problema seria sistémico.

Depois de duras críticas da sociedade à governação de Joana Lina, o Presidente João Lourenço exonerou a governadora de Luanda esta quarta-feira (30.06). Lina não resistiu ao caos provocado pelo lixo em Luanda - base do surto de malária que continua a causar várias mortes e abarrotar hospitais, morgues e cemitérios.

A ex-governadora é acusada de falta de transparência no processo de seleção de empresas que fariam a gestão do lixo.

Para o seu lugar, o João Lourenço nomeou Ana Paula Chantre Luna de Carvalho, antiga secretária de Estado para o Ordenamento do Território. É a terceira vez que uma mulher assume o Governo de Luanda. Paula de Carvalho é o quarto nome a ocupar o Palácio do Governo Provincial durante a governação de João Lourenço – sucedendo Adriano Mendes de Carvalho, Sérgio Luther Rescova e Joana Lina.

Decentralização é solução?

Em declarações à DW África, o secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) na cidade de Luanda, Nelito Ekuikui, disse que os problemas da capital angolana não se resolvem com exonerações.

"A exoneração da agora ex-governadora de Luanda só vem demonstrar a instabilidade governativa no âmbito central e no âmbito da província de Luanda. Os problemas de Luanda não se resolvem com uma exoneração e nomeação de uma outra figura. O problema de Luanda resolve-se descentralizando o poder", afirmou Ekuikui.

O membro do maior partido da oposição defende mais uma vez a implementação das autarquias, pois, na visão da UNITA, só este modelo de governação poderá minimizar os problemas da metrópole. "Luanda é daquelas províncias que precisa realizar eleições autárquicas com urgência para conferir poder ao nível dos municípios. Esta é a nossa visão. O problema não é a governadora Joana Lina nem a [pessoa] que agora entrou", sublinhou.

"Dança das cadeiras"

Para o secretário-executivo para Informação e Marketing da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral​ (CASA-CE), João Nazaré, a exoneração chega tarde. O representante do segundo maior partido de oposição de Angola diz que Joana Lina nunca mostrou competências para a gestão depois da sua passagem pela província do Huambo.

"Sabíamos que era impossível, a senhora Joana Lina protagonizar uma governação de belo efeito em Luanda - quando tinha sido exonerada do cargo de governadora da província do Huambo por incompetência, por má governação. Portanto, era impossível que ela chegasse em Luanda e fizesse o melhor", critica Nazaré.

O porta-voz da CASA-CE também defende a descentralização, porque, segundo ele, a "dança de cadeiras” promovida por João Lourenço não vai resolver os dilemas dos habitantes de Luanda.

"Luanda sempre foi governada a partir do centro, a partir da Cidade Alta. Não acredito que, com tantas interferências que a governação central tem sobre a gestão de Luanda - um problema que já havia sido levantado pelo então governador Sérgio Luther Rescova, falecido - a nova governadora consiga minorar os problemas", disse.

"Espetáculo patético"

Por seu turno, o ativista e investigador social Nuno Álvaro Dala diz que não espera nada de novo com a indicação da nova governadora Paula de Carvalho.

Dala acredita que a melhoria da vida dos cidadãos passa necessariamente por outras formas de governação e desconfia que a nova governadora também terá os dias contados no cargo. O ativista defende a força das autarquias na gestão pública.

"Enquanto não houver autarquias, enquanto Luanda e as demais províncias sobretudo Luanda, não estiverem autarcizadas - e uma autarcização que esteja à altura dos desafios e das complexidades de Luanda - é evidente que vamos continuar assistir a este espetáculo patético".

Dala critica o facto de uma governadora "mal conseguir aquecer os bancos da província" ser exonerada para dar lugar a "outra figura que acaba por viver a mesma sorte". Joana Lina não completou um ano à frente do Governo Provincial. "Significa que não há razão para esperarmos que a nova governadora fique mais tempo do que a governadora ainda em exercício", completa Dala. DW Africa

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