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Sexta, 18 Setembro 2015 14:07

Política Angolana nos caminhos sinuosos

Em Angola há uma mala vazia de ideias Em Angola há uma mala vazia de ideias

A situação política angolana está a evoluir para caminhos sinuosos, alguns dos quais irão ter a becos sem saída.

Na realidade, do ponto de vista político, a única força com capacidade para controlar e reagir a algum imprevisto é o MPLA. As outras forças políticas vivem muito das migalhas que o “homem da mala” vai distribuindo. Não podemos deixar de salientar o facto de ex-dirigentes da UNITA partilharem do bolo feito para a elite capitalista, considerada indispensável à organização da sociedade.

A mala tendo vindo a ser cheia com o dinheiro obtido, sobretudo, na venda do petróleo, cujo preço, entretanto, despencou. As previsões para essa queda são trágicas; 20 USD por barril.

Sem ter ainda chegado aí, o esvaziamento da mala anuncia-se como o pretexto para rever a evolução futura de Angola.

É curioso que essa revisão comece com uma viagem ao passado: a sétima irmã de Agostinho Neto, cujo 36º aniversário da sua morte de assinalou a 10 de Setembro, quer explicações sobre as verdadeiras razões da morte do seu irmão, considerando muito estranho que o então presidente de Angola tenha saído de Angola a falar e tenha deixado de o fazer na presença dos médicos soviéticos.

Angola representa actualmente uma sociedade consumista, com um único valor que, globalmente, respeita: o dinheiro. Por esta razão, o homem da mala é bajulado pelas elites que alimenta, que, por sua vez, são bajuladas por uma outra camada de gente rica e por aí fora, até chegarmos a uma maioria de habitantes que vivem na mais vergonhosa miséria e nem sequer sabem que existe uma mala que devia pertencer a todos.

Há também os que, sabendo de tudo isto, não percebem por que razão os muitos e reais recursos naturais de Angola não são explorados, transformande-se num país de monocultura – a do petróleo.

Sabe-se o que acontece aos países que vivem de monoculturas. Angola não é excepção e nem as relações entrelaçadas com a China, Banco Mundial, FMI, Estados Unidos, vão ajudar a resolver o problema. Até porque parte dos tais recursos já estão a ser entregues aos financiadores das perdas da mala.

Mais do que saber, os Angolanos cheiram a mala vazia – até porque já não há dinheiro para pagar aos hospitais e os seus fornecedores anunciam que vão deixar de entregar mercadoria, se não foram pagos dos grandes atrasos que já se verificam nos respectivos pagamentos.

Simultanemanete a tudo isto ocorre um movimento de contestação contra o Presidente JES e há 15 jovens presos, aparentemente porque promoviam reuniões políticas. O Tribunal acaba de recusar-lhes a concessão de um Habeas Corpus.

A pergunta da irmã de Agostinho Neto vai ter repercussão nos que podem adivinhar nesta pergunta uma insinuação quanto à sua sucessão, embora o actual presidente – que o é desde então – tenha sido uma terceira escolha.

Mas foi ele que construiu a ilusão de que um dia toda a gente podia chegar à mala.

Esta mala amarrou o Estado angolano a uma fórmula única: centralização total, controlo absoluto. Angola tinha um milhão de maneiras de ser construída, mas nasceu da ideia de partido único e, embora pareça que o regime mudou, não; a mala manteve tudo na mesma – em algumas circunstância, muito pior, porque deixou de acorrer aos que não lhe tinham acesso.

Com a mala vazia, a ieologia da centralização e do controlo vai ser seriamente ameaçada e um fenómeno que poderia ter sido programado ao longo de quarenta anos( uma regionalização comedida, a tender para autonomias sólidas, com força para suportarem um estado forte mas não centralizado) pode começar a acontecer de forma incontrolada, com muita gente à procura da sua própria mala e sem pensar que a mala também está vazia de ideias.

Por Leston Bandeira

AM

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