Segunda, 01 de Dezembro de 2025
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Domingo, 30 Novembro 2025 22:18

O Batom do Poder. Vergonha que África já não pode esconder.

Em menos de seis meses, o continente africano voltou a ser palco de acontecimentos que mancham a sua promessa de progresso democrático. Manifestações sangrentas explodiram em diversos países, alimentadas pela teimosia de líderes que insistem em se perpetuar no poder, mesmo à custa de vidas humanas. O que deveria ser o exercício sagrado da cidadania transformou-se, novamente, em um ritual de dor, medo e luto.

África, um continente vibrante e cheio de esperança, parece presa ao doce batom do poder – viciante, sedutor e capaz de transformar líderes em prisioneiros de seus próprios desejos. A busca insaciável por permanência leva à erosão das instituições, à manipulação das leis e à violação dos direitos dos próprios povos que colocaram esses líderes no trono.

O episódio recente na Guiné-Bissau é mais um capítulo doloroso dessa história repetida. Uma encenação mal disfarçada, que não exige um diploma universitário para ser compreendida: um simulacro de golpe, um teatro político que insulta a inteligência dos cidadãos. Em vez de estabilidade, produziu mais incertezas; em vez de transparência, semeou desconfiança; em vez de lideranças visionárias, expôs novamente a fragilidade das nossas democracias.

Que vergonha, África. Não pela sua gente, resiliente, lutadora e sempre esperançosa. Mas pela liderança que, demasiadas vezes, escolhe o caminho da ambição pessoal ao invés da responsabilidade coletiva. Cada vida perdida em protestos poderia ser evitada. Cada mentira política poderia ser substituída por verdade. Cada manobra de poder poderia ser convertida em oportunidade de crescimento nacional.

O continente merece melhor. Merece líderes que compreendam que o poder é um serviço e não uma herança vitalícia. Merece governos que respeitem a Constituição e as aspirações do seu povo. Merece, sobretudo, paz e dignidade.

África está cansada de encenações, de golpes mascarados, de democracias apenas no papel. É tempo de rasgar o véu da vergonha e caminhar com verdade rumo a um futuro onde ninguém precise morrer para exigir o óbvio: respeito pelos direitos humanos, alternância pacífica e governos comprometidos com o bem comum.

O doce batom do poder já não pode continuar a esconder as rachaduras profundas que insistimos em ignorar. É hora de escolher outro caminho – um caminho de coragem, honestidade e verdadeira transformação.

Por Rafael Morais

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