Sábado, 08 de Novembro de 2025
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Sábado, 08 Novembro 2025 17:30

Amistoso entre o luxo e a miséria

Há gestos que dizem muito sobre um país. Há decisões que revelam mais do que discursos inteiros. O convite da seleção Argentina para jogar em Angola partiu de Angola, e não o contrário é uma dessas decisões que escancaram a contradição entre o luxo do poder e a miséria do povo.

Em qualquer país com uma justiça séria e instituições independentes, o Ministro da Juventude e Desportos já estaria a prestar esclarecimentos. Mas estamos em Angola, onde a mentira política virou esporte nacional. Dizer publicamente, na TV Zimbo, que foi a Argentina quem escolheu Angola para um amistoso é subestimar a inteligência de trinta milhões de cidadãos.

O problema é que nós também temos memória e acesso à televisão. Todos ouvimos o presidente do MPLA, em novembro do ano passado, dizer com orgulho:

“Convidamos a seleção desse gigante do futebol mundial, por todos nós conhecidos, Diego Maradona e Lionel Messi para vir a Angola no próximo ano jogar contra os nossos Palancas.”

Palavras claras. Convite feito. Nenhuma dúvida. Angola, mergulhada em pobreza, foi quem estendeu a mão ao luxo Argentino. O resto é teatro político mal ensaiado.

O novo argumento de que Angola planeava um quadrangular para celebrar a Independência e que a Argentina manifestou interesse em jogar em África soa a ficção mal contada. É uma tentativa de reescrever a história para transformar o anfitrião em convidado. A lógica não colhe. É insultuosa.

E aqui fica a pergunta que ecoa nas ruas, nos cafés e nas redes sociais, quanto custou esta brincadeira? Porque o dinheiro não caiu do céu. Saiu do bolso de quem trabalha, paga impostos e sobrevive num país onde os hospitais não têm medicamentos, as escolas estão em ruínas e o salário mínimo mal paga uma cesta básica de facto.

Enquanto isso, o ministro Rui Falcão continua em silêncio o silêncio confortável de quem deve desculpas públicas a uma nação inteira. E o senhor Bento Cangamba, que disse estar disponível com milhões de dólares para o jogo, parece mover-se num universo paralelo, onde o sofrimento do povo é mera estatística.

O mínimo que se espera é uma investigação séria da PGR. O povo angolano merece saber a verdade, quem pagou, quanto se pagou e quem lucrou com o espetáculo.

Porque, no fim, este amistoso não é entre Angola e a Argentina. É entre o luxo e a miséria, a verdade e a mentira, os privilegiados e os esquecidos. E, até agora, a miséria continua a perder por goleada.

 

Somos cidadãos conscientes. Pensamos com a nossa própria cabeça. E já não aceitamos ser tratados como figurantes no teatro da mentira. Por favor fazem um minimo esforços de respeitarem-nos.

Por Rafael Morais

 

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