Segunda, 06 de Mai de 2024
Follow Us

Domingo, 04 Janeiro 2015 21:42

Bem-vindo 2015, Bem-vindo austeridade

São poucas as vezes que não nos sentimos aborrecidos quando nos despertam às pressas de um profundo sono. Cheguei à conclusão que, às vezes, somos mais felizes quando estamos a dormir e temos a possibilidade de sonhar com coisas boas, o que tem acontecido com pouca frequência, provavelmente devido às experiências que vivemos na vida real.

Ainda assim, preferia estar a dormir, dada a possibilidade quase presente de ter à vista uma realidade mais agradável, longe daquela a que estamos habituados.

Nos últimos dias, sempre que durmo, espero ansiosamente que o sonho seja o mais real possível, como por exemplo um em que estivesse a elaborar uma lista sobre como sobreviver em 2015, depois dos largos conselhos que nos têm sido dados de que será o ano das vacas magras, que não sei como é que irão sobreviver ao aperto do cinto que dizem ser necessário.

De qualquer modo, como se já estivesse a sonhar com 2015, apeteceu-me elaborar uma hipotética lista que teria de impor ao parco orçamento para que o ano que se avizinha fique mais facilitado.

Se a causa da desgraça é o combustível, porque o nosso Orçamento Geral de Estado continua baseado no petróleo, cujo preço está aquém dos 81 projectados pelo Executivo, então também terei de cortar aqui. Só pode ser um contra-senso. Cortar logo naquilo que está mais barato só pode lembrar o Tio Patinhas, mas não há outra solução quando ainda somos movidos a energia de gerador lá no bairro e nem sei se a situação se vai alterar significativamente nos próximos dias, apesar de uma ligeira melhoria.

Se calhar, devo enviar uma missiva a algum responsável no sentido de repor a subvenção do combustível, porque as medidas tomadas estarão a doer muito mais no bolso do pacato cidadão, enquanto os que ganham mais continuam a beneficiar de um vale para ter acesso escancarado aos derivados do crude.

Mas, deixa estar. Com ou sem combustível para o gerador a vida prossegue, até porque os índices de malária baixaram e a falta de energia pode não incomodar tanto.

O mesmo não se pode dizer em relação a água. Ainda não sai nas torneiras, dois anos depois de termos visto metade do bairro escavado profundamente. Isso nem pesou na consciência daqueles que todos os dias falam de tantas ligações, como por exemplo as 700 mil domiciliares. Nunca os ouvimos dizer que lá para as bandas do Km 9, os chineses que estavam a construir a estação de água para as tantas ligações há muito que cruzaram os braços. Antes mesmo do dito aperto por causa do preço do crude.

Mesmo assim alguém se lembrou de eleger a EPAL como sendo uma das 10 melhores empresas do país para se trabalhar, não obstante o fantasma da greve que assola esta instituição todos os anos e nesta ponta final a maioria dos luandenses serão obrigados a ficarem sem o precioso líquido.

Se não quiserem, então que regressem à fórmula original, que iria em contramão com a austeridade que cada um de nós está obrigado a fazer.

Na alimentação não haveria muitos cortes. Mesmo que o fizesse poderia cometer graves erros, porque de um total de mais de mil produtos que entram no país, a maioria não tem qualidade para ser consumida. Não se trata de uma invenção minha, foi um alto responsável do Ministério do Interior que forneceu estes dados, acreditando eu que se deve ter esquecido de consultar os investigadores da Bromangol e os do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, ali nas imediações da FILDA.

Então, melhor será jogar na loteria, entre as várias quantidades de bens perecíveis e não só, que existem. Porque algumas mudam de imagem, como uma conhecida galinha rija que esteve a ser ostracizada, mas que agora ocupa as principais parangonas publicitárias do mercado.

A saúde e a educação estão salvaguardadas, à luz dos pronunciamentos dos titulares destas pastas. Vai haver mais salas de internamento e de aulas, tanto no Iº, IIº ciclo e no ensino superior. Desta vez, não haverá censo para se poupar um mês de propinas, por isso o melhor é ter sempre mais algum dinheiro para o caso de existir alguma paralisação. Mesmo que exista, cada um faz o que bem entender e não há ministério que trave os apetites dos colégios, universidades, como acabou por acontecer este ano lectivo.

Dizem que o dinheiro fala sempre mais alto! E também que o ministro prometeu multar os prevaricadores… E que continua tudo na mesma.

Há um outro custo que não vale a pena descurarmos, o das peças sobressalentes. Se quando houve o boom do petróleo algumas estradas não foram reparadas, o que poderemos esperar das enxurradas do próximo ano? Por isso, guardar alguns tostões para os rolamentos, rótulas e outros acessórios será imperativo.

Não sei se cortaria nas despesas das férias. Como sempre as gozei aqui mesmo, não sei se valeria a pena. Mas, para os dirigentes que o fazem extensivamente no exterior, não seria nada mau se tivesse chegado a vez de Angola – e assim alavancariam o adormecido sector do turismo e teríamos melhores indicadores para falarmos na diversificação da economia e o crescimento deste ramo no próximo ano.

Assim poderá ser a vida de muitos bons angolanos. Espero que os outros também se apressem a encontrar melhores formas para apertar os cintos, porque 2015 está à espreita. Bom ano a todos.

Por Dani Costa

OPAIS

Rate this item
(0 votes)