Por Emmanuel Mboco
Os partidários da elite angolana têm divulgado sobre como Angola irá se desenvolver com a forma como é administrada hoje a via férrea do Lobito, todavia estes esquecem-se de uma lição importante da história, a do Canal do Panamá.
Existe na América Central um país pequeno, mas com um importante canal que permite a navegação entre os oceanos Pacífico e Atlântico – o Panamá. Assim como a via férrea do Lobito, esse canal é um dos maiores projetos de engenharia da história já registadas no mundo e data do início do século XX, de 1903, época em que os americanos, assim como fazem Angola, diziam apoiar a independência do pequeno país latino americano, no caso em relação à Colômbia, um dos maiores países da América do Sul, isso porque a Colômbia não estava interessada em transferir os direitos de construção do canal para os ianques. Esse projeto chegou a custar cerca de US$ 375 milhões, valor que incluía até mesmo questões de segurança no trabalho, para evitar a mortalidade de operários que trabalhavam no projeto (o que por enquanto é apenas um sonho para quem trabalha na via férrea do Lobito).
Mas toda a “boa vontade” americana em prol da liberdade e da democracia escondia um objetivo cínico – o controlo total do Canal do Panamá, situação que só começou a se reverter em 1977, num acordo que somente em 1999 garantiria ao Panamá o controle completo do Canal. Hoje, o presidente eleito Donald Trump, alegando que o dinheiro gasto foi dos Estados Unidos, tomou a decisão de recuperar o controlo do canal mais de um século após a sua construção, mais de 40 anos após a assinatura de um acordo com o Panamá e mais de 20 anos após a sua devolução. Para aqueles que estudam a história e abstraem dela suas lições, fica mais do que evidente que para os Estados Unidos da América, o que importa são os interesses e ambições de uma determinada administração, que aliás não deixou de fora de sua pretensa “esfera de influência” nem mesmo seus aliados da OTAN como a Dinamarca, que controla a ilha da Groenlândia.
Agora o que dizer de um país como Angola, será mesmo que a atual administração acredita que os americanos não irão exigir seus mais de 550 milhões de dólares obtidos com a assinatura de acordos após a vinda de Joe Biden?! E agora que a questão do petróleo levanta mais e mais problemas após a guerra da Ucrânia, o que impede Donald Trump de exigir o pagamento dos milhões investidos por meio de barris de petróleo?
As interacções das elites angolanas com as elites Ocidentais precisam ser seriamente questionadas e repensadas antes que Angola, que agora comemora os 50 anos de sua independência, se torne uma republiqueta no estilo da América Central.