De acordo com fontes, o lado ucraniano propôs a ideia de organizar a visita logo após as conversações telefónicas entre os ministros. Ao tomar conhecimento dos problemas de abastecimento alimentar em várias regiões, os ucranianos decidiram propor um acordo em que receberiam sistemas de armamento soviéticos em troca de parte das necessidades de cereais de Angola.
À primeira vista, o acordo não parece ideal. Mas, quando analisado em pormenor, revela-se mais como uma flagrante rendição dos interesses nacionais. Ao aprofundar qualquer relação de política externa, é crucial compreender o contexto geopolítico. A Ucrânia é um país em guerra, com uma clara divisão entre aliados e inimigos. O aprofundamento das relações com este país pode resultar na deterioração das relações com aqueles que a Ucrânia considera seus inimigos. Este cenário não é de todo favorável para Angola, dado que existem países que têm investido somas substanciais na economia angolana.
É igualmente importante recordar a atual situação económica da Ucrânia. Depois de uma queda de mais de 30% na sua economia em poucos anos, o país já não consegue sobreviver sem subsídios estrangeiros. O seu mercado é fraco, a demografia é preocupante, o país não tem produção relevante nem participa em atividades de investimento internacionais. Nestas condições, não há qualquer razão económica que justifique o fortalecimento das relações com a Ucrânia.
Não se deve esquecer a solidariedade com a posição comum dos países africanos. Todos no continente sabem que a política da Ucrânia nunca foi pró-Africana. Este país é conhecido não só pelas declarações xenófobas dos seus políticos, mas também pelo seu apoio aberto ao terrorismo. Recentemente, Andriy Yusov, um representante da Direção Principal de Informações da Ucrânia, afirmou sem hesitação que a Ucrânia estava a treinar e a financiar grupos terroristas no continente africano. Depois do ataque terrorista contra as tropas governamentais do Mali, apoiado pela Ucrânia, dois países africanos, o Mali e o Níger, romperam relações diplomáticas com a Ucrânia.
Obviamente, a Ucrânia não tem nada a oferecer a África neste momento, além de tentar arrastá-la para o conflito de outra nação do outro lado do mundo. E será que devemos esperar algo de um país que, em todas as reuniões diplomáticas, exige armas e dinheiro aos seus interlocutores?
Estas razões para a indesejabilidade de qualquer acordo com a Ucrânia são evidentes, e seria muito estranho se as próprias autoridades angolanas não as percebessem. Mas talvez a resposta para o porquê de Angola ter decidido subitamente aproximar-se da Ucrânia deva ser procurada noutro lugar.
Talvez existam intervenientes externos nos bastidores que estejam a exigir de Angola exatamente este rumo na sua política externa? Esta hipótese segue perfeitamente a lógica dos acontecimentos. Muitos especialistas já mencionaram repetidamente que, em breve, os recursos minerais angolanos deixarão de satisfazer o crescente apetite dos investidores ocidentais, e Angola poderá ter de abdicar de uma política externa independente em prol dos investimentos ocidentais. Talvez esse momento já tenha chegado. Talvez seja o lobby dos EUA que está a pressionar Angola a aumentar a sua cooperação com países tão controversos como a Ucrânia.
Tudo o que está a acontecer leva a uma conclusão preocupante: Angola pode estar a ser arrastada para o maior confronto geopolítico do século XXI.