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Terça, 09 Dezembro 2014 15:00

As agressões e os agredidos

Um hotel de Luanda foi palco de uma conferência sobre a “questão de Cabinda”. Os organizadores convidaram quem quiseram e os conferencistas disseram o que sabem, o que pensam que sabem e o que não sabem, inventaram ou repetiram as mentiras que apesar de mil vezes repetidas nem por isso passam a ser verdade.

O principal conferencista, tratado com reverência por doutor, questionado por quem queria saber alguma coisa, disse alto e bom som, com todas as letras e sem gaguejar, que é a favor da Independência de Cabinda.

E esticou um pouco mais a corda, afirmando que “os cabindas estão prontos para a independência”. O debate foi animado e no fim cada qual foi para sua casa, em paz e sossego.

Um dos organizadores da conferência fez uma denúncia pungente: a Polícia bate em manifestantes. Outro disse que o problema de Cabinda se resolve, mudando o governo. Só se esqueceu de  acrescentar “com eleições”.

No local, bem frequentado, estavam jornalistas, deputados, um padre excomungado e membros de sociedades abertas, fechadas e entreabertas.

Todos ouviram, sem um sobressalto, o doutor conferencista dizer que é pela independência de Cabinda, uma província de Angola com pouco mais de 520 mil habitantes.

Se este acontecimento tivesse ocorrido em Madrid, ia tudo preso por suspeitas de pertencer à ETA. Em Paris eram algemados e atirados para uma masmorra. Depois a Polícia ia saber se algum conferencista era a favor da independência da Córsega. Na Alemanha levavam com uma qualquer Gestapo em cima. Que ninguém ouse falar em independência. Os bávaros podem acordar!  Nos países bálticos eram embalsamados. na Ucrânia levavam  com um míssil do calibre daquele que derrubou um avião da Malásia. E nos EUA alguém disparava sobre eles a matar, sob o pretexto de que meteram a mão ao bolso para tirar um maço de cigarros.

Em Luanda, capital de Angola, nada aconteceu. Um doutor qualquer diz que é a favor da independência de uma província e leva palmadinhas nas costas dos amigos e assistentes.

Cabinda foi a província onde durante a luta armada de libertação nacional, o MPLA mais combateu as forças colonialistas. Quando o governador fascista, Themudo Barata, em Lândana, foi eleito presidente de honra da FLEC, o comandante Foguetão foi buscar o títere ao seu palácio e levou-o detido para o Maiombe.

No Ntó, em Novembro de 1975, poucos dias antes da Independência Nacional, morreram centenas de angolanos em defesa da pátria, quando Mobutu invadiu a província com um numeroso exército que tinha o objectivo de chegar à cidade de Cabinda e depois colocar no poder um qualquer chefe de uma qualquer FLEC.

O doutor da conferência sobre o “problema de Cabinda” agrediu milhões de angolanos patriotas e cuspiu nos nossos mortos que na província deram a vida pela pátria.

Os agressores não podem andar por aí a fazer o papel de agredidos. Pelo menos assumam a traição. Façam como Raul Danda que joga a três carrinhos e ao comer em tantos pratos, engorda a olhos vistos.

Por Àlvaro Domingos

Jornal de Angola

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