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Quinta, 07 Setembro 2023 17:44

Porquê esta epidemia de golpes de Estado em África?

A cada dia que passa, a imagem da União Africana (UA) continua a deteriorar-se ao ponto do ridículo. A instituição precisa de mudar o seu paradigma e optar por roupas novas. Chegou a altura de redigir uma nova carta que a obrigue a agir a montante.

Os comunicados da UA após cada golpe de Estado estão a tornar-se cansativos. Perante esta situação, tudo deve ser feito para a evitar. Parece-me que só uma governação consensual, independentemente dos resultados eleitorais, pode constituir uma abordagem viável de prevenção. Neste cenário, é pouco provável que o exército corra o risco de desestabilizar o país, sabendo que estará a lidar com um governo inclusivo, garantia de uma verdadeira paz social.

As condenações já não são suficientes para travar esta hemorragia. A União Africana deve trabalhar para encorajar os Estados membros a optarem por governos consensuais com um diálogo permanente, com o objetivo de envolver um grande número de cidadãos na procura de soluções para os problemas que os vários países enfrentam. É preciso ter em conta que o princípio orientador deve ser o de tirar o continente do subdesenvolvimento.

Em África, a governação exclusiva ou a alternância política mostraram os seus limites, com exceção de Cabo Verde.

É evidente que é necessário um modelo de governação diferente.

Na Suíça, por exemplo, a governação consensual contribui enormemente para a manutenção da paz social, para não falar da participação permanente dos cidadãos no processo de tomada de decisões através de iniciativas populares que, geralmente, conduzem a referendos. O risco de um golpe de Estado é praticamente inexistente, embora um país como a Turquia tenha sofrido uma tentativa.

Noutros países, o respeito pelos limites dos mandatos, que na maioria dos casos só podem ser renovados uma vez, é um fator essencial para o bom funcionamento da democracia.

À luz do que está a acontecer neste momento, gostaria de apelar a uma reflexão aprofundada sobre o modelo de governação em África. Uma via a seguir seria a adaptação do modelo suíço às nossas realidades. A resolução de muitos dos problemas ligados ao subdesenvolvimento passa pela estabilidade política, que é suscetível de favorecer os investimentos e manter a paz social.

Ninguém pode afirmar que tem soluções para os vários desafios que o continente enfrenta excluindo uma grande parte da população. Um diálogo contínuo que transcenda as divisões partidárias deve permear as mentes daqueles que são chamados a liderar países.

Dois tipos de revisão constitucional são cruciais para o futuro:

- Uma que defenda a colegialidade no governo;

- Ou uma que exija o respeito rigoroso pelos limites dos mandatos, renováveis apenas uma vez.

Estas revisões devem ser validadas pelo povo através de referendos.

Finalmente, a União Africana deve começar a sua transformação integrando a nova situação na sua abordagem, para responder melhor às expectativas actuais dos africanos e, sobretudo, para restaurar a sua imagem.

Pody Mingiedi

Politólogo

Observatório & Análises da política angolana

Genebra, Suíça

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