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Quarta, 02 Fevereiro 2022 12:49

Em defesa de Rafael Marques - Sousa Jamba

No portal Maka Angola o activista Rafael Marques escreveu um ensaio que está a gerar muita discussão. O ensaio que afirma que o presidente João Lourenço falhou redondamente em concretizar as promessas de 2017, está a ser visto como uma espécie de reviravolta na opinião de Rafael Marques, que ultimamente tem sido acusado de estar a cantar do hinário do MPLA.

Rafael Marques afirma que o esforço de transformar o estilo de governação falhou porque os actores no poder permaneceram os mesmos — o que impossibilitou a superação dos vícios de sempre.

Rafael Marques escreve que o Presidente João Lourenço não tem uma visão clara para servir como um farol que poderia ajudar na estruturação do processo governamental; o poder, segundo ele, está concentrado numa só figura, resultando em arbitrariedades sugerindo um sistema à deriva. Rafael Marques lamenta que o Presidente João Lourenço não esteja rodeado de quadros competentes.

Para Rafael Marques, o presidente João Lourenço deveria ajudar na criação de um clima social onde os cidadãos seriam movidos pela necessidade de não só sobreviver mas avaliar livremente de como a sua sociedade deve ser gerida. Rafael Marques lamenta que a imprensa estatal, transformou-se numa caixa de ressonância de entidades que promovem uma certa narrativa que não ajuda na consolidação de um consenso nacional.

Em 2019, Rafael Marques e eu fazemos parte de um entidades que foram condecoradas pelo o presidente João Lourenço em virtude das nossas contribuições nos nossos sectores de trabalho. Nem todos viram bem esta iniciativa; no meu caso, fui insultado por membros da UNITA (que estavam convencidos que estaria agora a cantar hosanas a favor do MPLA) e de outros da praça Angolana que pensam que existiam no país jornalistas que mereciam muito mais tal condecoração.

Eu entendi a condecoração como um reconhecimento pela minha dedicação ao jornalismo; no Reino Unido, jornalistas, até da oposição, são condecorados com regularidade pelo estado. Claro que a iniciativa do Presidente João Lourenço de nós incluir na lista dos condecorados é altamente louvável; mas a nenhum momento isto significava que iríamos nos juntar às fileiras dos bajuladores. No meu caso, tal indignidade seria inconcebível!
Rafael Marques, aparentemente, teve iniciativas que, diz-se, gozaram da ajuda governamental. Se Rafael várias iniciativas em Angola de Rafael Marques já tiveram ajuda de vários apoios de governos ocidentais, não vejo porque razão ele não deveria aceitar ajuda do governo Angolano. O mais importante é ele não perder a sua integridade e capacidade de pensar livremente!

Em 2017, muitos de nós ficamos encantados pela retórica do presidente João Lourenço. No meu caso, há aqui postings em eu louvava abertamente certas proclamações do Presiente João Lourenço. O meu falecido irmão, Jaka Jamba, que faleceu em 2018, chegou até a me abordar sobre um posting em que eu louvava o João Lourenço. Eu disse ao Mano Jaka que, independentemente das nossas filiações partidárias, eu era um patriota Angolano que queria bem para o seu país; o João Lourenço parecia estar no caminho certo. Eu não era o único na UNITA que nutria alguma admiração por este Gorbachev Mwangole!

O romance foi azedando e eventualmente resultou numa decepção total. Eu vi a não concretização dos projectos de João Lourenço em câmera lenta porque estava todo este tempo em Angola e a viajar por várias partes do país. Eu vi a gritante discrepância entre a retórica e a verdade; eu vi, em Camacupa, um hospital a ser rapidamente limpo e doentes que estavam magros escondidos porque havia rumores que o presidente Lourenço iria visitar a instituição. Senti-me profundamente envergonhado naquele dia. Como o Rafael Marques escreveu, trata-se do mesmo pessoal e das práticas de sempre.

Eu viajei no interior da província de Malanje, onde camisolas rotas com as fotos do Presidente João Lourenço pareciam ser uma espécie de uniforme, mas onde havia aquela pobreza profundamente humilhante: crianças subnutridas; aldeias sem escolas ou hospitais; um desespero profundo. Havia uma elite no partido no poder para quem as posições de chefia eram um direito e para quem a prestação de contas não era uma obrigatoriedade; havia é uma rede de patrocínios — o administrador do município estava mais preocupado em estar bem com o governador da província porque é ele que lhe nomeava e o da província dependia do presidente da república. Cheguei a conclusão de que em Angola, com o MPLA, nunca haveria eleições autárquicas porque estas iriam destruir as estruturas de patrocínio que eram chaves para a sobrevivência do partido no poder.

A anulação pelo Tribunal Constitucional da eleição de Adalberto Costa Júnior como presidente da UNITA em Outubro de 2021 corroeu a minha fé na solidez das instituições Angolanas. Para muitos de nós, o Presidente João Lourenço nomeou a Juiz Laurinda Cardoso para tirar o Adalberto Costa Júnior fora do jogo para ter uma UNITA liderada por uma figura que ele facilmente venceria nas eleições. Para muitos de nós isto foi uma subversão do jogo Democrático, um sinal que o país eventualmente iria acabar numa ditadura típica Africana.

Rafael Marques escreveu o que muitos de nós percebemos há anos: o Presidente João Lourenço e o partido MPLA não são a solução para os problemas de Angola. A solução para a ossificação do sistema governamental é trazer gente com nova visão e habilidades para executar um programa radical e extenso. Há muitos Angolanos com talento, capacidade e prontidão para contribuir para o país mas que são marginalizados pelo sistema que vai apurando as suas práticas de exclusão e tacanhez.

Para nós na UNITA, a solução é o governo inclusivo e participativo liderado pelo Adalberto Costa Júnior. Isto implica uma abertura e prontidão para ouvir e avaliar vários pontos de vistas; isto implica estar bem consciente de que a solução para os problemas de Angola só virá com o diálogo e bom senso como o Rafael Marques está a sugerir…

Por Sousa Jamba

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