Entrementes, afigura-se importante que todos os Angolanos e Angolanas compreendem que não se trata apenas de um problema de ACJ, não se trata apenas de um problema da UNITA nem se trata apenas de um problema da FPU. O problema é todos e de todas que desejam alternância em Angola e a sua viabilização como país.
No século XXI, Angola testemunhou a realização de um eclipse total do Sol a 21 de Junho de 2001, ou seja, há 20 anos. O próximo eclipse total do Sol em Angola só terá lugar em 2041. No século XXI, Angola não voltará a testemunhar outro eclipse total solar. O primeiro foi em 2001 e o próximo e último acontecerá no longínquo ano 2041.
De modo similar, Angola teve condições singulares (extraordinárias) para que a alternância tivesse lugar. Isto foi em 1991-1992. O século XX terminou com Angola a braços com uma guerra que, ironicamente, reforçou a manutenção no poder do grande cancro que tem impedido o progresso de Angola, aquela coisa chamada MPLA.
No século XXI, o período 2021-2022 constitui um momento singular, em que estão reunidas todas as condições para que a alternância seja uma realidade. De um conjunto de semelhanças entre 1991-1992 e 2021-2022, destaco as sistemáticas tentativas de destruir politicamente Jonas Savimbi. Lembro-me claramente de ter lido um pequeno panfleto de banda-desenhada em que Jonas Malheiro Savimbi aparecia como uma figura sinistra com uma enorme cauda. As conversas entre muitos mais velhos eram de que o líder da UNITA tinha mesmo cauda. Naquele período, o regime do MPLA fez de tudo para que a alternância não acontecesse, tanto que até executou um plano de assassinatos por via do qual a delegação da UNITA mandatada para negociar com o Governo no sentido da superação da crise pós-eleitoral acabou chacinada.
Em 2021-2022, ACJ é igualmente combatido até à exaustão. Com a presente nova táctica de destruição política do líder destituído da UNITA, o regime pretende inviabilizá-lo totalmente, ou seja, na sexta-feira próxima, 22 de Outubro, ACJ será interrogado. Na agenda da PGR consta fazer dele arguido imediatamente depois de ser ouvido. Ele sairá já arguido. Daí, será solicitada à Assembleia Nacional a retirada das suas imunidades para estar à disposição da (in)justiça. ACJ acabaria por estar impossibilitado de ser (re)eleito Presidente da UNITA.
A singularidade do espaço-tempo da política angolana para a alternância de 1991-1992 foi perdida. Irremediavelmente perdida.
Agora, em 2021-2022, temos nós, os Angolanos e Angolanas, a chance real de activamente participarmos no movimento que visa, pelo voto, desalojar o Novo Ditador e seu partido da cadeira do poder.
Entrementes, não devemos entrar em desespero. Se a UNITA de Isaías Samakuva acabar por fazer a agenda do regime, a FPU terá de reestruturar-se sob um plano B.
Nem tudo está tudo perdido.
Mas, caso até mesmo o plano B seja inviabilizado, nada sobrará a Angola senão a manutenção do país no pântano da civilização suspensa e do caos.
Por Nuno Álvaro Dala