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Segunda, 28 Setembro 2020 12:44

O SINSE dentro do MIREX e das Embaixadas Angolanas

A política angolana desde a independência do País, foi sempre caracterizada pela espionagem, centralização do poder, controlo total das instituições do Estado, subordinação dos órgãos de Soberania e dos adversários directos da oposição, que nada fazem para equilibrar o poder e o bom funcionamento da Administração do Estado.

O SINSE (Serviços de Inteligência e Segurança do Estado) antes chamado de SINFO (Serviços de Informação), é um órgão independente do Estado, tem autonomia econômica, controla tudo e todos, os seus agentes estão presentes em todas as instituições: tanto públicas quanto privadas, até dentro das igrejas, associações e organizações não governamentais, com único objectivo de colectar o máximo possível de informações, ouvir e gravar o que os demais pensam sobre o governo e sobre as altas figuras do poder do Estado.

O SINSE não tem limites de actuação, no MIREX os serviços secretos actuam em grande escala, muitos dos nossos embaixadores, cônsules e adidos enviados para missões diplomáticas e consulares são agentes do SINSE, basta ver que temos um número elevado de diplomatas militares, esses tais não se interessam em fazer diplomacia, estão aí pra colectar informações e neutralizar àqueles que na visão deles é um inimigo ou um incômodo para o Estado, não estão nem aí para o «bem comum», se interessam apenas com a cadeira do comando, mas a verdadeira espionagem é focalizada à ameaças estrangeiras, ao controlo dos estrangeiros no seu País que podem causar directa ou indirectamente uma certa instabilidade tanto política quanto econômica, tumultos e tensões conflituais, mas os nossos serviços secretos fazem tudo ao contrário, actuam muito mais contra os próprios cidadãos.

Em toda parte do Mundo os adidos militares normalmente têm a patente de coronel, mas nas nossas Embaixadas muitos dos nossos adidos militares têm a patente de general

(imitamos isso da Rússia), esses na verdade fazem espionagem, normalmente são agentes secretos, formalmente são chamados de Ministros da defesa da Embaixada, no fundo a realidade é outra, seja como for, a situação é mais complexa do que se pode imaginar.

No Mundo da espionagem nem tudo que parece é, a tua própria namorada ou marido sem você saber pode ser a pessoa que te controla o tempo todo mas você não sabe, tem boa aparência e físico de uma linda Princesa, mas é uma agente secreta, mas isso só dá por conta quem percebe e sabe como tudo funciona, repito mais uma vez esse Mundo da espionagem é mais complexo do que se pode imaginar. 

O nosso sistema político-administrativo é muito difícil de se perceber, mesmo estando lá dentro não é fácil entender como tudo isso funciona. Vários professores são do SINSE, vários médicos, políticos, deputados, directores de departamentos, PCAs, empregadas de limpezas, artistas, activistas, Ministros conselheiros das Embaixadas, entre outros são agentes do SINSE, mas deve ficar claro que entre os citados nem todos são do SINSE, outros são funcionários comuns, mas uma boa parte deles são sim do SINSE, os tais “bófias” como é chamado na gíria angolana, as suas funções são claras: informar tudo o que se passa dentro e fora do País, foram treinados pra isso, não sentem nenhum remorso nem empatia.

Durante a guerra fria (1947-1991) as embaixadas praticamente funcionavam como estações, centros e postos de espionagem, isso era muito claro naquela época devido as tensões militares, hoje a espionagem mudou a sua forma de actuar, mas a realidade e a táctica é a mesma, só muda a filosofia de cada País de como fazer espionagem mas o fim último é o mesmo, apesar que em Angola a situação é um pouco diferente, o SINSE persegue mais o filho da terra do que o estrangeiro, é nesse aspecto onde está o mal da nossa espionagem.

As embaixadas angolanas precisam de ter uma postura completamente positiva, devem deixar de lado esse espírito de perseguição, de retaliação contra àqueles que têm ideias e opiniões diferentes, em Democracia é muito normal pensar diferente, precisam fazer correctamente o seu trabalho, a organização interna das nossas estruturas diplomáticas precisa ser eficaz, os diplomatas angolanos precisam trabalhar mais e ser mais responsáveis, porque o nível de incompetência está atingindo o céu, ainda é visível muita desordem nas nossas embaixadas, o angolano dificilmente é ajudado, as festas e os convívios não param, os documentos demoram muito pra sair, outros pedem a chamada “gasosa”, mesmo sendo diplomatas ganhando de 2 a 4 mil euros mensal, ainda assim muitos deles praticam corrupção, tudo isso precisa mudar para o bem do Estado.

O SINSE não tem outra função se não, colectar informações e neutralizar ameaças,  dentro do MIREX o SINSE funciona de forma mais sutil, porque muitos dos diplomatas em si também são agentes secretos, estão aí para controlar os movimentos dos directores de departamentos, os movimentos do Ministro, do Secretário de Estado (esse faz os relatórios mensais, trimetrais, semetrais e anuais do MIREX), entre outros funcionários lá dentro.

No Mundo da espionagem qualquer um pode ser uma ameaça, não importa se é Ministro de estado, Governador, General, Deputado, activista, Embaixador, acadêmico, professor, Secretário de estado, Cônsul geral, Director nacional, adido militar, chefe de gabinete ou PCA, todos sem excepção são controlados, você sendo ou não agente do SINSE és controlado, os do SINSE também têm quem os controla, na verdade são os mais controlados, nesse meio ninguém é inocente, ninguém é amigo de ninguém, não dá pra confiar em ninguém.  

Tanto o SINSE quanto o MIREX precisam de grandes reformas. É sabido que a diplomacia propriamente dita nasce no ano de1919, época da criação da Sociedade das Nações, ou seja, nasce num contexto de guerra e de tensões político-militares entre as grandes potencias mundiais, era a fase em que acabava de terminar a I guerra mundial, mas as tensões conflituais ainda era algo eminente, mas hoje estamos numa outra época, hoje a diplomacia concentra-se muito mais nas questões dos direitos humanos, crescimento e desenvolvimento econômico, projectos educativos e científicos, acordos comerciais, etc, sendo assim o SINSE  precisa rever num giro de 360° o seu modo de actuar, o SINSE precisa deixar de espionar o próprio cidadão, se o cidadão não representa uma ameaça eminente à Nação, então não há necessidades de espioná-lo, é explicitamente contra os direitos humanos.

O MIREX deve fazer a mesma coisa, tenho falado o tempo todo sobre reformas, mas as reformas no MIREX estão mais lentas que os passos de uma tartagura velha, é hora de começarmos a fazer diplomacia no verdadeiro sentido da palavra, temos vários embaixadores e diplomatas incompetentes (a maioria), as comunidades angolanas na diáspora precisam ser atendidas, socorridas e ajudadas, parem com as festas e com as maratonas excessivas, sejam mais eficazes e velozes no tratamento dos documentos, sejam mais patriotas, que os diplomas estejam aí para trabalhar, trabalhar e trabalhar, não para espionar e perseguir o angolano.

Dentro das nossas embaixadas tem agentes do SINSE, que vêm com a missão de controlar a opinião pública dos angolanos naquele País, por isso de forma diplomática peço à esses agentes que parem de agir contra os seus irmãos angolanos, de modo especial peço num espírito de cidadania e patriotismo a todos os Ministros conselheiros e adidos militares das nossas Embaixadas, que comecem a fazer as coisas por Angola, nada de ordens superiores, senhores Ministros conselheiros e adidos militares contamos com a vossa participação e colaboração, o angolano deve ser valorizado e ajudado, e não espionado e perseguido.

Estou completamente decepcionado com a Diplomacia angolana, a culpa é do MIREX.

«Eu e a Diplomacia a Diplomacia e Eu»

Por Leonardo Quarenta

Doutorando em Direito Constitucional e Internacional

Mestrado em Relações Internacionais e Diplomacia

Master em Direitos Humanos e Competências Internacionais

Curso de Alta Formação em Conselheiro Civil e Militar.

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