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Quinta, 24 Abril 2014 17:13

Afinal, o entendimento é possível entre as partes

Para os políticos, mas também para o poder, até se faz segredo com os nossos assuntos, como se eles fossem os iluminados e nós, os ignorantes.

O diálogo é a base principal do entendimento de qualquer sociedade, pelo que, independentemente das diferenças e motivações de cada um, nunca deve ser posto de parte. Até em casa, no nosso núcleo familiar, quando ele não funciona, é sinónimo de que a relação entre todos os seus elementos não é saudável.

Daí que, com alguma satisfação, reportamos a atitude do Presidente da República em convidar o líder da UNITA, Isaías Samakuva, e outras destacadas figuras dessa organização, para um encontro que, no mínimo, temos a garantia de que terá sido entre pessoas que, apesar de pontos de vista e de visões diferentes, estão imbuídas de responsabilidades e do desejo de fazer o melhor, para que Angola caminhe por trilhos que conduzam ao desenvolvimento sustentável, harmonioso e de felicidade para todos.

Para o bem da democracia e de apaziguamento, como o nosso Chefe, com certeza que mais exemplos regulares como esse da parte do Mandatário da Nação, contribuiriam para melhor conhecimento da outra ponta da verdade. É que, embora useira e vezeira em muitos truques e empolamentos, não se pode partir do princípio, por exemplo, de que a morte de militantes desse partido, ainda que em rixa entre cidadãos, não tenha acontecido. E menos ainda, aceitar que os órgãos correspondentes da Polícia Nacional não tomem isso a peito, até porque um crime é mesmo um crime e, como tal, deve ser tratado.

Contudo, já não podemos considerar que tenha sido bom o silêncio a que ambas as partes se remeteram, como se nós cidadãos eleitores não tivéssemos o direito de conhecer o que faz o nosso Presidente, o que ele diz em encontros que, meramente, se restringem à preocupações apresentadas por um partido na oposição. Esse pacto de silêncio com o alinhamento da UNITA só nos faz crer que, afinal, quando as partes querem, é possível o entendimento para o bem da estabilidade e da reconciliação, como é o caso concreto.

Defendemos este aspecto da importância da comunicação, pois, tendo em conta as questões culturais muito particulares do nosso povo, mas também de mentalidade, de analfabetismo e de ignorância, se quisermos ser mais directos e frontais, para muitos milhões de angolanos, a palavra do Chefe tem mais peso do que qualquer decreto, que boa parte não consegue sequer entender.

Assim sendo, a fotografia ficaria melhor se esse entendimento, conquanto parcial ou ocasional, passasse de uma forma mais abrangente para o povo, com a mensagem de que Angola é grande, precisa de paz e de todos nós; que o passado faz parte da história e que, daqui para frente, cada um deve ver o outro como irmão, adversário sim, mas nunca, e nunca mesmo, como inimigo.

Para o exercício dessa postura, nem é preciso qualquer estratégia. Bastará que todos nós nos sintamos artífices de todo esse processo longo de harmonização nacional, que, como é evidente, começa na necessidade de encararmos Angola como o país de todos nós e de conversarmos.

Mas, nesse domínio de comunicação, o poder e as oposições esquecem-se, por vezes, de que, não obstante a influência das elites que têm acesso fácil aos meios de comunicação e informação, existe uma franja considerável da população que, ao longo da semana, não tem sequer tempo nem tem como ouvir rádio, ler um jornal e menos ainda ir à net. E não é necessário ir à periferia, onde, para além de falta desses meios, nem sequer existem fontes de energia. Mas, essa franja é o povo que, facilmente, pode sofrer influências boas ou más, por falta de informação ou de comunicação e que não faz parte das contas, salvo quando é preciso correr para ganhar votos.

Por Ramiro Aleixo

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