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Quarta, 23 Abril 2014 22:26

De mercenário para empresário e milionário em Angola

Em Angola os termos “Incrível” e “inadmissível” deixaram de existir por mais incrível que pareça.

A constituição da República de angola garante a todo cidadão estrageiro o direito de pedir asilo, em caso de perseguição por motivos políticos.

De acordo com a mesma constituição, todo homem tem direito a uma nacionalidade, e não se privará ninguém da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. Assim dá-se o direito a todos o estrageiros que queiram, podem adquirir a nacionalidade Angolana, mesmo que seja em detrimento dos interesses dos angolanos originários. Que triste história! É verdade que a nacionalidade Angolana pode ser originária ou adquirida, devido a vários factores. Mas seria bom que a nacionalidade adquirida fosse bem estudada. Se não for bem estudada os países com excedente da população, e outros por vários motivos, empurrarão o seu povo para Angola e, os angolanos serão invadidos e subalternizados.

Vejamos:

OS acontecimentos do Ex-Congo-Belga, servem de exemplo. O ano de 1959, foi o ano de crescente perturbação no Congo-Belga (actual República Democrática do Congo), e em 1960 os belgas chegaram à conclusão de que a melhor possibilidade de conservar os seus interesses económico no território residia na concessão de eleições e da imediata independência. Os belgas sabiam que com a independência imediata, não haveria tempo para formar quadros congoleses, logo o Congo iria precisar de funcionários e técnicos belgas. Foi assim que Kasavubu passou para Presidente do Congo e Patrício Lumumba tornou-se devidamente seu Primeiro-Ministro, mas só podia governar com a ajuda do funcionalismo público belga e do exército comandado por belgas. Por isso rebentou luta entre grupos etnolinguísticos. È nesta confusão que A. Kalongi proclamou a independência do Baixo Congo, e Moisés Tchombé proclamou a independência de Catanga (Katanga). Catanga é a província vital para toda a economia do Congo e era controlada por uma diabólica alianças entre os interesses mineiros belgas, e os políticos africanos locais conduzidos por Tchombé. A Bélgica utilizou a força para proteger seus cidadãos e os seus interesses. Para os Estados africanos independentes a ordem deveria ser restaurada apenas pelos seus soldados, actuando sobre o controlo das Nações Unidas. Mas surgiram divergências entre si, um grupo (Guiné Konackry, Ghana, Egipto, etc), aderiu a linha Pan-africana, segundo a qual o governo de Lumumba era o único governo legítimo no Congo. Outro grupo (Tunísia, Nigéria e Sudão), defendeu a colonização de várias fecções congolesas. A situação complicou-se. Surge a intervenção da ONU. Sob o olhar silencioso das Nações Unidas Lumumba foi assassinado no Catanga. O Presidente Kasavubu passou a dirigir o governo, e, deparou-se com a resistência armada de vários grupos. Kasavubu, estrategicamente, para fazer frente a situação, convidou o até então arquidissidente Moisés Tchombé para se tornar seu Primeiro-Ministro. Os lanços de Tchombé com o Mundo Ocidental, deram-lhe a possibilidade de assegurar recursos, incluindo tropas mercenárias brancas a fim de estabelecer um controle cruel sobre todo o Congo, excepto as áreas rurais mais remotas. Porem nem Tchombé nem Kusavubu espiravam confiança política entre os africanos, quer dentro quer fora do Congo, e, em 1965 as suas tentativas para assegurar eficazmente o governo, foram afastados pelo comandante do exército congolês Joseph Mobutu, através de um golpe de estado e conseguiu estabelecer um governo sobre todo o país.

Estabelecido um governo sobre todo o país por Mobuto, muitos catangueses, aderentes e em particular os soldados de Moisés Tchombé, refugiaram-se para Angola, onde se tornaram não só refugiados, mas também principalmente como mercenários, lutando contra os guerrilheiros da FNLA, do MPLA e da UNITA. Combateram ferozmente nos ex-Distritos do Moxico, Lunda e Kuando-Kubango.

Com o triunfo da “Revolução dos Cravos” (25 de Abril de 1974) a situação tornou-se complicada para os mercenários catangueses, porque o exército português em Angola foi neutralizado, e os guerrilheiros da FNLA, do MPLA e da UNITA passaram a ser conhecido como combatentes revolucionários a nível nacional e internacional. Os mercenários catangueses temiam por repatriamento apesar da amnistia decretada por Mobutu. Por isso os mercenários catangueses estiveram escondidos nos quartéis de Camissombo, Canzar, Kassamba, Dala, Moxico-Velho, etc. a espera que se aclarasse a situação. Sabe-se que as direções da FNLA, e do MPLA estavam no Congo. Mais tarde a direcção do MPLA foi expulsa do Congo para Brazzaville, em virtude do movimento ser pró-soviético e ter optado pelo comunismo, ficando apenas a da FNLA, movimento Pró-americano. Isso provocou rivalidade entre o MPLA e a FNLA. Aproveitando esta rivalidade os catangueses foram incorporados nas FAPLA, Isto é nas forças do MPLA, com a cumplicidade do Partido Comunista Português, com a cobertura do Português vice-almirante Rosa Coutinho. Por isso depois do “25 de Abril”, mais concretamente a partir de 1975, foram os catangueses que mais se destacaram nos combates contra a FNLA na Lunda Norte, na Lunda Sul e no Moxico, expulsando a ELNA (militares da FNLA) do Dundo, Saurimo e Luena, respectivamente mais tarde combateram não só contra a FNLA, mas também contra a UNITA em todo o país.

Depois de vários combates durante a guerrilha contra a FNLA, o MPLA e a UNITA e durante a guerra fratricida contra a FNLA e a UNITA, o camarada Bento Cangamba, refugiado e mercenário, aparece na arena histórica angolana como Tropa da Guarda Fronteira de Angola (TGFA), na Lunda em 1980. E depois vai para Cassamba, na área de Cangamba, por transferência na Província do Moxico. E quando aparece com o seu grupo apelidado de “Cangamba” , atribuíram-lhe também o nome de Cangamba e passou a ser chamado de Bento “Cangamba”, nome da povoação do Moxico onde esteve transferido como Tropa Guarda Fronteira de Angola. Nas TGFA, o camarada Cangamba primeiro foi cozinheiro e por agradar os seus chefes com uns “pratos a maneira”, transferiram-no para Logística do Batalhão. Como logístico do Batalhão roubava e vendia tabacos dos militares. Apanhado a roubar tabaco no Batalhão foi amarado e castigado (batido com chicote), publicamente contudo continuou nas TGFA, porque colaboravam com alguns dos seus chefes.

Extintas as TGFA, o camarada Bento Cangamba passou para a Base Central de Abastecimento (BCA) onde ganha a confiança de muitos chefes, através do abastecimento que efectuava. Da BCA passou a roubar os frescos (carnes e outros produtos) e vendia as Zungueiras. Recebia avultadas somas de dinheiro das zungueiras e só mais tarde é que dava os produtos. Certa altura o camarada Bento Cangamba recebeu muito dinheiro como de costume e feliz ou infelizmente houve um atraso considerável da chegada dos produtos . e as zungueiras desesperadas, aborrecidas e zangadas, reclamaram junto dos chefes e fizeram um escândalo na BCA.  Os chefes elaboram um processo de burla que culminou com a detenção do Camarada Bento Cangamba e, levado para a comarca de Viana em Luanda. Esteve muito tempo na prisão de Viana. Depois foi transferido para a cadeia das Forças Armadas, que fica junto da Assembleia Nacional. Como os seus chefes foram coniventes e beneficiados das BURLAS, tiveram que facilitar a sua soltura, depois de permanecer muito tempo na cadeia das Forças Armadas, em Luanda. Como estratégia de protecção, depois da sua soltura, o Camarada Bento Cangamba foi transferido para Cabo Ledo como logística dos Camaradas das Forças Armadas.

Apesar de ser Burlador, apesar de praticar muito roubo, o camarada Bento Cangamba mereceu a simpatia de muitos dirigentes pelo apoio prestado.

O Camarada Bento Cangamba burlando, roubando e servindo os seus dirigentes conseguiu criar empresas sem nome, tornando-se bilionário e não só. Tornou-se intocável e muito confiado pelo executivo angolano e em particular pelo MPLA. Ninguém ignora que o camarada Bento Cangamba recruta os seus compatriotas catangueses para apoiarem o MPLA e o seu Presidente. O Camarada Bento Cangamba é o facilitador de obtenção de Bilhetes de Identidade, de Passaportes e de Cartões de Membros do MPLA para os seus compatriotas catangueses e outros estrangeiros. Pouca sorte têm os congoleses e outros estrangeiros que são descobertos ao longo da costa marítima ou nos aeroportos pela polícia, Isto é antes de chegarem no bairro do Palanca, porque os que chegam neste bairro, em menos de 48 horas têm toda documentação que lhes conferem a nacionalidade angolana originária. O mercenário ganhou a nacionalidade originária e tornou-se empresário da juventude, e, os jovens angolanos mesmo os mais miseráveis estão aplaudir! Só  é possível em Angola, onde os termos “incrível” e “inadmissível” deixaram de existir. O Camarada Presidente António Neto afirmara que a Diamang (actual Ediama ) era uma República dentro doutra República. Agora é a vez do Bairro Palanca transformar-se em República de Catanga, e situar-se portanto, dentro da República de Angola, já que a sua situação como República dentro do Congo foi banida através do estabelecimento de um governo sobre todo o país por Mobutu.

Enquanto os catangueses invadem Angola os milhares e melhores, nossos compatriotas angolanos refugiados no Congo, principalmente a partir da criação da PIDE/DGS por Salazar em 1936, e outros durante a guerra fratricida entre a FNLA o MPLA e a UNITA, assim como os seus descendentes temem voltar para Angola, porque são conotados como da oposição e muitos foram mortos durante a invasão daquele país e, os repatriados sofrem represarias pelo regime quando não aceitam a humilhação e a submissão extremas ao MPLA de sua Excelência Senhor Presidente José Eduardo dos Santos. Esta é a razão pela qual muitos e muitos angolanos continuam na República Democrática do Congo.

Melhor do que ninguém sabem os oficiais, os sargentos, os soldados desmobilizados ou não e os antigos combatentes principalmente os das ex-FAPLA, quem foi o Camarada Bento dos Santos Cangamba, para ser o que é: De mercenário para empresário e milionário.

São patriotas os senhores deputados que rejeitaram a efectivação do Camarada Bento Cangamba como deputado do MPLA na Assembleia Nacional.

Por Sofrimento Esperançoso

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