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Quinta, 23 Mai 2019 11:48

A UNITA é uma "falsa" oposição?

Preocupados com a situação que estaria a registar mortes de cidadãos angolanos que estariam a ser assassinados por alegadas ordens de comandantes de forças militares com o suposto intuito de se apoderarem dos seus jazigos, fruto da "Operação Transparência".

Chegámos a falar ao telefone com o Doutor Pedro Kangombe, jurista, responsável da UNITA que também acompanhava a caravana, onde também constavam dois deputados daquela força política na oposição, que se encontrava na província da Lunda-Norte em visita de constatação, face a alegados assassinatos de cidadãos angolanos residentes naquela província do leste de Angola, tendo provocado uma reacção da Delegação do Ministério do Interior daquela província, desmentindo, na altura, a UNITA, o que depois chegou mesmo a ser motivo de conferência de imprensa da principal força política na oposição.

Pela televisão, vimos o vice-presidente da UNITA Raúl Danda dizer que terão sido assassinados, pelas forças de Defesa e de Segurança naquela província, 17 cidadãos angolanos, que terão sido "amontoados" numa vala pública.

Na conferência de imprensa que também serviu para anunciar a data e o programa do funeral oficial do líder da UNITA tombado em combate, Jonas Malheiro Savimbi - o que foi estrategicamente um autêntico erro de comunicação, para não variar, não se mistura dois assuntos de grande impacto numa só conferência de imprensa -, responsáveis da UNITA chegaram a exibir fotos que ilustravam a sua acusação contra a Polícia local e outras forças de Defesa e Segurança. Para o nosso espanto, no dia seguinte, a TPA entrevista um cidadão responsável da UNITA, na Calonda, no referido município diamantífero onde terá ocorrido tais assassinatos, a desmentir os seus próprios companheiros da UNITA.

A Polícia, entrevistada no local, chegou mesmo a desafiar a UNITA a mostrar publicamente o local exacto onde terá tirado tais fotos para que a televisão pública pudesse mostrar a verdade dos factos. Lembrámos que a UNITA chegou a fazer um comunicado de imprensa para desmentir o Ministério do Interior e a Televisão Pública de Angola. Nós, na altura, até fizemos uma reflexão que intitulámos "COMUNICADOS SEM JUSTIÇA". E parece-nos que os "comunicados sem responsabilização judicial" de quem comete crimes vai continuar a ser um apanágio publicitado gratuitamente nos órgãos de comunicação social, sem merecer a devida atenção das nossas autoridades. Qualquer pessoa singular ou colectiva acusa e desmente governantes e instituições, sem que nada lhes aconteça.

E todo o mundo bate palmas para isso. Já se tornou "moda". Por um lado, como dizíamos, não se percebe como é que uma UNITA, que pretende ser oposição em 2022 - a não ser que esteja a fazer teatro de oposição só para aumentar deputados no Parlamento e ter alguns militantes seus a dirigir municípios nas Autarquias Locais! -, chegou a ir ao local dos alegados assassinatos e não conseguiu, no entanto, fazer uma investigação exaustiva que pudesse resultar numa conferência de imprensa séria (fora da actividade do funeral de Savimbi) para mostrar publicamente, com provas irrefutáveis, o que alegou nos nossos órgãos de comunicação social. A acusação da UNITA é grave num país normal.

A TPA não indicou na sua notícia o número de mortos - uma televisão que mostra que ainda não faz jornalismo isento porque temos um ministro da Comunicação Social mais preocupado em agradar o "chefe" do que regular o sector que dirige -, mas a TV Zimbo colocou no rodapé o alegado número de mortos: 17. Assassinato de 17 cidadãos é um assunto sério em qualquer parte do mundo.

Como é que um responsável da UNITA vem, no dia seguinte, desmentir a própria UNITA e o Ministério do Interior não faz, agora, um outro comunicado, reagindo aos novos factos, a dizer que vai responsabilizar judicialmente a UNITA pelos danos morais que causou à instituição do Estado? Ou conseguiu tapar a vala, fruto de uma eventual incompetência dos responsáveis da UNITA que foram fazer tal investigação?

Como é que a UNITA que diz ter estado no local das mortes não consegue mostrar em que zona é que se situa tal vala? Por que a UNITA não filmou o local - hoje os telemóveis e as redes sociais ajudam a resolver estes assuntos de provas - para que pudesse mostrar tudo, com várias provas, a todos os angolanos e à comunidade internacional? Por que não chamou a TPA e outros órgãos localizados na Lunda-Norte para mostrar o resultado da sua investigação?

Tudo indica, pelo raciocínio lógico, que quem está a mentir é a UNITA. É um autêntico desrespeito à alma de Jonas Malheiro Savimbi, que morreu a acreditar numa "nova Angola", falar, no mesmo acto em que se anuncia o seu esperado funeral, depois de tantos anos num braço de ferro contra o Executivo do MPLA, de coisas que só mostram que a UNITA está a ser dirigida por pessoas que não percebem nada de política. O líder actual da UNITA, Isaías Samakuva, em condições normais, já devia ter pedido demissão. É uma vergonha pública que coloca o seu partido muito fragilizado para "atacar" as eleições de 2022. Na política, não pode valer tudo. A oposição não serve para difamar instituições do Estado.

Não serve para difamar adversários. A oposição serve para ir à busca de deficiências (os erros) de quem está no poder, com o sentido de o pressionar positivamente a gerir melhor o país. Um partido que mostra publicamente que é capaz de inventar difamação e calúnias graves como esta da Lunda-Norte não merece estar no poder. Quem está na oposição, se quiser contar com o voto de cidadãos que amam Angola, tem de fazer oposição de forma honesta.

Quem não mostra honestidade quando é oposição não vai mostrar honestidade quando estiver no poder. Com este andar, Angola fica com um destino cada vez mais incerto, uma vez que o Executivo liderado por João Lourenço só podia ajudar a proporcionar uma vida com cada vez mais qualidade aos cidadãos se tivéssemos uma oposição forte e séria.

Por: Carlos Alberto (Cidadão e Jornalista)

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