Não há Estado de direito em Angola, acusa o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, em entrevista à CNN Portugal nesta sexta-feira. Esta é, aliás, a maior acusação que dirige ao regime de 46 anos do MPLA, presidido por João Lourenço, mais ainda, diz, que o insuficiente combate à corrupção. São declarações em vésperas de eleições gerais, as mais concorridas das últimas décadas.
Com o país debaixo de fortes contestações sociais, Adalberto Costa Júnior segue bem posicionado nas intenções de voto e nem a tensão dos últimos dias em Luanda, causada pela greve dos taxistas, abala a confiança do presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola, partido acusado de estar por trás dos distúrbios na capital.
O candidato da oposição refuta as acusações, "sem direito a contraditório" e suportadas por "imagens de cenários antigos", "atirando-se fantasmas" antes de "procurar os factos". Sem espaço na televisão pública do seu país ou em qualquer órgão de comunicação social público, Adalberto Costa Júnior quer chamar a atenção da comunidade internacional para a realização de "eleições livres, justas, transparentes e democráticas".
"Não temos qualquer tipo de acesso à comunicação social pública, daí a importância de estar aqui hoje [na CNN Portugal]", sublinha. "Estamos a viver tempos em que o Estado de direito tem sido completamente derrubado por parte do governo de João Lourenço. Todos os indicadores de um Estado de direito estão hoje desrespeitados. Está perante o líder da oposição que vai a caminho do seu terceiro ano de mandato e nunca foi entrevistado por uma televisão pública, por nenhum órgão público de comunicação social de Angola, portanto a censura é absoluta."
O líder da UNITA diz que o MPLA não permite a presença de observadores internacionais, "apenas é permitida a presença de africanos". "A Europa, os americanos, os portugueses são sempre recusados." E é sobre o que diz ser um "atentado ao Estado de direito" que Adalberto Costa Júnior quer colocar um ponto final. "É evidente que Angola carece de uma nova liderança comprometida com a transparência, comprometida com a boa governação, que combata de facto a corrupção. Mas a maior falha é o atentado ao Estado de direito. Temos as instituições de Justiça tomadas pelo MPLA e a comunicação social. Temos uma proposta de uma nova Angola, baseada no direito, no respeito, na democracia, na pluralidade e temos a coragem de a realizar. Não vamos governar em função do nosso partidos, mas com os angolanos para os angolanos, não vamos governar dos membros da UNITA para a UNITA."
Neste momento, a UNITA segue com o apoio do Bloco Democrático, do Servir Angola e "de uma série de cidadãos", mas "a ampla frente para a alternância não está fechada". "Ela continua a receber muita gente e quando o regime reage como reage está a dizer-nos que estamos muito bem posicionados. Hoje as sondagens colocam-nos em grande vantagem e o nosso trabalho é trazer a atenção dos angolanos e da comunidade internacional para a necessidade de eleições livres", indica.
"Temos um país que vive há 46 anos com um partido único a governá-lo e, quando surge uma proposta credível para a alternância, ela pode criar alguns medos por consequência de um longo período de vícios de governação", aponta, garantindo que, da sua parte, está interessado num "diálogo de transição com o máximo de estabilidade". CNN portugal