Quinta, 28 de Março de 2024
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Terça, 08 Novembro 2022 17:22

RDCongo reconhece ter violado espaço aéreo do Ruanda por engano

O Governo da República Democrática do Congo (RDCongo) reconheceu hoje que um dos seus aviões sobrevoou o espaço aéreo do Ruanda, mas garantiu que "jamais teve a intenção" de violar o espaço aéreo do país vizinho.

"O Governo da RDCongo teve conhecimento que durante um voo de reconhecimento das Forças Aéreas, um avião congolês Sukhoi-25 desarmado sobrevoou por engano o espaço aéreo do Ruanda na fronteira entre ambos os países", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, num comunicado citado pela agência de notícias espanhola Efe.

"O Governo reafirma, da mesma forma, que, tal como defende a sua integridade territorial, a RDCongo nunca teve a intenção de violar a dos seus vizinhos", lê-se ainda no comunicado.

Na segunda-feira, o governo do Ruanda denunciou que o seu espaço aéreo tinha sido invadido e salientou que “não adotou medidas militares de resposta”, acrescentando ainda que o avião “regressou à RDCongo”.

"As autoridades ruandesas protestaram contra esta provocação ao governo da RDCongo, que reconheceu o incidente", destaca-se na nota.

Na segunda-feira de manhã, dois aviões Su-25 descolaram ruidosamente do aeroporto de Goma, em direção ao território de Rutshuru, onde o grupo M23 vem ganhando terreno nas últimas semanas.

"Um avião de combate do exército [da RDCongo] acaba de sobrevoar Kiwanja", testemunhou pela manhã um morador da localidade que ficou sob controlo rebelde no final de outubro e está localizada na Estrada Nacional 2, eixo estratégico que serve Goma, cidade de mais de um milhão de habitantes.

Na mesma rota, Rutshuru-Centro, a cerca de 70 quilómetros de Goma, foi tomada pelo M23, a que se seguiu Rumangabo (a 45 quilómetros de Goma), local de um acampamento militar da RDCongo agora ocupado pelos rebeldes e sede de Parque Nacional Virunga.

A frente dos combates situa-se agora em torno de Rugari, a cerca de 30 quilómetros de Goma.

"Estamos em operação, enquanto houver um centímetro ocupado pelos rebeldes, continuaremos a combater. Estamos a ser atacados e a RDCongo tem o direito de colocar todos os meios à sua disposição", comentou o coronel Guillaume Ndjike Kaiko, porta-voz do exército na região.

A violação do espaço aéreo ruandês ocorreu dois dias depois de Kinshasa e Kigali terem concordado em acelerar ao máximo o acordo para aliviar a tensão bilateral em torno da atividade do M23 no nordeste da RDCongo, face às acusações de Kinshasa contra o apoio de Kigali aos rebeldes.

No passado sábado, os ministros dos Negócios Estrangeiros do Ruanda e da RDCongo comprometeram-se a manter o diálogo e concertação política como via de resolução da crise política entre os dois países.

Este foi um dos pontos do comunicado final sobre a reunião tripartida entre a diplomacia do Ruanda e RDCongo e Angola, realizada em Luanda.

O objetivo foi relançar o diálogo entre os dois países face ao agravamento da tensão nas últimas semanas, com os rebeldes do M23, que passou a controlar várias localidades, obrigando ao êxodo de mais de 200 mil pessoas.

No final da reunião, os ministros acordaram também a definição de um cronograma para acelerar a implementação do roteiro de Luanda, de 06 de julho de 2022, que visa estabelecer o caminho para a paz e o desdobramento imediato do mecanismo de verificação ‘ad-hoc’ em Goma (RDCongo).

O Ruanda tem reiteradamente negado as acusações e acusa, por sua vez, a RDCongo de apoio a outro movimento rebelde, as Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR), numa crise alimentada pelo avanço consolidado do M23 nalgumas áreas da província Kivu do Norte, que culminou na semana passou com a expulsão do embaixador ruandês em Kinshasa, Vincent Karenga.

O M23 é acusado desde novembro de 2021 de realizar ataques contra posições do Exército da RDCongo em Kivu do Norte, sete anos depois de as duas partes terem alcançado uma trégua.

Especialistas das Nações Unidas acusaram Uganda e Ruanda de apoiar os rebeldes, embora ambos os países tenham negado isso.

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