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Quarta, 15 Mai 2024 14:27

BNA deve dar sinal para travar “preços descontrolados” - economista

O economista angolano Wilson Chimoco defendeu hoje uma intervenção do banco central para travar os “preços descontrolados” no país, considerando que o aumento populacional e a reduzida produção interna concorrem para acelerar a inflação em Angola.

A inflação em Angola voltou a aumentar em abril, pelo 12.º mês consecutivo, registando uma variação homóloga de 28,02%, um máximo de quase sete anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).

“Esta inflação que estamos a assistir em um ano, nos outros países é acumulada em 15 ou 20 anos, é uma situação desafiante e que reduz claramente a capacidade da economia [angolana] se organizar”, afirmou hoje Wilson Chimoco à Lusa, salientando que, só em Luanda, os preços dispararam 39%.

Questionado sobre as decisões esperadas pelo Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA), que reúne na quinta e sexta-feira, o economista entendeu que a entidade deve dar uma “sinalização clara” ao mercado da sua disponibilidade de continuar a combater a inflação.

Chimoco recordou que o objetivo central do BNA é a estabilidade de preços, mas observou que atualmente a estabilidade é inexistente, porque os preços estão “descontrolados e aumentam em níveis assustadores”.

“O BNA não pode cruzar os braços e deixar a coisa andar, tem de tomar posição, tem vindo a tomar essa posição. Desde novembro de 2023 que o CPM voltou a agravar o nível de restritividade da política monetária. Entendemos que essa sinalização ao mercado tem de se manter”, disse.

A restrição da política monetária, argumentou, deve assegurar que os operadores económicos tenham cada vez mais consciência de que o banco central, gestor da política monetária, tem um posicionamento restritivo e que o custo do dinheiro na economia está elevado.

Para Chimoco, é preciso todos estarem "em sincronia neste processo de desaceleração da taxa de inflação”.

Defendeu, ainda, que, hoje, uma política monetária mais restritiva na economia angolana, “fundamentalmente através do agravamento dos coeficientes de reservas obrigatórias em moeda nacional, é um fator determinante para o aumento do crédito”.

O CPM alterou, na sua última reunião, as principais taxas de juro, fixando a taxa de facilidade de cedência de liquidez em 19,5%, a taxa da facilidade de absorção de liquidez em 17,5% e a taxa diretora (conhecida como taxa BNA) em 18,5%.

Comentando os recentes dados do INE, o economista sinalizou que a atual inflação reduz a capacidade de consumo das famílias e de as empresas fazerem despesas e alertou para os monopólios da economia angolana.

Chimoco entende que o cenário da inflação em Angola é justificado por situações “muito estruturais”, nomeadamente o aumento demográfico, com um crescimento populacional anual que varia entre os 3 e 3,5 por cento e que “pressiona de forma significativa a oferta de produtos na economia”.

“E essas [pessoas] precisam de saúde, alimento, habitação, água, energia e de outros serviços que a economia não está a responder, porque não estamos a conseguir produzir internamente o suficiente para atender às necessidades das populações”, apontou.

Assinalou também a redução das importações no país, por conta dos desafios da oferta de divisas, como outro entrave, insistindo que esses fatores pressionam os preços.

O economista acredita que este quadro se vai manter, sobretudo com a introdução da Nova Pauta Aduaneira versão 2024 e o aumento do preço do gasóleo.

O especialista alertou para o que considerou de “aumento do nível de concentração” na economia angolana, como os monopólios, particularmente nos setores farmacêutico e alimentares, como a panificação, referindo que estes potenciam a aceleração dos preços.

Enquanto a economia “não se organizar de tal sorte que reduza estes níveis de concentração, vamos então assistir a um, dois, três ou quatro operadores que tenham a disponibilidade ou capacidade de definir preços de acordo os seus interesses”, notou.

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