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Segunda, 30 Outubro 2023 10:23

Câmbio na rua dispara por falta de divisas na banca e gap cresce para 34%

Falta de divisas na banca e atrasos nas transferências levam empresas e particulares a recorrer às kinguilas, o que fez disparar a taxa de câmbio no mercado informal.

As ruas funcionam como barómetro para o valor real da moeda nacional pelo que se o BNA não estivesse a prender o câmbio, a moeda norte-americana estaria hoje mais próxima dos 1.000 Kz. E o cenário próximo não é animador.

O mercado cambial tem estado praticamente parado nos últimos três meses, numa espécie de um regresso ao regime cambial fixo, o que para os especialistas tem como principal risco uma forte desvalorização da moeda nacional quando voltar, de facto, ao sistema flutuante. Se no mercado formal (bancos) o câmbio está parado, no informal (kinguilas) a taxa está a subir, já que os bancos estão sem divisas e atrasam as transferências para o exterior, pondo em causa negócios de muitas empresas e famílias com responsabilidades fora do País, o que leva empresas e particulares a recorrer às kinguilas, fazendo disparar a taxa de câmbio no mercado informal. Com isso, eleva-se o diferencial, ou gap, entre mercado formal e informal, que praticamente já estava resolvido desde 2021.

Na prática, cumpre-se na taxa de câmbio as regras de mercado, ou seja, quando a procura é superior à oferta de dólares, o kwanza deprecia. E vice-versa. Assim, o mercado informal serve de barómetro para se medir a taxa de câmbio mais próxima da realidade.

Nesta quarta-feira, a taxa média de câmbio do dólar no Banco Nacional de Angola (BNA) era de 827,4 Kz, o que pressupõe dizer, por exemplo, que para adquirir uma nota de 100 USD eram necessários 82.740 Kz. Já nas kinguilas, uma nota de 100 USD estava a ser despachada acima dos 112.000 Kz, uma diferença de 28.452 kz, o que representa um gap 34% entre o mercado formal e o paralelo, acima do objectivo de 20% anunciado pelo banco central na altura da liberalização da taxa de câmbio, em 2018.

A taxa de câmbio no mercado paralelo tem estado distanciar-se do mercado formal desde Agosto, altura em que as petrolíferas se recusaram a vender divisas no mercado primário na plataforma da Bloomberg, alegando questões relacionadas com o cumprimento de compliance, depois de o BNA as ter proibido de negociar moeda estrangeira directamente com os bancos com que já trabalhavam.

E se o preço da nota de 100 dólares subiu no mercado informal, o mesmo aconteceu com a moeda europeia. Esta semana, cada nota de 100 euros custava já 116.000 Kz, embora várias kinguilas da cidade tenham adiantado que há uma escassez acentuada de moeda europeia no mercado informal.

Assim, depois de dois anos num valor quase residual, o "gap" voltou a subir, comprometendo a reforma cambial iniciada em 2018, que visava, por um lado, acabar com o diferencial entre as taxas de câmbio do mercado formal e informal, ou no mínimo aproximá-las, mas também alargar os participantes (petrolíferas, seguradoras e diamantíferas) no processo de venda de moeda estrangeira, fazendo com o que o mercado, por si só, estabeleça o equilíbrio entre a procura e a oferta. Naquela altura, o gap do dólar era de 159% e de 167% no euro e passou, respectivamente, para 7% e 8% no final de Julho de 2021.

Situação parece longe de se resolver

Para o economista Mateus Maquiadi, a situação actual do mercado cambial "parece longe de se resolver", já que "a falta de transparência ou de informação está a deixar quase todo mundo confuso, e isso por si só cria maiores incertezas para o futuro". O economista entende que o banco central não comunica bem, o que abre espaço para a criação de interpretações ambíguas, que criam falhas de mercado, o que está agora acontecer no mercado cambial, gerando muitas especulações.

"No primeiro trimestre eu tinha a percepção de que estava a haver apenas um overshooting (ultrapassagem - uma reação da taxa de câmbio face a uma variação da oferta de moeda no curto prazo), e que o kwanza iria retornar para perto dos 600 Kz por dólar. Hoje, a pressão para depreciação é maior, e a taxa de câmbio deve encerrar o ano entre os 825 e 900 Kz por dólar, isto porque o BNA vai continuar a exercer alguma pressão, e suponho que deverá intervir no final do ano para aliviar a pressão da moeda", sustentou.

Já o economista e director do Cinvestec, Heitor Carvalho, entende que o Kwanza já esteve subvalorizado e agora está, provavelmente, sobrevalorizado. "Como o Tesouro não está a colocar divisas no mercado cambial para o volume de procura com a taxa de 827 Kz por USD, está a criar-se escassez de produtos no mercado e a aumentar a inflação e, consequentemente, a taxa de câmbio actual começa a estar demasiado baixa", justificou. Expansão

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