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Quinta, 20 Abril 2023 12:50

Economista aponta para desaceleração da economia angolana e mais pressão social

O economista Fáusio Mussá considera que o crescimento económico de Angola deve “desacelerar” este ano, sobretudo devido à menor oferta de divisas petrolíferas, e defende mais políticas para fazer face ao aumento da pressão social.

“O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que a economia angolana continue a crescer acima de 3%, a nossa perspetiva é que haverá uma desaceleração no crescimento económico de Angola, provavelmente o PIB (Produto Interno Bruto) angolano vai crescer num ritmo mais lento”, disse, na quarta-feira à noite, em Luanda.

Um dos fatores que iria causar essa desaceleração, explicou, é a menor oferta de divisas, já que a economia angolana “funciona quando tem divisas suficientes”.

“Seria muito interessante perceber como é que num contexto de redução das exportações como é que o país vai conseguir manter uma oferta de divisas adequada”, realçou, quando falava sobre “Angola, Sustentabilidade do Crescimento Económico: Desafios para Acelerar o Investimento Público e Privado” num evento organizado pelo Standard Bank.

Para o economista chefe desta instituição financeira, o Governo angolano deverá mudar o ritmo de implementação de reformas no país, não só para criar mais empregos, mas para gerar estabilidade de preços que permita a reposição do poder de compra dos cidadãos.

Esta mudança no ritmo de implementação das reformas deve surgir para dar resposta à problemática do desemprego e à pressão social no país, considerou.

“É claro que a pandemia teve um impacto muito negativo na economia e o desemprego atingiu um pico na sequência do covid-19, mas sem dúvidas é preciso não só gerar mais emprego, mas gerar uma estabilidade de preços que permita a reposição do poder de compra”, disse.

No entender do especialista, as políticas públicas em Angola deverão estar mais voltadas aos aspetos sociais e isso deve estar refletido no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN 2022-2027), que está na forja.

“Provavelmente estes aspetos vão fazer com que o conjunto de políticas que o Governo vai implementar olhe mais para aspetos sociais do que o que vimos no passado, onde a ênfase em reformas foi muito forte”, sublinhou.

“E isso deve-se refletir no PDN que o Governo está a preparar, mas já há alguns sinais, como o programa de aumento da produção de alimentos, ou seja, há um conjunto de programas que indiciam mais atenção à pressão social que se vive em Angola”, realçou.

O orador da 1.ª Edição do Briefing Económico 2023, promovida pelo Standard Bank Angola, falou também sobre a desaceleração que diz registar-se na inflação importada e inflação doméstica em Angola, estimuladas pela Reserva Estratégia Alimentar (REA).

“Através da REA e importação de produtos da cesta básica, o Governo tem estado de uma forma consistente a colocar neste mercado produtos a um preço estável, isso ajuda a estabilizar no curto prazo a inflação, mas também pode desincentivar o investimento”, notou.

Apontou para a necessidade de se olhar para os aspetos da sustentabilidade nas ações do Governo, tendo referido, ao mesmo tempo, que a queda da inflação (17% em 2022 e cerca de 10,5% para este ano), também abarca riscos, sobretudo a nível dos preços dos combustíveis.

Como o preço dos combustíveis não muda há muitos anos, observou, se o Governo estivesse a ajustar os preços para preços do mercado “não há dúvidas que a inflação seria muito superior”.

“Houve um esforço do Governo para subsidiar, para ajudar a conter a inflação, mas também essa política não é sustentável, a nossa expetativa é que em algum momento haverá uma correção e essa correção, sem dúvidas, que vai trazer pressão sobre a inflação”, apontou.

Em relação à produção petrolífera em Angola, Fáusio Mussá considerou existirem dois fatores que contribuem para a queda, acreditando, no entanto, que irá estabilizar em torno de 1 milhão de barris/dia.

“Podemos ver, claramente, que existe uma tendência histórica de redução da produção e essa redução reflete dois fatores principais: primeiro, não tem havido investimento suficiente para estabilizar a produção ou aumentar a produção”, disse.

A maturidade de alguns poços de petróleo e questões operacionais, que também geram alguma dificuldade em manter os níveis de produção, foi apontado como o segundo fator.

Considerou também, na sua intervenção, que o crescimento económico em Angola, em 2022, registou-se basicamente no setor não petrolífero, “sobretudo devido à queda dos volumes de produção de petróleo”.

“Este ano, espera-se uma ligeira subida em torno dos 2% na produção petrolífera, mas em simultâneo espera-se que a economia não petrolífera cresça num ritmo mais lento e o principal motivo dessa desaceleração do PIB não petrolífero tem a ver com uma oferta de divisas inferior àquela que o mercado necessita para crescer”, insistiu.

Mussá referiu-se ainda do recurso do Estado angolano ao financiamento direto por via do Banco Nacional de Angola (BNA), “algo que não acontecia deste setembro de 2021”, referindo que se a prática for contínua esse mecanismo poderá ser inflacionário.

“Era de esperar que, havendo necessidade de financiamento, o Estado (angolano) continuasse a utilizar instrumentos de mercado, por isso pensamos que esta utilização ou recurso ao BNA será uma coisa pontual, porque isso pode ser inflacionário se começar por esta via”, assinalou o economista.

Disse ainda que o valor da dívida pública angolana, em termos absolutos, não variou muito e está em torno dos 50 mil milhões de dólares (45 mil milhões de euros), mas, notou, o rácio da dívida em relação ao PIB “melhorou bastante”.

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