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Terça, 23 Julho 2019 12:12

Frustração dos cidadãos: acesso aos dólares somente nos marcos da lei

Bateram-se palmas quando o BNA anunciou a medida na semana passada, mas agora muitos clientes voltam desiludidos dos balcões dos bancos comerciais. Afinal, apesar de serem poupanças individuais, o acesso à moeda externa continua a ser “sob regras previamente estabelecidas” pela autoridade cambial

Depois do anúncio do BNA a dar conta que doravante os clientes com depósitos em moeda externa passam a ter acesso às suas poupanças, correu uma “aparente euforia” que agora se desvanece à chegada aos balcões da banca comercial, onde os clientes são confrontados com as novas regras.

Ao contrário do passado, quando os depositantes tinham “livre acesso” às suas poupanças em dólares e euros, na nova realidade este acesso é condicionado à luz das novas regras estabelecidas pelo banco central. A título de exemplo, ainda que o cliente tenha dólares depositados, o acesso aos mesmos só é facultado mediante justificação do pedido de levantamento, que só é autorizado para viagens comprovadas, pagamento de despesas, igualmente comprovadas e ou pela via de carregamento de cartões válidos para pagamento no estrangeiro.

Um cidadão que apelou ao anonimato contou a OPAÍS que se deslocou a uma dependência de um banco comercial onde tem depositados alguns milhares de dólares e solicitou um levantamento de USD 500. Depois de aguardar foi chamado a um gabinete reservado onde foi informado que deverá apresentar uma “justificação plausível” que motivasse esta solicitação.

Frustrado, o cidadão em causa bateu em retirada e procurou pelo jornal OPAÍS para denunciar o facto. Questionado por nós, revelou que a justificação para tal levantamento é a necessidade de “ir cambiar os dólares na rua onde estão a ser comercializados a preços melhores que nos bancos”. Questionado se não sabia que as medidas em curso visam essencialmente combater estas “inconformidades” que provocaram estrangulamentos no mercado até ao passado recente, o cidadão revelou desconhecer.

“Quando ouvi o anúncio do BNA, esfreguei as mãos de contente. Mas ao chegar ao banco, até para levantar USD 500 estão a pedir justificação. Parece-me que afinal o bloqueio continua”, desabafou o denunciante. Uma fonte da banca comercial apela ao BNA a “fornecer aos clientes mais informação” para que não se repitam situações como a que acabamos de descrever. Esclarece a nossa fonte que à luz da legislação, a moeda circulante em todo o território nacional, e logo, de uso em todas as formas de pagamento é o Kwanza.

O recurso à moeda externa, essencialmente dólares e euros deve ser somente para pagamentos legais a efectuar em despesas no estrangeiro. Entretanto, tais pagamentos devem ser aqueles autorizados pelo BNA de forma a prevenir o branqueamento de capitais, financiamento ao terrorismo e sustentação do mercado informal de moeda, dentre outras.

Kinguila continua, mas a minguar

Enquanto isso, prossegue o negócio da venda informal de moeda externa, com particular destaque nas proximidades das dependências bancárias e nos redutos conhecidos como Mártires do Kifangondo e Hoji ya Henda. Dizem os “operadores do mercado informal” que a vida também não lhes corre às “mil maravilhas” há muito tempo. Todavia, ainda prevalecem canais de obtenção de dólares e euros. Solicitado a debruçarem-se com detalhes sobre “tais canais” o nosso entrevistado disse ser “segredos do ofício” pelo que se recusou a abrir o jogo, aliás, o que já era de esperar.

É conclusão generalizada de que o “sustento do kinguilismo” continua a ser essencialmente a banca comercial, alguns tantos cidadãos que têm acesso a divisas sob pretexto de missões ao estrangeiro e expatriados ávidos por Kwanzas. “Aqui a luta continua”, começou por nos contar um jovem que confessa não saber fazer mais nada na vida senão a venda de moeda no mercado informal. “Enquanto o dólar for procurado e o banco não chegar aos nossos calcanhares em termos de preço, duvido que acabem com a kinguila”, asseverou desafiante o jovem que habitualmente opera na zona de Luanda Sul. OPAÍS 

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