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Quinta, 07 Março 2019 11:44

Angola Telecom em situação crítica

No dia em que comemorou 27 anos e a caminho da privatização de 45 por cento do capital, a comissão interina de gestão da empresa pública de telecomunicações, liderada por Adilson dos Santos, fez um balanço da sua actividade sem apresentar indicadores concretos.

A Angola Telecom enfrenta um cenário complexo, marcado pela falta de liquidez e prejuízos acumulados, pela interferência política, pelas dívidas a fornecedores e pelas enormes dívidas dos principais clientes. 

“Actualmente, uma das maiores fontes de receita da Angola Telecom é a venda de serviços e de capacidade para os outros operadores, que têm acumulado pagamentos em atraso. Estamos a trabalhar para resolver estas questões”, disse Bartolomeu Pereira, um dos membros da comissão interina de gestão. 

Os restantes operadores de telecomunicações utilizam os serviços da Angola Telecom nas localidades onde a sua infra-estrutura não está disponível.

No total, segundo anunciou a comissão, a dívida dos clientes ronda os 5 mil milhões de kwanzas (cerca de 16 milhões de dólares). À margem da conferência de imprensa, o Jornal de Angola apurou que, para além dos restantes operadores de telecomunicações, os maiores devedores são mesmo instituições e empresas públicas. 

“Estamos num processo de organização interna. Nos últimos dez anos, a empresa tem vindo a investir em novos sistemas de gestão. Estas ferramentas vão permitir acompanhar o desempenho dos vários departamentos em tempo real. Julgamos que, durante o ano de 2019, estamos em condições de concluir o trabalho de auditoria e publicação das contas da Angola Telecom”, explicou Bartolomeu Pereira.

O número de clientes activos passou de cerca de 200 mil para cerca de 30 mil. 

“Temos vindo a trabalhar numa reorganização do número de clientes. Há bastantes entidades que têm contratos activos mas que não utilizam os serviços. Neste momento, contamos com 6 a 7 mil clientes do segmento empresarial e à volta de 20 mil clientes individuais, para além dos serviços que prestamos aos restantes operadores”, frisou Bartolomeu Pereira.

Privado vai encontrar “bom ambiente”

Neste contexto, com a empresa descapitalizada, a entrada de um parceiro privado que terá acesso, no máximo, a 45 por cento do capital da Angola Telecom levanta algumas questões. Até porque será sempre um accionista minoritário, facto que poderá afastar alguns dos potenciais interessados em adquirir a participação na empresa.

“O que podemos afirmar é que a Angola Telecom é uma empresa com capacidade para se regenerar. Em primeiro lugar, temos aqui uma série de pessoas, de trabalhadores, com bastante valor. E queremos reafirmar o compromisso em potenciar os nossos quadros internos”, prometeu Bartolomeu Pereira.

Para além dos recursos humanos, a Angola Telecom possui outros activos importantes: uma rede nacional de infra-estruturas de transmissão que engloba redes sem fios, de fibra óptica e rádio, uma licença de operador universal, participações em empresas como Angola Cables, TV Cabo Angola, Multitel ou Infrasat e um cabo submarino, baptizado Adonis, que une a costa angolana (e que está avariado, neste momento). 

“Ainda não terminamos de inventariar todo o activo da empresa. Pensamos que, em termos contabilísticos, teremos o trabalho concluído ainda no segundo trimestre de 2019. Depois de concluído e tendo em conta o potencial da Angola Telecom, esperamos que o futuro investidor privado possa encon-

trar um ambiente propício para desenvolver as suas actividades”, afirmou Bartolomeu Pereira. 

Outra questão que pesa na actividade da Angola Telecom são os furtos e a vandalização da rede de fibra óptica por outras empresas e particulares, que acabam por utilizar as infra-estruturas sem qualquer retorno. A comissão de gestão estima que estas perdas correspondem a mais de 30 por cento da facturação mensal.

A Angola Telecom emergiu, em 1992, da fusão das empresas estatais Enatel e Eptel. É gerida, desde 2016, por uma comissão interina. A empresa pública disponibiliza serviços comerciais de voz e dados e foi a primeira a disponibilizar os serviços de telefonia móvel no país (em 2002).

Os serviços de telefonia móvel deram origem à Movicel, operadora que foi privatizada em 2009 (80 por cento do capital). A retirada da operadora do portefólio da Angola Telecom deixou a empresa em enormes dificuldades, descapitalizando-a do seu principal activo e fonte de receitas. JA

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