As detenções começaram a 20 de junho, o julgamento, por entre greves de fome e mais de seis meses de prisão de preventiva, arrancou em novembro e ao fim de sucessivos atrasos a condenação chegou a 28 de março, com penas efetivas de prisão entre os dois anos e três meses e os oito anos e meio. Até agora, nem os três diferentes recursos interpostos pela defesa impediram os jovens de já estarem a cumprir pena.
Enquanto isso, mães, mulheres e filhos assistem impotentes, do lado de fora.
"O que é que eles fizeram", questiona, em declarações à Lusa, Júlia de Oliveira, mulher do ativista José Gomes Hata, condenado a quatro anos e seis meses de prisão efetiva, por atos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores, tal como os restantes.
Desempregada e com três filhos, de três, cinco e 11 anos, conta que está a passar por dificuldades, sobretudo financeiras, mas falta igualmente o apoio moral. "Está a ser difícil a ausência do pai para os meus filhos. Para mim é chocante quando perguntam pelo pai, o maior responde sempre que o pai está no tribunal. Por decisão da família nunca o foram visitar", conta Júlia Oliveira.
Praticamente um ano depois de o "pesadelo" ter começado, admite que o dia da condenação foi o mais difícil: "Foi como se o mundo tivesse acabado", desabafa.
Mais de dois meses depois, os tribunais nada responderam ainda sobre os três recursos, um 'habeas corpus' a pedir a libertação imediata que se arrasta desde abril, recurso para o Supremo e outro para o Constitucional, que a defesa apresentou.
Alheia às questões processuais, Virgínia Micolo é mulher de Nelson Dibango, condenado a quatro anos e três meses, mas diz-se convicta que o marido saia antes do fim da pena. "Perguntam-me se não tenho medo, que possa estar a ser seguida, eu respondo que não, porque não fiz mal a ninguém e o Nelson está onde está, mas não fez mal nenhum", conta, em conversa com a Lusa.
A viver em casa dos sogros com dois filhos, de um e seis anos, os momentos de angústia são mais fortes quando as crianças adoecem e chamam pelo pai. "O mais velho pergunta pelo pai e quer saber quando vai regressar a casa e eu fico sem resposta", lamenta.
Por sua vez, Leonor João, mãe do ativista Afonso Matias 'Mbanza Hanza', garante que a Justiça só será feita quando o seu filho for colocado em liberdade: "Eu quero que ele saia, os que mataram estão livres, por que é que eles não saem", questiona.
Segundo de quatro filhos, Mbanza Hanza era professor até à altura da sua detenção, e com o seu salário ajudava a mãe, igualmente professora do ensino primário.
Agora, tudo mudou: "Agora tudo depende de mim e dos irmãos, o sustento da sua família - dois filhos e a mulher que não trabalha - falta tudo, dinheiro, alimentação", explica.
Leonor João refere que foi cortado, desde janeiro, o salário de Mbanza Hanza, sem qualquer justificação, acrescentando que também não tem apoio familiar por medo de represálias.
"No meu serviço vão lá sempre os 'sinfos' [Serviços de Inteligência e Segurança do Estado], mas nunca vieram falar comigo. As pessoas é que me contam que vão lá perguntar coisas sobre mim, à procura de qualquer irregularidade para me despedirem, eu sei", diz.
Neste processo, 15 dos ativistas estiveram em prisão preventiva entre junho e 18 de dezembro, quando foi revista a medida de coação pelo tribunal, passando então a prisão domiciliária.
As duas jovens também julgadas e condenadas nunca chegaram a ser detidas e aguardaram o desfecho do julgamento, que decorreu entre 16 de novembro e 28 de março, em liberdade.
Lusa