“Era impossível fazer diferente porque a partir do momento em que se dá o 25 de Abril de 1974 em Portugal, a vontade que os soldados portugueses têm de continuar uma guerra que lhes foi vendida como uma guerra que fazia parte de um Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor, desaparece”, considera.
Fernando Jorge Cardoso, professor catedrático convidado da Universidade Autónoma de Lisboa e especialista em assuntos africanos, considera que “não se podia pedir a unidades de soldados que estão no terreno para morrerem em nome de uma pátria” que já não existia.
“Na verdade, os dados foram lançados a partir do momento em que o regime fascista em Portugal não descoloniza nos anos 1960 e se mantém até 1974, no momento em que a generalidade da descolonização é feita em todo o mundo e, na verdade, por causa desse regime, não se faz nas antigas colónias portuguesas”, recorda.
Para o investigador, só seria possível uma descolonização diferente se “o regime português fosse um regime democrático e no início de 1960 tivesse, na verdade, feito aquilo que os outros países fizeram. Mas isso não aconteceu”.
O relacionamento da antiga potência colonial com as suas antigas colónias, agora independentes, entrou em 1996 numa nova fase, com a fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização que considera não ter cumprido os objetivos a que se propôs.
“Neste momento a CPLP transformou-se num conjunto de reuniões, de declarações, de um secretariado que existe em Lisboa e depois de meia dúzia de tostões para fazer meia dúzia de projetos de cooperação”, avalia.
Além dos vários problemas da organização lusófona, que assentam nos interesses particulares de cada um dos nove Estados que a integram, persiste o desconhecimento nas sociedades civis dos países-membros, onde “ninguém sabe o que é a CPLP”.
A organização “está muito mais avançada” do ponto de vista das relações culturais, linguísticas ou mesmo desportivas do que da relação institucional e económica, considera, defendendo que “não faz sentido tentar transformar a CPLP numa organização de cooperação empresarial, numa organização de cooperação económica”, um projeto “voltado ao fracasso” porque “não há dinheiro”.
Das cinco antigas colónias, a Guiné-Bissau é o único país que celebrou este ano 51 anos de independência, que proclamou unilateralmente em 24 de setembro de 1973.
Os restantes quatro países, Moçambique (25 de junho), Cabo Verde (05 de julho), São Tomé e Príncipe (12 de julho) e Angola (11 de novembro) celebram 50 anos de independência.