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Quarta, 09 Julho 2025 21:52

Condecorações: Há quem tenha saudades de Eduardo dos Santos

O anúncio da condecoração póstuma ao ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, reacende o debate sobre o seu legado. Para uns, é reconhecimento merecido; outros recordam abusos, corrupção e desigualdade.

O ex-Presidente José Eduardo dos Santos vai ser condecorado a título póstumo, no âmbito das comemorações dos 50 anos de independência de Angola.

O nome de Eduardo dos Santos integra uma extensa lista de condecorações de militares das Forças Armadas Angolanas, divulgada esta quarta-feira (09.07) pela Presidência da República, onde também consta o nome do primeiro Presidente do país, António Agostinho Neto.

O que pensam os angolanos sobre estas condecorações? Será que José Eduardo dos Santos, que os críticos acusam de ter governado Angola com mão de ferro, deveria ter recebido a distinção?

Contributo para a paz

Quando muito, a condecoração de José Eduardo dos Santos peca por tardia, a avaliar pelas palavras de Judilson Julinho.

O jovem angolano, residente em Menongue, diz à DW que é impossível dissociar José Eduardo dos Santos da história de Angola independente. O ex-Presidente governou o país durante quase quarenta anos e, "durante este percurso, conseguiu alcançar a paz e a reconciliação nacional, que se vive há 23 anos".

"Houve também avanços significativos no setor económico, pois Angola desenvolveu muito durante o seu mandato", declarou.

O nome de José Eduardo dos Santos aparece na lista de condecorações da Presidência da República em segundo lugar, logo após Agostinho Neto, ambos agraciados a título póstumo com a Medalha da Palma Militar, Classe única.

As distinções, segundo a Presidência, servem para reconhecer e incentivar as carreiras militares e dignificar oficiais e subalternos "que tenham prestado um exemplar contributo na elevação da nação e às Forças Armadas Angolanas".

Herança controversa

José Eduardo dos Santos destacou-se na luta contra o colonialismo português. Foi também designado pelos seus correligionários de "arquiteto da paz", não só em Angola como na região Austral. Mas a sua governação também foi alvo de contestação.

O ex-Presidente angolano foi acusado de deixar um legado de abusos aos direitos humanos e valores democráticos. No final da sua governação, em 2017, o fosso entre ricos e pobres era "tremendo", segundo os críticos.

Para o académico Ângelo Kapwatcha, o ex-Presidente José Eduardo dos Santos perdeu uma grande oportunidade de impulsionar o país – particularmente, no seu segundo período de governação, que coincidiu com a paz em Angola e altas receitas da venda do petróleo.

"Este dinheiro financiou a máquina da corrupção, financiou a opacidade na gestão, financiou a arrogância, a prepotência, financiou todas as formas de maltrato ao povo. Foi assim que uma elite pequena se tornou muito rica contra uma maioria esmagadora que já era pobre", criticou.

Méritos reconhecidos

Ainda assim, o ativista dos direitos humanos Cruz de Deus diz que o ex-Presidente José Eduardo dos Santos merece uma condecoração por tudo aquilo que fez durante a sua trajetória política.

"Na história do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e do país, jamais haverá um Presidente como José Eduardo dos Santos. Primeiro, pela longevidade do seu poder; segundo, por tudo o que fez. Apesar de alguns desvios, foi uma figura equilibrada, que tudo fez para que se conquistasse a paz, mesmo nos moldes em que se conquistou", argumentou.

Mas será este um saudosismo motivado também por algum desapontamento com a governação do atual Presidente angolano, João Lourenço?

O académico Ângelo Kapwatcha acredita que sim: "O povo angolano merecia muito mais do que o sofrimento que tem vivido", concluiu.

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