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Terça, 05 Novembro 2013 18:10

Desalojados do Sambizanga e Cazenga duvidam do seu regresso

Questionados sobre o futuro, os moradores deslocados mostraram-se duvidosos quanto ao cumprimento da promessa de regresso, assim que terminarem as obras de requalificação que estão a ser realizadas pelo Gabinete Técnico de Reconversão Urbana do Cazenga e Sambizanga (GTRUCS).

"Não acredito que este governo me devolverá a casa que já partiu", resumiu Mãezinha, antiga moradora do bairro da Boavista, actualmente residente no Zango 3, numa casa de três quartos com dois metros quadrados cada, para mais de 12 pessoas.

Até ao momento, as obras realizadas no Sambizanga e no Cazenga correm sem sobressaltos, segundo Bento Soyto, presidente do gabinete técnico encarregue da reconversão, em entrevista à agência de notícias Angop. Mas os cidadãos retirados dessas áreas dizem não ter contacto com tal departamento e desconhecem o dito programa inclusivo.

"Nem sequer sei desse plano de regressarmos ao bairro de onde saímos e nunca ouvi falar", adiantou António Morais.

O processo inclusivo, em formato "bola de neve", foi recentemente reforçado pelo presidente do GTRUCS, Bento Soyto, quando afirmou que a "filosofia do projecto é tornar o processo de reassentamento inclusivo e realizá-lo in situ".

Segundo aquele responsável, cada uma das famílias transferidas para o Zango "terá direito a uma habitação na primeira fase do Cazenga e Sambizanga" e é a esse ciclo permanente que aquela entidade chama "de bola de neve".

O Novo Jornal deslocou-se ao Zango 4, onde se concentra o maior número de desalojados do município do Cazenga, à luz da reconversão urbana, e aí encontrou Francisco Machado, mototaxista, que também diz desconhecer o projecto de inclusão do GTRUCS.

"Já estou aqui desde 2011 e, pelo que sei, ninguém voltará ao Cazenga, ainda por cima em cubicos novos", frisou Machado.

Quando vivia no Cazenga, Francisco sustentava a família com a venda de roupa no mercado Asa Branca, situação que se alterou devido à distância entre o Zango 4 e a praça.

"Nos primeiros meses ainda ia, mas depois dei conta que gastava muito dinheiro em táxis, por isso, decidi comprar uma moto e trabalhar como kupapata", salientou, admitindo que os rendimentos financeiros que obtém actualmente são razoáveis. Todavia, preferia a anterior ocupação.

"Esse serviço de kupapata dá para sustentar a familia, que é o mais importante. Não é muito mas é razoável. Se dêsse para voltar ao Cazenga, voltaria sem pensar duas vezes", concluiu.

O acesso ao transporte para se deslocar aos diversos pontos de Luanda constitui o maior problema de quem reside nos Zangos. Dificuldade que é atenuada pelos moto-táxis. São elas que "facilitam" a vida dos populares no acesso até à via principal (Viana-Calumbo), onde "apanham" os "indispensavéis azuis e brancos" (hiaces) ou mini-autocarros.

"Não tínhamos essas complicações no nosso Nzenga, mas já nos habituámos", indicou uma jovem sem se identificar.

Por enquanto, as dúvidas persistem e só serão dissipadas daqui a 15 ou 20 anos, data em que se prevê estar concluído o programa de reconversão urbana do Cazenga e Sambizanga. "Foi assim que programámos o projecto e é assim que pretendemos concretizá-lo", garantiu Bento Soyto.

Sedrick de Carvalho / Novo Jornal 

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