Quarta, 03 de Setembro de 2025
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Quarta, 03 Setembro 2025 13:02

Operação Marquês: Sócrates admite que se reuniu com Manuel Vicente para falar do grupo Lena

O antigo primeiro-ministro José Sócrates admitiu hoje em tribunal que em 2014 se encontrou com o então vice-presidente de Angola em Nova Iorque (EUA) para interceder pelo grupo Lena, rejeitando que tenha sido pago pelo contacto.

O Ministério Público alega, na acusação do processo Operação Marquês, que o contacto entre Manuel Vicente e José Sócrates, três anos depois de este ter deixado de chefiar o Governo, foi compensada financeiramente pelo grupo Lena, com o dinheiro a passar por várias empresas.

"É falso, nunca recebi dinheiro. Não me dedicava ao 'lobbying'", afirmou hoje José Sócrates na sétima sessão do julgamento, em Lisboa.

O ex-governante reiterou que fez o contacto no "estrito cumprimento" do que considera "serem os deveres de antigo primeiro-ministro" e desvalorizou o facto de, numa primeira chamada com Manuel Vicente na qual foi combinado o encontro em Nova Iorque, ter dito que em causa estavam pessoas a quem devia "ao longo" daqueles anos "muitas atenções".

Questionado pelo procurador Rómulo Mateus sobre o uso desta expressão, José Sócrates explicou o seu uso com o facto de se tratar de pessoas que o tinham apoiado em campanha eleitoral.

"Em 2009, essas pessoas apoiaram-me. São pessoas que eu conheci, que eu estou a promover junto de alguém internacionalmente. Achei que era uma frase adequada", afirmou o chefe de Governo entre 2005 e 2011.

Em 09 de julho, o antigo primeiro-ministro dissera que conheceu o administrador do grupo Lena Joaquim Barroca num comício do PS em 2009.

Inicialmente, José Sócrates e Manuel Vicente ponderaram encontrar-se em Angola, mas a reunião acabou por acontecer em Nova Iorque depois de se aperceberem que estariam na cidade norte-americana na mesma data.

O pedido do grupo Lena estaria relacionado com falta de pagamentos numa obra que o grupo tinha em curso em Angola e o objetivo seria que os seus administradores se reunissem com o à data vice-presidente de Angola.

Na sessão desta manhã, Rómulo Mateus lembrou ainda a disponibilidade expressa por José Sócrates em 09 de julho para entregar uma lista com as outras empresas pelas quais terá intercedido depois de sair do Governo.

O ex-governante retorquiu que não o fez porque as empresas visadas não autorizaram a que tal fosse revelado publicamente.

Num dia dedicado a esclarecimentos sobre temas falados nas últimas sessões, o Ministério Público confrontou também José Sócrates com uma lista dos seus contactos telefónicos na qual surgem dois números com a denominação "RSalgado", que se referiria a Ricardo Salgado.

Segundo uma perícia, os contactos terão sido introduzidos numa altura em que o antigo chefe de Governo disse não ter o número do ex-banqueiro.

"Nem sequer sei se são os números dele, honestamente. E porquê dois? Talvez os tenha posto nesta altura, não tenho memória", insistiu, sublinhando que era a sua secretária quem falava com a secretária do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), com quem "fazia cerimónia".

José Sócrates, de 67 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.

No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhe são imputados.

O julgamento decorre desde 03 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa.

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