Rejeitando a designação de ala brasileira, o bispo angolano que lidera a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Angola em substituição do brasileiro Honorilton Gonçalves – após as polémicas que envolveram este líder religioso, que chegou a ser arguido num processo - fez um historial dos conflitos iniciados em novembro de 2019 e sublinhou que atualmente não há obstáculos legais à reabertura dos templos da IURD.
Em novembro de 2019, dissidentes da IURD em Angola acusaram a direção brasileira de crimes financeiros, racismo, discriminação e abuso de autoridade, entre outros, e constituíram uma ala reformista, encabeçada por Valente Bizerra Luís, entretanto reconhecida pelo Governo angolano como legítima representante do movimento religioso fundado por Edir Macedo.
Na sequência, foram constituídos arguidos quatro membros da liderança da IURD, que foram absolvidos em março de 2022, da maioria das acusações, exceto o ex-responsável Honorilton Gonçalves, condenado a três anos de prisão, de pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica.
A sentença, que transitou em julgado em 21 de dezembro de 2022, determinou também o desbloqueio das contas e restituição dos bens arrolados ao processo, nomeadamente os templos que tinham sido apreendidos pela Procuradoria-Geral da República de Angola e lacrados por determinação legal.
Alberto Segunda explicou que os locais de culto ainda não abriram porque estão à espera de um “procedimento administrativo” e querem “um pronunciamento público” sobre estas questões por parte do Estado angolano.
“Entendemos que todos os templos deveriam já estar abertos e acreditamos que vão abrir, de forma gradual, até por conta do estado crítico dos edifícios”, disse o bispo da IURD, já que alguns destes, ao longo dos três anos, ficaram degradados devido a chuvas e falta de manutenção.
Salientou ainda que, no caso das catedrais que estão nas mãos da ala reformista, os órgãos de Direito têm mecanismos para sanar essa situação: “Não somos nós que vamos lá tirar os nossos irmãos, com certeza serão notificados e dentro dos procedimentos judiciais e administrativos esses templos também serão devolvidos”.
Alberto Segunda vincou que a IURD é autónoma em Angola e dirigida 100% por angolanos, contando com cerca de cem pastores, todos de nacionalidade angolana, rejeitando a ideia de se tratar de uma “ala brasileira”.
Afirmou igualmente que desde que começou o conflito a decisão do líder fundador foi dar autonomia à igreja e que o próprio se desligou dos assuntos da IURD em Angola.
“Isso não me impede de ir ver uma pregação do meu líder, mas não temos dependência administrativa-financeira, ele é o nosso fundador e o nosso líder espiritual”, afirmou Alberto Segunda.
O bispo criticou as “muitas notícias falsas” contra a igreja cujo objetivo é manchar o nome das entidades e desafiou o advogado David Mendes (que representou o ramo dissidente no processo movido contra os líderes da IURD) a provar “onde há corrupção”, salientando que a igreja “é contra essas práticas” e anunciando que vai intentar uma queixa-crime contra o advogado e comentador da TV Zimbo.
Queixou-se também de que essas acusações ajudam a propalar a violência como aconteceu recentemente em Benguela em que membros da outra ala “saíram à rua para fazer confusão”, mostrando-se favorável à reposição da ordem e tranquilidade por parte da polícia.
O bispo frisou que tem apelado aos irmãos “que voltem à igreja-mãe” e que a existência de outra ala é um “não assunto”, acrescentando que não há qualquer problema com os fiéis.
Alberto Segunda disse que tem havido vários encontros “produtivos” com os líderes da ala reformista em foros religiosos e institucionais para mediação do conflito, com conversas “serenas”.
O responsável encerrou a conferência de imprensa destacando que a IURD já tem um registo, um nome e uma marca e que “se há coisas a corrigir é isso que deve ser feito, em vez de se criar situações que dividam os fiéis”.