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Sábado, 05 Junho 2021 10:12

Jarda transforma jovens de “desejadas” a “moribundas”

De diferentes idades, doentes e algumas com as nádegas a apodrecerem, por terem injectado biopolimeros sintéticos, a famosa “jarda”, na busca do corpo perfeito, procuram por ajuda médica. Os kuduristas K2 e Preta Maldita alertam sobre os perigos, através

No momento em que a urna contendo os restos mortais da bailarina e cantora Julieta Gomes Manuel, mais conhecida por Joelma Paraíso, integrante do grupo as “Rabudas do Cassenda”, descia a uma dos buracos do Cemitério da Camama, a sua amiga e colega de arte, Preta Maldita, concluiu ser a altura de retirar a jarda que a torna uma das mulheres mais “avantajadas” do país. Caso contrário, em seu entender, poderá ser a próxima artista a ser sepultada por causa de doenças provocadas pela injecção excessiva de anabolizantes no organismo.

À saída do cemitério, no dia 27 do mês transacto, dezenas de pessoas, segundo ela, chingavam todas aquelas que “jardaram” que poderiam ser as próximas. Essa situação, associada às imagens do corpo de Joelma Paraíso num dos leitos do hospital Josina Machel, que circularam nas redes sociais, bem como os comentários nada abonatórios a respeito do que ela fez em vida, reforçaram a sua convicção de que chegou a hora de a retirar. A artista morreu no dia 24 de Maio, no referido hospital.

A jovem, nascida há 30 anos, cujos pais atribuíram o nome de Maria do Carmo Domingos, chorava não só pela morte da amiga, como por si própria e pelos seus dois filhos, de 13 e 11 anos que poderão ficar órfãos de mãe, se não conseguir ajuda para retirar os medicamentos que estão no seu sangue. Uma “maldição” que não associa ao prefixo, Maldita, que escolheu para complementar o nome artístico, por influência das suas amigas que reconhecem a persistência, como uma das suas virtudes, e a teimosia, como um dos seus defeitos.

Em entrevista a OPAÍS, Preta Maldita contou que decidiu recorrer a este método para concretizar o seu desejo de ter corpo avantajado em 2014. Um ano depois de se

“Agora sei que a jarda prejudica e pode levar mesmo à morte. Causa problemas respiratórios, reduz a circulação do sangue e pode dar cabo dos rins”

Preta Maldita, kudurista e empreendedora

Sexta-feira, 04 de Junho de 2021 separar do pai dos seus filhos, com quem viveu sete anos, a contar dos seus 18 anos de idade.

Porém, conta que, quando vivia maritalmente, jamais pensou em tal prática. A ideia surgiu ao tomar conhecimento de que uma sua amiga fez.

Através dela conheceu um jovem, cujo nome optou por não revelar, que aplicava as injecções em troca de 200 mil Kwanzas por cada ciclo. A quantidade de ciclo vária em função do tamanha que se pretende ter das nádegas. Neste valor não está incluso o montante das ampolas, seringas, álcool e algodão.

60 ampolas por dia em injecções

Começou a fazer o primeiro ciclo, que é constituído por uma dose de 10 caixas, contendo cada uma delas 100 ampolas. “No princípio metia 60 ampolas, repartidas em 30 de cada nádega, por dia”, frisou. Quando usávamos seringa de 10 ml, em cada uma delas inseriam 10 ampolas e eram-me aplicadas três injecções por cada nádega”, frisou.

De 2014 a finais de 2015 tudo lhe corria numa aparente perfeição, tendo aumentado a quantidade de ampolas de 60 para 100 por dia. Tornara-se no centro das atenções onde quer que fosse. Um percurso que foi interrompido por conta de uma alergia provocada pelas mais de 36 mil e 500 ampolas de hormonas que lhe haviam sido aplicadas.

Descobriu que as primeiras injecções que apanhou foram uma mistura de hormonas masculinas e femininas. Primeiro começou a sentir a alteração da voz, que se tornou muito grossa. “Parecia que um homem morreu dentro de mim”, disse.

Com isso, passou a ter vergonha de falar, passando a observar mais do que participar de conversas. Começou a ter bigode e alterou o tamanho do clitóris, aumentando-o e tornando-o mais grosso. O que para si passou a ser bastante vantajoso. “Gostei porque aumenta o desejo sexual e prazer. Uma coisa que não sentia. Vivia maritalmente antes de jardar e quando fazia sexo só agradava o meu marido. Eu não sentia desejo sexual, mas quando o clitóris cresceu, eu passei a sentir tal desejo. Gostei desta parte”, frisou.

Kudurista alerta que há miúdas com as nádegas a apodrecer

O kudurista K2, um dos promotores da campanha Stop Jarda, afirmou que existem muitas adolescentes e jovens que têm morrido, nos últimos tempos, em consequência de doenças provocadas pelo uso excessivo de tais anabolizantes

Omúsico disse que por não serem muito conhecidas, ao contrário da malograda Joelma Paraíso, de 24 anos, o passamento físico delas acaba por não ter repercussão na mídia tradicional e nas redes sociais.

“Há muitas miúdas, com idades compreendidas entre os 15 e 18 anos, doentes e outras que já morreram por jardarem”, frisou, sublinhando que algumas delas podem ter problemas psicológicos.

Contou que foi contactado por uma das tias de Joelma Paraíso que está aflita pelo facto de a outra sua sobrinha, residente nos arredores do mercado do Cantintom, estar gravemente doente com uma nádega maior do que a outra.

A família já solicitou apoio da sociedade, mas sem sucesso. Entretanto, por não terem possibilidades financeiras para custear as despesas com tratamento e a medicação para retirar a jarda, estão a orar apenas. .

Na mesma situação se encontra

outra jovem, residente em Cacuaco, que está com as nádegas a apodrecer por ter jardado, há seis meses.

Para ressaltar que é possível recuperá-las, o artista recordou o caso da cantora Samara Panamera que passou pela mesma situação, afirmando que ela só foi

K2, kudurista salva porque os familiares conseguiram suportar as despesas com a assistência médica e medicamentosa a que foi submetida.

Neste momento, participam da campanha oitos jovens que estão arrependidas por terem alterado o corpo através destas substâncias e não têm dinheiro para custearem o tratamento. Situação que contrasta com o investimento que alegadamente elas fizeram com a jarda.

“Tem moças que chegam a gastar cinco a 10 milhões de Kwanzas para terem o corpo que consideram perfeito. Esses medicamentos não são baratos”, frisou.

Segundo o nosso interlocutor, elas conseguiam amealhar tais valores através de alguns homens com os quais se envolvem sexualmente, atraídos pela sua forma física.

“Elas gostam de vida fácil. Mas, neste momento, não têm dinheiro. Apercebi-me disso através das dificuldades que tiveram para enterrar a amiga delas [Joelma Paraíso] que deixou, como herança, cabelos, calçados e telefones”, detalhou, sublinhando que as pessoas com poder financeiro que julgavam serem suas amigas as abandonaram.

Por outro lado, K2 disse que a sua preocupação prende-se com o facto de que, desde que as “jardadas” se tornaram cantora deste género musical de massas, aumentou significativamente a quantidade de adolescentes e jovens que estão a aderir a essas práticas.

“Essas moças são má influência para a sociedade. A ministra da Saúde [Sílvia Lutukuta] deve prestar mais atenção a esse assunto”, frisou. Acrescentou de seguida que “necessitam da ajuda de médicos e psicólogos para acompanharem tais jovens, de modo a se evitar o pior”. Defende que as pessoas que aplicam tais injecções devem ser responsabilizadas criminalmente por estarem a pôr em risco a vida de muitas adolescentes e jovens. São pessoas que não têm conhecimento de medicina e o fazem com base em experiências que tiveram. “Estes jovens deviam ir preso”, frisou.

“Elas gostam de vida fácil. Mas, neste momento, não têm dinheiro” OPAÍS

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