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Sexta, 28 Agosto 2020 17:42

"É nojento que Portugal se tenha tornado em lavandaria de elites angolanas": diz Rui Pinto

Rui Pinto deu a primeira entrevista após ser libertado, e depois de quase 9 meses de prisão, primeiro na Hungia e depois em Portugal. Ao Der Spiegel, o 'hacker' falou do pouco que pode sobre os casos Football Leaks e Luanda Leaks.

Os jornalistas não identificam os locais da entrevista ao "denunciante" do Football leaks, que estará escondido nos arredores de Lisboa, sob proteção. "A minha vida ainda está em risco", admite Rui Pinto. De bom-humor, falou à newsmagazine antes da final da Champions (quase parece irónico), mas não viveu as emoções do futebol, estando longe do Estádio da Luz, numa casa segura e sob proteção policial.

Rui Pinto tem que consultar os agentes da polícia quando quer sair e a entrevista decorreu com fortes medidas de segurança. De máscara, chapéu e óculos de sol, apareceu para a primeira entrevista num carro descaracterizad; a segunda entrevista decorreu num apartamento secreto. "Não posso responder a tudo. O tribunal é o sitio certo para explicar a minha posição", explicou.

Antes de ser extraditado, diz que foi alvo de assédio e "tortura psicológica" na prisão de Budapeste, Hungria, onde esteve dois meses. Seguiram-se mais de seis meses de isolamento já em Portugal, novamente na cadeia. "Depois de sair do isolamento, às vezes tinha problemas em concentrar-me", confessa o pirata informático.

Apesar de saber que corre risco de vida com as revelações feitas, não só no caso Football Laks como também no Angola Leaks, Rui Pinto afirma: "Consigo dormir muito bem à noite".

Não fala sobre como teve acesso aos milhões de documentos privados que originaram os escândalos, e diz que o seu papel foi meramente de pesquisa, organização e análise de eventuais violações da lei, antes de passar as informações a jornalistas e investigadores. Nega que seja um hacker, ou pirata informático, e assume-se apenas como "delator" ou "denunciante".

Fala sobre o caso Doyen para dizer que lamenta o seu envolvimento e a extorsão levada a cabo à agência de marketing desportivo, em que o jovem é suspeito de entrar no sistema informático da empresa e exigir entre 500 mil euros e um milhão para não divulgar os documentos que conseguiu ‘roubar’.

"Arrependo-me especificamente de uma coisa: ter tido contacto com o Nélio Lucas [diretor da Doyen]", afirma. O contacto feito também com o advogado de Nélio Lucas abaria por ser ‘apanhado’ nas escutas das autoridades portuguesas. "Era inocente", admite sobre os crimes que praticou em 2016.

Sobre a tentativa de que o dinheiro resultante da extorsão à Doyen passasse por paraísos fiscais, Rui Pinto diz que quebrou negociações antes de a quantia mudar de mãos, pelo que acredita que não cometeu nenhum crime "Vou explicar tudo em tribunal quando for necessário", adianta.

O acordo com as autoridades portuguesas

Rui Pinto diz que sempre quis trabalhar ao lado da polícia portuguesa, sempre na condição de que os documentos que tem guardados não possam ser usados contra ele, algo que o Ministério Público não concordou, mas eventualmente a pressão sobre o caso, associado à divulgação dos documentos do Luanda Leaks, terá levado ao acordo com as autoridades.

Sobre o caso Luanda Leaks, que envolve a empresária angolana Isabel dos Santos, Rui Pinto é direto: "É nojento que Portugal se tenha tornado numa lavandaria das elites angolanas", referindo que os governantes da família dos Santos enriqueceram às custas da pobreza extrema da população angolana.

Questionado sobre se acha que vai voltar para a prisão, Rui Pinto diz: "Acho que não". A equipa de advogados de Rui Pinto, Francisco e Luísa Teixeira da Mota e o francês William Bourdon querem chamar 45 testemunhas para sua defesa, incluindo o delator norte-americano Edward Snowden.

O julgamento de Rui Pinto no âmbito do processo Football leaks começa no dia 4 de setembro.

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