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Segunda, 17 Março 2014 07:46

Água da EPAL desviada para abastecer fábrica de gelo de chineses

Marcelina Tavares está a ser acusada de se apropriar de uma tubagem da EPAL, para abastecer uma fábrica de gelo gerida por chineses. O negócio, que deixa cerca de 2.000 moradores na secura, expande-se há dois anos no município de Cacuaco, em Luanda, mas só chegou ao conhecimento da empresa através do nosso jornal.

Moradores do bairro Boa Esperança II e Balumuka contaram ao Agora que Marcelina Tavares se tem aproveitado do facto de a sua residência estar fixada a sete metros do chafariz que fornece água aos residentes. Rebeca Salomão, moradora no Boa Esperança II, adianta que a cidadã em causa "sempre defendeu, perante os vizinhos, que a parcela de terra por onde passa o cilindro de água da EPAL é da sua propriedade", alegando que, por essa razão, pode usá-la "a seu bel- -prazer".

O resultado, relatam os residentes, é um negócio de venda de água a chineses e costa-marfinenses, o qual se expande diante do prejuízo de cerca de 2.000 pessoas, obrigadas a gastar cerca de 100 Kz por cada bidão de água. Apesar de não desmentir as transacções - que têm como finalidade a produção de gelo e refrigerantes caseiros -, a acusada alega que a apropriação da tubagem, sita na rua da Conduta, foi realizada com o consentimento da Comissão de Moradores, entidade responsável pela administração do imóvel.

ACUSADA GARANTE TER O AVAL DA COMISSÃO DE MORADORES.

Por sua vez, a Comissão de Moradores diz desconhecer as manobras feitas por Marcelina Tavares, demarcando-se da polémica. "Isso não corresponde à verdade. Não é nosso direito privatizar ou dar em exclusivo o consumo dos bens públicos a particulares", disse fonte da comissão. Marcelina Tavares insiste, contudo, na ideia de que não está a lesar ninguém. "Faço isto somente de noite, para reservar água e abastecer a fábrica de gelo", argumenta, acrescentando que os clientes "são legítimos proprietários" das instalações que estão a ser abastecidas.

"Nunca tive a intenção de prejudicar ou pôr em causa o direito das pessoas ao consumo do bem público", assegura a moradora. Embora os transtornos se arrastem há dois anos, Luís Vieira, responsável da EPAL naquela área, garantiu ao nosso jornal que só agora está a ter conhecimento do caso. "É difícil acreditar que situações dessas aconteçam diante dos olhos dos cidadãos lesados, sem que haja denúncias. Esperamos que os moradores colaborem, a fim de que os garimpeiros sejam punidos nos termos da lei", disse.

O responsável garante também que o caso vai ser averiguado, criando-se condições para "bloquear as perfurações introduzidas no cilindro da EPAL pela cidadã acusada, permitindo-se que os moradores voltem a usufruir do bem público". Luís Vieira avançou ainda que o processo vai ser submetido à investigação policial.

POPULAÇÃO AGUARDA RESPOSTA DA POLÍCIA.

Além das acusações de apropriação indevida do património colectivo, os moradores lembram que está em causa um problema de saúde pública. "A situação é deveras lamentável, pelo facto de estarmos a consumir água turva proveniente de cacimbas e reservatórios domésticos não desinfectados", alerta Rebeca Salomão. Ademais a esta realidade, está também em causa a poluição causada pela fábrica de gelo, de propriedade chinesa.

No dizer dos moradores, nem a Polícia consegue intervir a favor do bem-estar comunitário. "É uma situação assustadora porque, além de estarmos privados de água potável, somos obrigados a suportar todas as noites o barulho ensurdecedor e a inalação do dióxido de carbono proveniente do local", defende Paulo Jorge.

O morador acrescenta que a população já apresentou queixa à Polícia, sem que, até ao momento, a mesma tenha produzido qualquer consequência.

AGORA

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