A reação surge na sequência da sessão plenária extraordinária de hoje, em que foi deliberada a proposta de criação de uma comissão eventual para dar tratamento à iniciativa da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição, de destituir o Presidente da República, que foi rejeitada com 123 votos contra e uma abstenção.
O porta-voz da Assembleia Nacional que é do MPLA, Manuel Dembo, salientou que os deputados da UNITA “têm deveres e obrigações e não apenas direitos como procuram alegar” e apelou ao “sentido de Estado e respeito pelas regras democráticas consagradas constitucionalmente”.
Salientou ainda que os deputados devem pautar a sua atuação por uma profunda vinculação à Constituição, ao regimento e à ética parlamentar.
A sessão plenária decorreu em ambiente tenso com os deputados dos dois maiores partidos – Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) e UNITA, oposição - a divergirem quanto ao método de votação proposto pela presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira.
A UNITA pretendia uma votação secreta, como forma de garantir que todos os deputados pudessem votar livremente, mas esta pretensão foi contrariada pelo MPLA.
A plenária decorreu à porta fechada, mas vários deputados da UNITA partilharam vídeos nas redes sociais mostrando o ambiente tenso e ruidoso, com membros deste grupo parlamentar a mostrarem o seu descontentamento e a gritar “abaixo a ditadura” e ”vergonha”.
O MPLA declarou, pela voz do seu secretário para os assuntos políticos e eleitorais, João de Almeida Marins “Ju Martins”, que o processo está encerrado, enquanto o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, entende que “não houve resolução nenhuma” e que “o que se passou não está conforme a legalidade”.
A iniciativa do grupo parlamentar da NITA foi publicamente anunciada em julho deste ano, apresentando como fundamentos a violação grave da Constituição da República, por atentado contra o Estado Democrático de Direito, por meio da subversão de regras de execução orçamental, da economia de mercado e do sistema republicano, bem como por prática de corrupção, peculato, tráfico de influências e reiterada prática de nepotismo.
O documento, com cerca de 100 páginas e mais de 200 articulados, foi subscrito por 90 deputados da UNITA, identificando mais de 200 provas documentais e arrolando como testemunhas 40 cidadãos.
O parlamento angolano conta com 220 deputados: 124 do MPLA, 90 da UNITA, dois da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), dois do Partido de Renovação Social (PRS) e dois do Partido Humanista de Angola (PHA).
O MPLA, partido no poder desde a independência, em 1975, voltou a vencer as eleições gerais realizadas em agosto de 2022, mas perdeu um milhão de votos, embora mantenha a maioria absoluta.