Para João Pereira Massano, do ponto de vista do ambiente estratégico global, o continente africano regista “convergências sem precedentes de ameaças internacionais e instabilidade”.
“Ameaças estas que vão desde os conflitos diretos e indiretos, sendo que a rivalidade entre as superpotências, nomeadamente os Estados Unidos da América (EUA) e a Federação Russa continuam a ter forte impacto na base institucional e económica das economias em desenvolvimento”, disse hoje, em Luanda.
Falando na abertura Conferência dos Diretores de Inteligência Militar dos EUA e de África 2023, sob os auspícios do Comando para a África dos Estados Unidos (AFRICOM, na sigla inglesa), referiu que o mundo vive um período de “grandes incertezas”.
Apontou o “aumento exponencial” de focos de violência extrema e, consequentemente, a instabilidade e a insegurança em várias regiões do mundo, nomeadamente na Europa Oriental, as tensões na região do indo-pacífico, no Golfo Pérsico, na península coreana e no Tigrey, corredor do Sahel e no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) como fatores que propiciam “incertezas”.
“As guerras e as alterações climáticas estão no topo da agenda de prioridade dos governos, das organizações internacionais, regionais e sub-regionais, um pouco por todo o mundo, porque estão em causa a segurança, a estabilidade e a soberania dos Estados”, salientou.
A ausência dos fatores de segurança, estabilidade e soberania, considerou, significa "o caos" e aos Estados, nomeadamente os decisores, compete "lançar mãos aos recursos operacionais, técnicos e tecnológicos disponíveis para identificar e anular todo e qualquer ameaça ou fator indutor destes cenários”, defendeu.
Perante o cenário descrito, o general João Pereira Massano considerou também que os chefes de inteligência militar têm a “responsabilidade estratégica de auxiliar o planeamento e a decisão das nossas lideranças políticas na defesa dos mais altos interesses dos nossos Estados”.
O oficial superior das Forças Armadas Angolanas (FAA) assinalou que a mudança gradual de normas prescritas de multilateralismo para unilateralismo, “sobretudo por parte das grandes potências”, quando os seus interesses nacionais são ameaçados, “minam” os mecanismos internacionais.
Considerou que a natureza prolongada do conflito Rússia-Ucrânia é geradora de múltiplos impactos nas economias de todo o mundo, em particular as economias emergentes, “que se veem obrigadas a alterar ou reprogramar as suas agendas e planos nacionais de desenvolvimento”.
“Ligado direta ou indiretamente a este último, acompanhamos as mudanças inconstitucionais de governos legitimamente constituídos, o reacender de velhos focos de conflito e de insegurança e o surgimento de novos conflitos com relevante potencial de expansão no Sudão, na região leste da RDCongo e a norte de Moçambique”, assinalou.
“Não menos preocupante será, certamente, o surgimento e a expansão do terrorismo, do radicalismo religioso e de conflitos sócio-tribais, chamamos atenção, por isso, para o Sudão hoje mergulhado num conflito efetivo depois de várias alertas de organizações internacionais”, notou.
Realçou igualmente, na sua intervenção, a abordagem regional e internacional articulada para fazer face à ameaça terrorista na região do Cabo Delgado, “onde têm sido alcançados resultados positivos”.
Os referidos resultados, prosseguiu João Pereira Massano, também se registam no leste da RDCongo onde têm sido desenvolvidos esforços diplomáticos e outros no sentido de encontrar as melhores soluções para estancar a ameaça “que ainda representam alguns grupos armados que ocupam e exploram ilegalmente recursos naturais legitimamente reclamados pelas autoridades de Kinshasa”.
Em relação à conferência, que junta em Luanda dezenas de altas chefias militares de países membros da AFRICOM, surge como uma “oportunidade suplementar” aos mecanismos regionais e sub-regionais vigentes para explorar os múltiplos recursos técnicos e tecnológicos de partilha de informação crítica em matéria de defesa.
Segundo a embaixada dos Estados Unidos da América em Angola, a conferência desempenha um papel fundamental no apoio à abordagem “Todo o Governo” dos Estados Unidos no engajamento com parceiros africanos, que inclui a diplomacia, desenvolvimento e defesa.