Para o antropólogo político Jon Schubert, que se confessou “muito pessimista” e considerou que o escrutínio será marcado por “fraude eleitoral”, “a liderança do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder] não consegue imaginar uma transição política”.
A mesma tese foi defendida pelo advogado Rui Verde, que afirmou que o escrutínio de agosto tem semelhanças ao de 1992, as primeiras eleições multipartidárias em Angola e que precipitaram o país de novo na guerra civil.
“A legitimidade do MPLA não é eleitoral. Resultou na vitória na guerra” [civil] que desembocou na consulta eleitoral de 1992, acrescentou, considerando que para o país ter um governo de outro partido que não o MPLA – que governa desde a independência, em 1975 – “tem de haver um processo prévio de transição”.
O jornalista Celso Filipe, diretor-adjunto do Jornal de Negócios, reconheceu a elevada tensão que marcará o escrutínio mas manifestou-se convicto de que “não haverá instabilidade” pós-eleições.
“Em Angola coexistem duas Angolas diferentes: a da malha urbana e as das outras províncias, cujas aspirações e necessidades são diferentes”.
O advogado Eliseu Gonçalves, antigo membro da Casa Civil da Presidência da República angolana, considerou que o país africano “vive atualmente um impasse entre o antigo e o novo”.
“Os dois maiores partidos, MPLA e UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola, oposição], são partidos independentistas que não trazem nada de novo”, defendeu, corroborando a tese de Celso Filipe de que a seguir às eleições angolanas de agosto “não haverá problemas”.
“As transições são sempre tensas”, disse ainda, adiantando que “mais tarde ou mais cedo a transição há de acontecer”.
Mas como Rui Verde sintetizou, “não há hipótese, no atual cenário, que a UNITA ganhe eleições em Angola”.
O II Congresso Internacional de Angolanistica foi uma iniciativa da Rede de Investigação Científica de Angola (Angola Research Network).
Angola realiza eleições gerais em 24 de agosto, em que será eleito, por via indireta – como prevê a Constituição -, o Presidente da República.