João Lourenço, que falava na cerimónia de tomada de posse do novo Conselho de Administração da petrolífera estatal angolana, disse que "gostaria imenso" que a escassez de combustível "não voltasse a se repetir".
"Tal como o sangue que corre nas nossas veias e que nos faz viver, também o combustível para um país acaba por ser esse mesmo sangue, que faz mover a economia e fazer com que o bem-estar dos cidadãos seja garantido, desde que haja combustível e, portanto, energia", comparou João Lourenço.
Segundo o chefe de Estado angolano, foi um momento difícil, entretanto, ultrapassado, e a esperança está depositada no novo Conselho de Administração da Sonangol, para que jamais se repitam os momentos difíceis que se enfrentaram nas últimas semanas.
"Depositamos a esperança em que, com o vosso trabalho, com modéstia, com espírito de equipa, façam tudo para que jamais se repitam os momento difíceis que acabamos de atravessar e é precisamente nesses momentos que nos recordamos da imperiosa necessidade de o país ter capacidade de refinar os seus próprios produtos derivados do petróleo bruto", frisou.
O chefe de Estado angolano reiterou a necessidade de o país ter refinarias, "não importa se por via do investimento público ou do investimento privado", desde que o país crie capacidade para produzir o diesel, a gasolina, os óleos e outros derivados de petróleo, tornando-se autossuficiente para as suas necessidades e exportação dos excedentes.
"Considero que, entre as diferentes missões que são da vossa responsabilidade, sem sombra de dúvidas, que esta deve ser considerada a prioritária. Sabemos que está em curso o processo para tornar este sonho realidade e o que gostaria de vos pedir é que imprimam outra velocidade neste mesmo processo que já está em curso", exortou.
Em declarações à imprensa, o Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, que substituiu no cargo Carlos Saturnino, exonerado na quarta-feira pelo Presidente angolano, disse que as prioridades estão definidas, sendo o programa de regeneração da empresa a garantia para que o "core business' da petrolífera estatal seja "explorar, produzir, distribuir, refinar petróleo bruto e gás para a sociedade".
"Acabamos de ouvir as palavras do Presidente da República, que definiu claramente as preocupações do executivo e que têm de ser também as preocupações deste novo Conselho de Administração, que têm a ver com a garantia de abastecimento de produtos refinados ao país e, ao mesmo tempo, ter a certeza que este produto se mantém contínuo, o que passa pela construção das refinarias que fazem parte da nossa atividade", referiu.
Relativamente aos subsídios dos combustíveis pelo Estado, Sebastião Martins disse que há um trabalho conjunto com vista a analisar até que ponto podem "ser aligeirados", tendo em conta que "a empresa tem estado, de facto, numa situação em que a parte dos subsídios pesa bastante na tesouraria".
Questionado sobre se haverá aumento do preço dos combustíveis, o presidente do Conselho de Administração da Sonangol não avançou quando se vai verificar, comentando apenas que há um trabalho conjunto de concertação, "de modo a que todos se sintam satisfeitos".
"O certo é que tem de ser um preço que satisfaça de modo financeiro os cofres do Estado, mas que também faça com que a população não seja penalizada", realçou.
Sobre a escassez de combustível, o responsável disse estar a ser ultrapassada, afirmando que "há stock suficiente" e que as longas filas nos postos de abastecimento que ainda se verificam são "apenas uma questão de tempo".
"O que acontece neste momento é o efeito que normalmente sucede logo a seguir a questões de stock reduzido. Mas, como estamos numa fase em que o produto existe e o fornecimento aos postos de abastecimento também está a ocorrer, é apenas uma questão de tempo. Rapidamente estará debelado", referiu.
As mudanças de João Lourenço na administração da Sonangol aconteceram na sequência da crise de combustíveis que está a afetar Angola desde sexta-feira passada, que levou a uma escassez de gasolina e gasóleo em todo o país, face a alegadas dificuldades da petrolífera estatal angolana em importar o produto por falta de divisas.
Na terça-feira, após uma reunião que João Lourenço manteve com a equipa económica do Governo e com a administração da Sonangol, um comunicado da Casa Civil do Presidente de Angola indicou que a falta de diálogo entre a petrolífera estatal e o Governo "contribuiu negativamente" para o processo de importação de combustíveis e consequente escassez do produto no mercado em todo o país.