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Segunda, 01 Agosto 2016 21:44

A falsa ideia do emprego como funcionário público é eterno

A ideia de que a entrada no funcionalismo público garante emprego para toda a vida é antiga, vem de antes da independência, para os angolanos principalmente a partir do início da luta armada.

Por Luciano Rocha

A partir de Fevereiro de 1961, o regime colonial fascista, no afã de querer crer fazer ao mundo que em Angola as pessoas eram “tratadas todas por igual”, independentemente da ideologia política, local de nascimento, cor da pele, sexo e confissão religiosa, promoveu a admissão dos naturais da terra na função pública.

Esta iniciativa, integrada na chamada política social, reforçou a ideia de que emprego na função pública era para toda a vida, mesmo com a possibilidade permanente de transferência para zonas fora do local de residência. Por isso, outras oportunidades, mesmo que melhor remuneradas, eram não raro preteridas. Com a Independência Nacional, devido ao abandono do país da quantidade enorme de quadros de vários graus e de todas as áreas, muitos de nós tivemos de exercer funções, até cargos de chefia e direcção, para as quais não estávamos devidamente preparados. Tivemos que fazer valer a experiência adquirida, estudar, mesmo a ganhar mal.

Os tempos de guerras contra invasores e aliados agravaram naturalmente a situação, pois vários de nós melhor preparados académica e profissionalmente tivemos de pegar em armas para garantir a soberania nacional, com alguns sectores, os mais sensíveis, a ressentirem-se mais, como os casos da saúde e educação.

A ideia de que emprego na função pública é para toda a vida não apenas se manteve após a Independência Nacional como se acentuou e estendeu-se a outros sectores, de que são exemplos máximos as empresas estatizadas e a banca comercial, com melhores vencimentos e “estatutos” revestidos de mordomias, algumas de fazer “abrir a boca até à nuca”.

O surgimento de mais escolas secundárias e superiores permitiram o surgimento de pessoas teoricamente melhor preparadas. Acontece que muitas delas tiveram professores sem qualificações pedagógicas e humanas para a nobre missão de leccionar, alguns dos quais, ainda por cima, a desdobrarem-se em empregos, mais preocupados em ganhar o máximo dinheiro a fazer o mínimo do que a ensinar e justificar o que se lhes paga.

Os resultados do dinheiro investido por pais e Estado nestes casos são catastróficos, na medida em que os alunos não aprenderam o que deviam. Tão grave ou mais, foram os exemplos de mau profissionalismo e de como ter dinheiro imerecidamente, dados por alguns dos que os deviam preparar como pessoas e profissionais.

Com tais “mestres”, ao  saírem da escola, convencidos que sabem tudo, como se houvesse profissão na qual a aprendizagem não se prolongue, no mínimo, até ao último dia antes da reforma, o único objectivo é “o bom emprego”, de preferência um cargo de chefia ou de direcção, roupas caras, gabinetes e viaturas automóveis com ar condicionado, dinheiro fácil, férias no estrangeiro.

Estes pavões insuflados de ignorância conseguem sozinhos todas estas benesses? Claro que não. As brechas por onde sorrateiramente entraram no que julgam ser “a boa vida” foram-lhes mostradas pelo oportunismo, as mesmas que os colocam à beira da corrupção, os afundam na mediocridade, mesmo que fantasiada “de sedas e perfumes chiques” e os atulham no “sonho paradisíaco” de que somente hão-de acordar quando perceberem que não há empregos para toda a vida e que a jactância é inimiga da inteligência e do saber.

A competência aperfeiçoa-se todos os dias. Desgraçado – é o termo – de quem não tentar todos os dias saber mais, ser melhor, de quem pensa que sabe tudo, que é bom, insubstituível.

O futebolista português Cristiano Ronaldo, por mais do que uma vez considerado o melhor do mundo, não é um atleta excepcional por ser referência nos jornais da especialidade e aparecer nas capas das revistas cor-de-rosa, mas exactamente o contrário. Ninguém lhe estendeu sempre a “passadeira vermelha”. Nasceu pobre. Sonhou ser o melhor do mundo, fez por isso e continua a fazer. É o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. Trabalha com companheiros, mas também sozinho. Gosta do que faz, chora quando não pode jogar, não apresenta falsos atestados médicos, não prima pelo absentismo.

 

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