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Quarta, 28 Janeiro 2015 15:28

A crise já tem cartão de visitas – Reginaldo Silva

Em definitivo para o país, os angolanos e de uma forma geral para todos quantos cá vivem e trabalham (legal/ilegalmente), estes primeiros dias da nova maratona anual, estão a ser tudo, menos auspiciosos.

Claramente, o cartão de visitas de 2015 já pode inscrever no seu rectângulo, para além da bandeira e do mapa de Angola, a expressão “ano nada ou pouco auspicioso”, sem, contudo, deixar bem patente nas suas linhas e entrelinhas que é possível reduzir o nível desta ausência de auspícios com uma rigorosa política de gastos públicos coerente e a altura da conjuntura, sem qualquer tipo de “esquindivas” ou de “maguelas”.

Tem de ser mesmo olhos nos olhos, para as pessoas acreditarem minimamente no discurso e nas intenções mais abrangentes relacionadas com a redução dos gastos e a partilha dos sacrifícios, com o exemplo a vir-nos bem lá de cima com a força da gravidade do momento criado por mais um choque petrolífero.

Aliás, se esta orientação fosse mais estrutural e permanente, talvez hoje nem déssemos pela borrasca que já começou a deixar cair os primeiros pingos que já são bem grossos.

Faz parte das conversas e das crenças assumir que o mês de Janeiro em matéria de economia(s) é o pior para o bolso dos cidadãos, devido aos gastos que se fazem por ocasião do Natal, onde de facto é a gastar, oferecendo presentes e fazendo investimentos domésticos, que as pessoas melhor se entendem e são felizes.

Afinal de contas para que é que serve o dinheiro?

O crescimento económico agradece, pois sabemos que sem consumo a máquina pára, mesmo quando se vive de importações.

Tudo indica que a “regra básica de Janeiro” não vai sofrer grandes alterações, mantendo-se por conseguinte neste novo ano como o mês mais complicado de todos quantos fazem parte dos 12 que integram o nosso calendário gregoriano.

Neste arranque de 2015, Janeiro parece, contudo, querer dizer-nos algo de mais substancial pela negativa e a incerteza, a afectar não só os bolsos de cada um, mas também os próprios cofres públicos, o que de facto já é mais problemático a condicionar os restantes meses que aí vêm.

A pouca saúde que a economia angolana exibe tem uma relação muito directa com a capacidade de financiamento/investimento público, pelo que sempre que há redução acentuada nos seus níveis, o país literalmente constipa-se, com todos os sintomas que caracterizam esta patologia viral, sendo o mais notado o entupimento de todas as vias, com a suspensão dos pagamentos aos fornecedores e prestadores de serviços.

As consequências sociais não tardam em aparecer, sendo a mais preocupante o aumento do desemprego.

Pelo andar da carruagem nos últimos meses do ano velho, mais ou menos todos sabíamos que iria ser assim, que iríamos viver um Janeiro diferente para pior, para além do “pacote habitual” que, como já referimos, é uma consequência directa da tradição consumista que em Dezembro ultrapassa todos os limites, com ou sem crédito.

Ainda não tínhamos, contudo, uma noção da dimensão da dose de apertos, limitações e privações que se anunciava, a configurar mais uma crise com letras garrafais.

De referir que de crise em crise, andamos nós neste país desde que me conheço na condição única de assalariado, já lá vão cerca de 40 anos, pois nunca consegui amealhar uma poupança digna desse nome.

Alguém que eu li, mais entendido nestas lides contabilísticas, escreveu um dia destes que a pobreza também tem como traço característico a incapacidade das famílias gerarem poupanças com os seus rendimentos mensais.

Acho por isso que quando as pessoas não conseguem poupar, acabam por viver permanentemente em crise, pois nunca estão preparadas para enfrentarem os imprevistos que nos espreitam ao longo da vida e muito menos estão em condições de fazer qualquer tipo de investimento.

É a imensa turma da chapa ganha, chapa gasta.

Nesta altura e de acordo com tudo quanto já aconteceu nas primeiras duas semanas de Janeiro, onde o destaque vai, certamente, para o “misterioso” pedido de demissão do Governador do BNA, já é possível começar-se a ter uma ideia do tipo de borrasca que nos vai acompanhar pelo menos até ao meio do ano.

Depois logo se verá.

Começaram a circular informações algo alarmantes, como foi o caso de uma conhecidíssima construtora brasileira estar a preparar-se para abandonar rapidamente o país, o que já foi prontamente desmentido.

O esclarecimento dado a propósito, relacionou, contudo, os rumores com a redução drástica dos montantes destinados ao programa de investimentos públicos o que obrigou a empresa a ter de fazer alguns acertos no seus planos.

As nossas graciosas kinguílas voltaram a dar um da sua graça.

Estão agora mais confiantes no futuro da sua actividade profissional cujo fim já tinha sido anteriormente ditado por algumas vozes oficiais mais ufanistas.

Elas estão mais sorridentes e animadas com a desvalorização do kwanza e com a procura do dólar no paralelo, após o sistema ter começado a fechar as torneiras tornando as divisas raras, o que só pode ter como consequência o aumento da procura fora dos bancos.

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