Presidentes ou chefes de governo vêm e vêm, acompanhados por promessas de renovação e olhares esperançosos. A cada ciclo eleitoral, revivemos a crença de que algo, enfim, iremos mudar. Mas uma estrutura de poder permanece quase inalterada — oculta nos bastidores do Parlamento , entre alianças que não se dissolvem com o tempo.
Esse grupo não é um partido, mas um pacto — uma entidade movida não por projetos nacionais, mas por pura negociação de poder. Sobreviver a qualquer governo, adaptar-se a qualquer ideologia, exigir influência sobre tudo, mas nunca prestar contas.
É o verdadeiro operador do sistema: invisível no palco, mas decisivo nos bastidores.
Cada voto, cada aprovação, até mesmo o silêncio, tem um custo. A força desse bloco invisível é justamente na estabilidade. Ele permanece, enquanto os governos passam. Sobreviver a escândalos, crises e reformas, protegendo os mesmos interesses, nomes e dinastias políticas que se perpetuam nas esferas legislativas.
Com o tempo, um modelo híbrido se consolidou em várias democracias — um "parlamentarismo" informal e oportunista que governa sem assumir formalmente a responsabilidade governamental. Esses blocos excluem pastas ministeriais, impõem nomes e direcionam fundos significativos por meio de emendas legislativas, tudo sem verdadeira prestação de contas à população. Chefes de governo frequentemente veem reféns, presos entre a chantagem institucionalizada e a paralisia administrativa.
Enquanto isso, o público, distraído por conflitos simbólicos, permanece em grande parte inconsciente de quem realmente move as engrenagens. Essa falta de alternância genuína se traduz em uma estabilidade de interesses que, em vez de promover o progresso, leva à captura sistêmica. Tais blocos não garantem a governabilidade; eles são o seu preço.
Enquanto continuamos apontando o dedo para os rostos visíveis , ignorando os mecanismos que sustentam o sistema, seremos apenas espectadores desta prática que gira longe de nossa compreensão — e, pior, longe de nossa vontade.
Por Mauro Falcão, escritor