Ao que se seguiu o anúncio do Cardeal Mamberti – “annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam”, locução latina em português: anuncio-vos com grande alegria que temos papa. O acto culminou com a aparição do novo papa, Robert Prevost, por sinal cidadão americano, na sacada da Basílica de São Pedro, pondo fim ao período de “sé vacante” - período de vacatura do trono pontífice.
Para muitos, o Vaticano representa simplesmente o centro espiritual do cristianismo católico, liderado soberanamente pelo papa como sucessor de São Pedro. Para outros, o Vaticano é tido como um estado soberano com um sistema político com características próprias movido pela Santa Sé, exercendo um papel diplomático relevante a nível mundial. Há ainda quem o encara alimentando teorias de conspiração e suspeições por conta de controvérsias cujo mérito não é aqui convocado. Para os católicos, o Vaticano representa o centro da fé e o ponto de referência para a doutrina e a moral da Igreja no seu todo.
O Vaticano, conhecido oficialmente como Estado da Cidade do Vaticano, é um Estado soberano que abriga a sede da Igreja Católica cuja autoridade máxima é o papa. É reconhecido pela sua capacidade de mediar conflitos e promover a paz, com um poder não baseado na força militar, mas na sua influência moral e espiritual.
O Vaticano exerce uma influência significativa no cenário internacional, estabelecendo relações diplomáticas com vários países e participação em organizações multilaterais, daí o seu peso e influência na arena internacional num mundo cuja ordem vem conhecendo novos e inusitados contornos.
Contrariamente ao cenário político internacional vivido no período pós-guerra fria, em que a configuração geopolítica global era caracterizada por uma unipolaridade, com a ascensão dos Estados Unidos da América como principal potência mundial, após a queda da União Soviética, hoje, passado vários anos, o figurino é totalmente diferente, caracterizado por uma multipolaridade com vários polos de poder, dentre eles, a China, a União Europeia, Japão e agora os BRICS, que procuram afirmar-se na arena internacional.
Estão na base do surgimento desta diversidade de polos, entre outros factores, a globalização da economia, a evolução tecnológica e a diversidade cultural. As transformações e dinâmicas causadas pela nova ordem mundial tem gerado acirradas disputas entre os vários actores mundiais em diversas frentes e domínios.
É exemplo disso a inexplicável guerra comercial encetada pelo recém-eleito presidente norte americano Donald Trump, um fenómeno sem precedentes na história do comércio internacional.
O slogan criado pelo então presidente Ronald Reagan, agora adoptado por Donald Trump, “let´s make America great again” (abreviadamente MAGA) – em português – vamos tornar América grande novamente, é reflexo do saudosismo da posição de principal potência mundial detida pelos Estados Unidos da América no período pós-guerra fria. Obcecado pelo desejo de retornar à posição de principal potência mundial, Donald Trump tem vindo a arrastar o país e a economia mundial à beira do precipício, com incalculáveis danos, não só à economia, mas também às relações diplomáticas e políticas com outros países.
A eleição do novo papa, sendo um cidadão norte americano (EUA), acaba por criar uma nova dinâmica e surge como um elemento surpresa e novo, já que tem sido tradição o Vaticano evitar a eleição de papas oriundos dos EUA, talvez por razões políticas. Com o fervilhar da dinâmica da nova ordem mundial em que os Estados Unidos pleiteiam pelo poder hegemónico mundial, teremos paciência suficiente para assistir o desenrolar estratégico deste novo cenário na arena mundial. Cada um retire as suas ilações. Tenho dito.
Simão Pedro
Jurista&Politólogo