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Terça, 18 Novembro 2014 15:12

Dipanda "mas não muito" – Reginaldo Silva

Como já está fixado pela História, a data de 11 de Novembro de 1975, acabou por ser o único ponto do Acordo de Alvor que foi respeitado pelos três signatários angolanos, para além da criação do efémero Governo de Transição, que não conseguiu muito mais do que tirar a “fotografia em família”, onde pelos vistos ficaram todos tremidos.

Isto quer dizer que nessa data, há 39 anos, Angola foi proclamada independente em três locais diferentes do território na sequência dos insanáveis desentendimentos políticos que estiveram na origem do caos militar que então se instalou no relacionamento dos três movimentos de libertação.

Levando a última bandeira das Quinas que então se encontrava hasteada, Portugal teve que bater em retirada numa corveta, sem mais nada poder fazer em prol do que havia ficado definido no âmbito da transição.

Com efeito e depois de terem “conseguido” desentenderem-se definitivamente em todas as questões previstas e acordadas, com a excepção da tomada de posse do Governo de Transição, os três movimentos angolanos voltariam a “entender-se” já no fim de tudo em relação ao 11 de Novembro, numa alucinante trajectória que durou mais de 10 meses nesse fatídico e sangrento ano.

Consta que foi Holden Roberto da FNLA, uma dos três signatários que esteve no Alvor, quem sugeriu o data novembrina, por achar que a mesma tinha um grande significado internacional.

Recorde-se que foi a 11 de Novembro de 1918 que terminou a 1ª Guerra Mundial com a assinatura do armistício que formalizou a rendição da Alemanha, sendo a data até hoje celebrada nuns países como o “Dia do Soldado Desconhecido” e noutros como o “Dia da Lembrança”.

A data é uma homenagem a todos os soldados tombados nesse terrível conflito mundial que ceifou a vida a mais de 10 milhões de pessoas e deixou feridos outros 20, para ficarmos com os números arredondados, certamente por diferença.

Pelos vistos, os angolanos também não se quiseram esquecer do 11 de Novembro, não tanto por força das homenagens e das lembranças, mas talvez mais pela necessidade de serem os donos do seu país a qualquer preço, nem que fosse com cada um dos “três legítimos representantes” a ficar com o seu pedaço de terra/capital, com a sua bandeira, o seu hino e o seu presidente.

Inicialmente e depois do que aconteceu há 39 anos, era este o cenário que estava desenhando, a transportar o fantasma da balcanização para o território angolano.

A guerra e a lei do mais forte/inteligente encarregaram-se de afastar este cenário da realidade com um preço elevadíssimo que cada um, com os seus olhos de ver e não ver, hoje trata de contabilizar e perspectivar de acordo com os seus interesses.

O que é facto é que Angola, e depois de todos os desafios por que passou, continua una e indivisível, tendo efetivamente prevalecido a independência que Agostinho Neto proclamou em Luanda "em nome do Comité Central do MPLA".

O que é facto também é que, passados estes 39 anos, os angolanos e apesar de já não terem mais dúvidas quanto ao facto do país estar mesmo independente, ainda não conseguem viver em comunhão e em verdadeira festa nacional o 11 de Novembro, como ficou mais uma vez patente nas comemorações deste aniversário.

Aliás, esta incapacidade da celebração da data ser partilhada no mesmo espaço pelo poder e a oposição com o mesmo entusiamo e motivação, mantém-se uma constante como a referência mais visível da excessiva crispação que continua a caracterizar a vida política angolana.

Na melhor da hipóteses, admite-se que os 11 anos de paz das armas ainda não foram suficientes para conseguir esta aproximação, mas as tendências às vezes parecem estar a apontar para um agravamento e não o contrário.

Era suposto que tal viesse a acontecer pela própria dinâmica do processo de reconciliação nacional que, de facto, não está a produzir a tal de “paz dos espíritos” nas doses recomendáveis.

A verificar-se esta produção poderia até fazer-nos antecipar um 40º aniversário bem diferente, com os angolanos já mais “calmos” para então enterrarem definitivamente o machado da guerra e fumarem o cachimbo da paz na melhor tradição dos ameríndios.

Este ano a cena política até foi particularmente agitada com uma declaração atribuída ao líder da Oposição, segundo a qual Samakuva teria pedido recentemente em Lisboa, onde esteve de visita, que Portugal concedesse uma “nova independência” a Angola.

Em abono da verdade não foi isso o que o Presidente da UNITA disse, mas na hora dos arremessos habituais, acabou por ser a interpretação que as suas palavras mereceram por parte de vários representantes da sensibilidade política dominante e maioritária.

As coisas aqueceram de tal forma que se começou a falar na possibilidade de se estar diante de uma grave violação da Constituição, enquanto a outro nível alguém ameaçou com um processo judicial, caso não houvesse um pedido de desculpas.

Morro da Maianga

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