Quinta, 28 de Março de 2024
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Terça, 24 Mai 2022 16:21

Revista Zimbo, espaço sequestrado a favor do ódio e da desinformação

O espaço dominical de análise da TV Zimbo, denominado Revista Zimbo, está claramente desvirtuado dos seus propósitos que deveria ser o de ajudar os telespectadores a contextualizarem os factos políticos, e não só, que ocorrem na semana.

Ajudar o telespectador a contextualizar os factos implica apresentar perspectivas diferentes para permitir que ele tenha um olhar multifacetado destes factos e possa daí extrair conclusões informadas e sustentadas sobre as matérias analisadas. Isto é uma regra elementar do jornalismo, a imparcialidade, que se vale do contraditório para que o telespectador construa de forma autónoma opinião sobre os factos e possa daí tomar decisões pensadas e maduras em prol do bem comum.

Quando num espaço televisivo que pretende ser de análise o contraditório é instrumentalmente escorraçado e elimina-se deliberadamente o pluralismo, fere-se mortalmente a liberdade de imprensa e escamoteia-se brutalmente a democracia, que tem na liberdade de expressão um dos seus principais pilares. O quadro Revista Zimbo na sua configuração actual é um autêntico atentado à democracia, ao tratamento igual inequivocamente defendido pela Constituição de Angola (CRA) e, por isso, uma obstrução declarada à edificação do Estado Democrático e de Direito. A persistência em manter no quadro dois analistas que têm em comum o ódio visceral à UNITA e que veem nesta tribuna a oportunidade para lhe destilar a sua indisfarçável raiva é frontalmente contra o tratamento igual que a Constituição e a lei preconizam.

No domingo, 22/06, os dois analistas que compõem o quadro Revista Zimbo protagonizaram, para variar, mais um desfile de ódio, com um cortejo de mentiras propositadamente articuladas, ao analisar um discurso que, como demonstraram, nem sequer ouviram na íntegra. Como a TV Zimbo não tem nenhum compromisso com a verdade e, certamente não dará nunca o necessário espaço ao direito de resposta que se impõe (em obediência às ordens superiores emanadas pelos seus pseudo-patrões), valemo-nos dos canais alternativos de comunicação, hoje por hoje muito patentes, para esclarecer algumas verdades que o Sr. David Mendes tentou a muito custo escamotear.

1 – A filiação da UNITA à Internacional Democrática do Centro (IDC) é muito anterior à eleição de Adalberto Costa Júnior ao cargo de Presidente da UNITA em 2019. Resulta de uma deliberação do Comité Permanente sufragada pela Comissão Política e pelo XI Congresso, que teve lugar em finais de 2011 que reafirmou a linha política e ideológica da UNITA. A filiação da UNITA nesta família política é uma posição estratégica que tem permitido propagar no contexto internacional as ideias da UNITA e o seu posicionamento em relação à situação de Angola. É, na verdade, uma parceria estratégica que muito tem contribuído para fortalecer a UNITA e para a sua resiliência enquanto força política num quadro de muitas adversidades intencionalmente colocadas pelo maior adversário político de 2002 a esta parte. Resistimos com bravura e nos reerguemos contando com as nossas próprias forças, é verdade, mas também com o contributo desinteressado dos parceiros da IDC.

A IDC abarca um espectro amplo de partidos do centro, uns com alguma inclinação para a esquerda e outros um pouco mais para a direita, mas todos professando irrestritamente a democracia liberal. Não é verdade que todos os partidos filiados na IDC defendem o neoliberalismo sem rosto social bem no esteio da Escola de Chicago que tem em Milton Freedman o seu patrono. Na verdade, muitos dos partidos da IDC são obreiros do Estado Social que ainda prevalece na Europa, sobretudo, apesar de amiúde ameaçado por populismos de direita que tendem a agigantar-se como foi o caso recente do trumpismo nos Estados Unidos da América.

A UNITA tem absoluta certeza que num país como Angola que, apesar da sua enorme riqueza potencial, detém níveis de pobreza multidimensional estratosféricos, só um Estado com pendor social acrescido pode efectivamente alterar o quadro social desolador prevalecente. Para garantir uma distribuição justa da riqueza é necessário que a economia cresça de forma robusta e sustentada. Para tal é fundamental a transformação da estrutura económica do país. Isto implica que o motor da economia seja transferido para iniciativa privada e o Estado esteja essencialmente investido da função reguladora, sem amarrar a forças de mercado, promovendo a sã concorrência e saneando o ambiente económico de modo a favorecer o investimento. A UNITA tem plena consciência que o crescimento económico de nada valerá sem a estabilidade macroeconómica. Sem o controlo da inflação, por mais que se aumentem os salários estes não exercerão na plenitude a sua função. O crescimento económico só vale alguma coisa se for capaz de fazer dos angolanos os principais consumidores dos bens essenciais, e não só, e este consumo for o principal estímulo para o investimento e sustentar o crescimento. É esta economia de mercado verdadeira, com almofadas sociais substanciais que defendemos, independentemente de “ideologismos” de esquerda ou de direita; uma economia voltada fundamentalmente para a prosperidade das pessoas, o angolano em primeiro lugar.

A UNITA acredita piamente que o desenvolvimento de Angola, pela sua diversidade, étnica, cultural, religiosa, social e política só se pode processar num ambiente onde as liberdades sejam irrestritamente garantidas, as diferenças sejam respeitas e o pluralismo de ideários esteja patente. Isto só é possível em democracia, estruturada nos veios do Estado Democrático e de Direito. Este é o húmus que nos irmana aos parceiros da IDC que representa para nós uma parceria estratégica importante.

2 – David Mendes diz que a proposta de revisão constitucional apresentada pelo Presidente Adalberto Costa Júnior é populismo porque a UNITA, em circunstância nenhuma, conseguiria os 2/3 necessários para desencadear uma revisão extraordinária da Constituição. A ideia da Frente Patriótica é de constituir uma maioria confortável que garanta governabilidade mesmo com a presente realidade constitucional. A UNITA não está interessada em maiorias qualificadas que sufocam o direito de oposição e enfraquecem a democracia. A proposta da UNITA é de um Governo Inclusivo e Participativo.


Buscar consensos é uma virtude da política e a UNITA acredita nas virtudes da política. Sabemos e porque dialogamos com as franjas patrióticas do MPLA que há nesta força política, hoje hegemónica, muitos patriotas que veriam com bons olhos uma revisão da Constituição. No contexto actual em que o MPLA é hiperdominante é ainda baixo o tom em que essas vozes se exprimem, mas, temos a certeza que num quadro de alternância estas forças patrióticas e democráticas no MPLA, hoje subjugadas, viriam à superfície e estariam certamente sensíveis ao diálogo pro-consenso para a revisão extraordinária da Constituição nos termos propostos pelo Presidente da UNITA.

3 – O Presidente da UNITA em nenhum momento falou em autonomia para as Lundas, portanto, não questionou o Estado unitário que a Constituição defende. Portanto, afirmar que a referência à autonomia das Lundas é uma imitação da proposta federalista do PRS é um autêntico desvario, próprio de quem não esteve atento ao discurso que se propôs analisar. Um analista que se preze não se pode basear no “ouvi dizer” e precisa estar bem documentado para sustentar os seus argumentos. Caso contrário preencherá o seu argumentário com falácias fáceis de serem desmontadas e que não ajudam em nada para os propósitos daquele espaço televisivo.

Enfim, o Presidente da UNITA falou na abertura da pré-campanha eleitoral e avançou com algumas linhas do programa da UNITA para os próximos anos. O papel da comunicação é facilitar o acesso dos eleitores aos programas de todas as forças concorrentes, de forma isenta. Os espaços de análise devem permitir aos eleitores compreender melhor estes programas partindo de diferentes perspectivas para construírem opinião informada que permite decisões sustentadas. Análises que deturpam a verdade não servem o propósito democrático que deve caracterizar as eleições num Estado que se pretenda democrático e de direito.

Maurílio Luiele / Correio Angolense

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