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Quarta, 10 Setembro 2014 09:55

Luandando pelo mundo… - Reginaldo Silva

Já em Luanda após 4 semanas de ausência, sem nunca ter saído daqui, num verdadeiro passe de mágica, pois não é possível estar ao mesmo tempo em vários locais distintos e geograficamente separados por milhares de quilómetros.

É a magia de Luanda a trazer-me de volta a um lugar onde nasci, cresci e nunca saí, com a excepção dos poucos meses que passei nas duas Alemanhas, por isso não regressei e nem sei mesmo se cheguei a sair totalmente.

Objectivamente, o passaporte carimbado e as malas por desfazer dizem que sim, que saí mesmo, mas já não são a prova suficiente que conteste o facto de eu não ficado escondido algures na Vila-Alice, mesmo depois de ter deixado o território nacional.

Mas se saí, como tudo leva a crer que sim, foi apenas para estar em trânsito em passagens efémeras por “não-lugares”, porque não encontrei outro lugar para ficar e porque voltei ainda mais convencido que este lugar não existe.

Assim sendo o que andei a fazer nestas quatro semanas, terá sido apenas, como alguém  me disse, a “luandar” por um mundo cada vez mais atribulado, com a certeza de que o melhor que ainda existe é mesmo a nossa terra, de onde só devíamos sair para passear por outras paragens, sem nunca nos passar pela cabeça em lá ficar por qualquer razão.

Este seria o mundo ideal, que já é, contudo, impossível de alcançar.

Se fosse permitido a toda gente neste planeta pensar e agir como eu, teríamos hoje muitos menos refugiados/migrantes e muitos mais turistas e o mundo estaria, sem dúvidas, muito mais parecido com a Disneylândia do que com a ilha de Lampedusa.

E não é permitido, porque algo de facto está a correr muito mal com o nosso mundo, onde as lideranças políticas/elites não estão a conseguir fazer deste planeta um local bom para todos nós vivermos em paz e com o mínimo nos bolsos para podermos acordar no dia seguinte sem termos de pensar de forma angustiada no que é que vamos dar de comer aos nossos filhos.

Com a decapitação do segundo jornalista norte-americano algures entre a Siria e o Iraque e com a tomada de Tripoli pelas milícias islamitas, a actualidade internacional está a ficar cada vez mais complicada em termos de estabilidade e segurança, o que pode ter como consequência, aliás está a ter, um aumento do número de pessoas que deixam os seus locais origem à procura de qualquer coisa que lhes foi retirada das suas terras, onde, certamente, queriam continuar a viver, mas já não podem porque não é possível.

Os senhores impulsionadores das várias guerras que andam por aí a multiplicar-se, a leste e oeste, na Europa, no Médio-Oriente e em África, não querem deixar a malta viver tranquilamente, sem o barulho preferido das suas estridentes, infernais e mortíferas aparelhagens.

Este ruído, já me começa a fazer gostar dos “dyjeis” angolanos, que ao lado dos candongueiros, são hoje as duas categorias profissionais aqui da banda, que mais me conseguem tirar do sério, embora não lhes retire o mérito/utilidade dos serviços que prestam à comunidade.

Em abono da verdade e se tivesse que escolher entre uns e outros, ficava com os candongueiros retirando-lhes apenas as colunas da parte traseira dos hyaces, apesar de um jovem “dyjei” já me ter convencido que agora, com as novos e sofisticados altifalantes, com cada um a custar 25 mil dólares, esta história do excesso de barulho nas farras, que impede até as pessoas de conversarem, começou a ter os dias contados.

A imagem dos frágeis barcos carregados com gente desesperada a tentar chegar diariamente a ilha italiana de Lampedusa é efectivamente aquela que melhor fala da (falta) qualidade do mundo que tempos hoje. É uma imagem que traduz bem a hostilidade e a agressividade com que governos e rebeliões estão a abordar os problemas resultantes das sucessivas crises políticas que marcam o seu relacionamento.

Todas aquelas mães e crianças que rumam  para as costas italianas sem saberem mesmo se lá chegarão com vida, que é a última coisa que ainda lhes resta, gostariam certamente de comprar um pacote turístico em promoção, para irem visitar a Disneylandia nos EUA ou em França, sem terem necessidade de lá ficarem mais do que dois ou três dias.

O que está a acontecer é deveras preocupante, sobretudo quando se ouvem as notícias provenientes da fronteira da Ucrânia com a Rússia, onde cada vez mais os observadores admitem que seja o cenário possível do inicio da 3ª Mundial.

Isto numa altura em que Obama foi esta semana até ali bem perto falar em exercícios militares conjuntos entre a Nato e a Estónia, com o claro propósito de enviar (mais) uma mensagem a Putin.

Em abono da verdade e para além de fazer telefonemas, mandar mensagens e promover encontros com os seus aliados, Obama está sem saber o que fazer diante das investidas do novo “czar” que reina em  Moscovo e que já disse que podia tomar Kiev em duas semanas.

Depois os seus porta-vozes corrigiram o tiro, dizendo que tinha havido uma descontextualização das suas palavras proferidas numa conversa que manteve com o antigo camarada Durão Barroso, para quem nos temos da sua juventude no MRPP, Joseph Staline também já tinha sido o “pai dos povos”.

Em matéria de segurança e estabilidade, o “pacifista” Obama corre o sério risco de deixar o mundo muito pior que encontrou, depois de ter herdado a América de George Bush na sequência da invasão ao Iraque e ao Afeganistão.

Os Estados Unidos voltaram a guerra no Iraque onde agora, e na avaliação dos seus estrategas, enfrentam uma ameaça ainda maior com os novos jhiadistas que já fizeram esquecer Bin Ladem.

Em termos internacionais, Obama está assim a viver o pior momento do seu consulado, com a América em estado de choque depois de mais um jornalista norte-americano ter sido assassinado.

O Reino Unido entrou em alerta vermelho, receando um ataque terrorista dentro das suas fronteiras a qualquer momento.

A pergunta que se coloca já é recorrente mas tem de ser feita.

Estará o mundo mais seguro?

Por Reginaldo Silva

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