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Segunda, 19 Mai 2014 09:53

Vamos realizar o Censo, mas e depois o que é que acontece?

Como se estivéssemos a ser presenteados com um sambapito, há acções que começam antes das eleições, mas depois de o vencedor se instalar no poleiro, não há continuidade.

O Censo arranca na próxima sexta-feira e, sem dúvida, também nos juntamos a esta tarefa que reportamos de extrema importância para o funcionamento da gestão do país, até porque, citando o economista e deputado Fernando Heitor num texto que publicámos, faz algum tempo, "a vida de todos nós é determinada por números".

Desde a data do nascimento, ao portão de casa, bilhete de identidade ou identidade como contribuinte fiscal, tudo gira em torno de uma sequência de números de que não podemos fugir, para mais agora, na era da informática.

Embora não seja um número exacto, há dados que têm sido citados já por algumas entidades oficiais segundo os quais andamos por aí nos 21 milhões de habitantes. Podemos parecer muitos, mas a verdade é que, para a dimensão do país, não somos tantos assim. Só sentimos isso em Luanda, que terá, de acordo com dados de 2010 do Departamento de Estatística do Instituto Nacional, cerca de 1.271 mil habitantes por quilómetro quadrado, facto que lhe atribui o estatuto pouco abonatório de cidade superpovoada.

Segundo esta instituição, depois da capital, a densidade demográfica é também acentuada no Huambo (76,7), em Cabinda (41,5), em Benguela (34,3), no Bié (27,6), no Cuanza- Norte (27,6), no Uíge (25,5) e na Huíla (19,3).

Conquanto não se faça referência ao Cunene, o Cuando-Cubango é considerado como tendo uma média de ocupação de um habitante por cada quilómetro quadrado.

Servem, em suma, também esses números, a fim de atestar que a redistribuição da população deve continuar a constituir uma das prioridades do Executivo, nas estratégias de desenvolvimento e combate à pobreza.

Não se compreende, por exemplo, porquê que o país, dispondo de tanta terra, tenha uns tantos senhores que têm acesso a tudo quanto é terra e outros a apenas pequenas parcelas de 20x20 e, ainda por cima, só passando por um esquema demasiado complicado, como se ela fosse propriedade de meros funcionários administrativos dos governos provinciais ou das administrações municipais.

Sugere, ao mesmo tempo, esta questão que se definam, igualmente, estratégias para a utilização dos dados, depois da realização do Censo, uma vez que isso de se dizer que permitirão saber quantos somos, a fim de que se possam construir mais casas, mais hospitais, mais estradas e mais não sei o quê, é demasiado abstracto para uma sociedade que tem capacidade de reflexão sobre o que deve ou não ser feito para a melhoria da vida de todos nós.

Aliás, como estamos, também não é difícil perceber que o Censo não será a tábua de salvação para Luanda, Huambo, Huíla e Benguela, uma vez que os órgãos de gestão administrativa centrais e locais aparecem sempre muito depois das iniciativas dos cidadãos. E, no fundo, é essa atitude que torna tudo complicado.

Mesmo quando o cidadão toma a dianteira e os órgãos administrativos só têm de complementar, não se vê esse exercício, pois falta disponibilidade. Podemos falar, por exemplo, de novas áreas residenciais nas periferias das cidades, onde surgiram grandes, pequenas e médias residências com algum conforto. Lá dentro, o cidadão aconchega-se e esquece-se dos milhentos problemas com que se depara no dia-a-dia.

Porém, é só passar o portão e logo começam as dificuldades de toda a ordem, inclusive de circulação de viaturas. Como se estivéssemos a ser presenteados com um sambapito, há acções que começam antes das eleições, mas, depois de o vencedor se instalar no poleiro, já tem dificuldade de explicar por que razão esse trabalho não tem continuidade.

Opta-se pelo mutismo ou só falam quando querem, como se não fossem obrigados à prestação de contas!

Por Ramiro Aleixo

Angora

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