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Domingo, 29 Setembro 2019 10:46

A sucessão de Samakuva e as dinâmicas internas da UNITA

Amanhã termina oficialmente a data para a formalização das candidaturas à presidência da UNITA, tal como estabelecido pela comissão organizadora do XIII Congresso Ordinário do partido fundado por Jonas Savimbi.

Nos bastidores, gigantescas movimentações ocorreram e ainda ocorrem, quase na mesma proporção em que decorreram variadíssimas leituras nas redes sociais, nas quais se destacaram sobretudo a eventual recandidatura ou não do presidente cessante, Isaías Samakuva. E porquê ?

Atendendo às vezes anteriores em que se tinha pronunciado a favor da sua retirada e à última da hora feito um “volte face”, alegadamente a pedido dos militantes, provavelmente Isaías Samakuva terá preferido gerir a saída sem mais declarações, além das proferidas em que disse que sairia em 2019. Mas a ausência de uma declaração definitiva, de um pronunciamento firme e inequívoco, por parte do sucessor de Jonas Savimbi à frente dos destinos da UNITA, acabou por “apimentar” a ideia de que o mesmo, provável e seguramente, poderia reconsiderar. Podemos considerar que, assim, estamos na perspectiva desta possibilidade efectivar-se ou não até amanhã, ao fim das horas normais de expediente. Isto acompanhado do respaldo estatutário que, descartando limites de mandatos na presidência do partido, coloca até às últimas horas do dia de amanhã em aberto a possibilidade de Isaías Samakuva apresentar a candidatura.

Estas linhas estão a ser escritas, partindo da presunção de que Samakuva, definitivamente, decidiu não recandidatar-se, o que para muitos constitui uma boa notícia, embora para outros o oposto. Terá Isaías Samakuva pecado na não preparação de um sucessor, inclusive como parte do esforço para a continuidade de um trabalho que tem vindo a fazer para “modernizar” a UNITA e adequá-la aos desafios presentes ou terá feito bem em manter-se equidistante da luta pela sucessão ? Em nome da democracia interna, se calhar, foi bom o último passo, quanto mais não fosse para dar espaço e igualdade de oportunidades para todos os candidatos.

Várias figuras aspirantes à sucessão de Samakuva, que andaram inusitadamente condicionadas à apresentação das suas candidaturas à retirada definitiva do líder cessante da corrida, avançaram com as candidaturas, proporcionando perspectivas de maior democraticidade e competitividade. Curiosamente, enquanto uns condicionavam a apresentação das candidaturas à desistência de Samakuva, tais como Adalberto da Costa Júnior, outros, como o general Kamalata Numa, pretendiam avançar apenas com a realidade inversa.

Depois das candidaturas de Adalberto da Costa Júnior e de José Pedro Katchiungo, estão por se confirmar as alegadamente do actual vice-presidente, Raul Danda, do general Lukamba Paulo “Gato” e possivelmente a de Alcides Sakala.

Para alguns círculos, a UNITA encontra-se numa fase difícil e desafiadora do ponto de vista da gestão das dinâmicas internas, das correntes que alinham, e sempre alinharam, com Isaías Samakuva e que, tendem a experimentar antecipadamente um sentimento de orfandade com a retirada do antigo chefe da missão externa da UNITA. Há alguns dias, surgiram informações pouco abonatórias para a credibilidade do partido relativamente aos passos que dá em direcção ao congresso, desde o alegado “complot” para manter Samakuva, às supostas divisões de cariz regionalistas, às ameaças de que Kamalata Numa diz ter sofrido, entre outros. Sobre a primeira, o alegado “complot” para manter Samakuva, tal como "choveu" nas redes sociais, essa estratégia visaria criar condições para que um dos herdeiros do líder-fundador o substituísse na liderança do partido, um pressuposto para manter a matriz familiar na condução dos destinos daquela formação política. É normal e legítimo que os filhos de Jonas Savimbi, dentro dos formalismos legais e estatutários, queiram e aspirem liderar o partido que o pai ajudou a fundar, sendo apenas reprovável a via que não respeite os pressupostos já avançados.

Embora se minimize e publicamente se evite falar sobre as dinâmicas regionais, não há dúvidas de que persistem muitos ruídos sobre a preponderância do “eixo bieno” na condução dos destinos da UNITA, realidade que pode não acontecer a julgar pelos principais rostos que se apresentam como potenciais contendores ao cadeirão de presidente da UNITA. Entre as principais figuras, dadas à partida como candidatos à sucessão de Isaías Samakuva, nomeadamente Alcides Sakala, Adalberto da Costa Júnior, Kamalata Numa, Raul Danda, Pedro Katchiungo, nenhuma é natural do Bié, aparentemente um facto irrelevante, mas que no seio do partido e atendendo à sua história pode “mexer” com as estruturas.

Os partidos em África, sobretudo na sua génese, mas não raras vezes ao longo do seu percurso, têm uma base étnica ou regional que os acompanha e cuja visibilidade se torna mais notória em momentos de sucessão das suas lideranças.

Em termos históricos, algumas vozes, na UNITA podem estar a viver hoje o que outros sectores do MPLA viveram em 1979, com o desaparecimento inesperado do seu líder, levando a que alguns círculos experimentassem um maior afastamento do centro do poder. Não há dúvidas de que o “eixo ovimbundocêntrico” mantém-se na liderança do partido, o que é normal, atendendo a história e o passado, mas não há dúvidas de que ficam a nu as dinâmicas regionais, que envolvem as províncias do Bié, Huambo e Benguela. Se reais ou imaginárias, o que é certo é que “chove” pelas redes sociais o alegado excessivo protagonismo do pessoal originário do Bié, um facto que está por se provar pela forma como vai decorrer todo o processo que deverá levar até ao XIII Congresso Ordinário do partido, que se realiza entre os dias 13 e 15 de Novembro.

Não há dúvidas de que uma das figuras, pelo menos a julgar pelo barómetro das redes sociais, que tem sido encarada como entre as “presidenciáveis” na UNITA tem sido o chefe da bancada parlamentar do partido do Galo Negro.

Adalberto da Costa Júnior tem dado cartas no jogo político angolano, com intervenções que lhe conferem alguma credibilidade e segurança nas abordagens que faz, dando-lhe visibilidade, ficando por saber se todo esse protagonismo é directamente proporcional aos níveis de aceitação nas hostes internas do partido e ao papel que se espera de um presidente da UNITA. Uma coisa é a desenvoltura, aqui no sentido da agilidade, que o antigo representante da UNITA em Roma demonstra por via das intervenções que faz, que chegam a agradar o público sobretudo o urbano, outra bem diferente é a preparação para assumir um cargo que lhe vai causar maior exposição pública e maior exigência na defesa dos interesses do partido.

Mas vamos esperar pela divulgação da lista aprovada e definitiva dos candidatos à sucessão de Isaías Samakuva e, depois do congresso, a aprovação e adopção da estratégia da UNITA e seus objectivos. Assim, talvez estaremos em condições de responder à pergunta para onde vai a UNITA.

Por Faustino Henrique / JA

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