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Terça, 05 Março 2019 20:32

Agostinho Neto: Eu já não espero, sou aquele à quem o mundo espera

Em 30 de Junho de 1962, com a ajuda do PCP (Jaime Serra, José Nogueira e António Dias Lourenço), Doutor Agostinho Neto, com 39 anos de idade, juntamente com a família (esposa e filhos), foge de Portugal com destino à África. Mário Pinto de Andrade foi ao encontro de Neto em Ribat [Marrocos], tendo – lhe depositado a presidência do MPLA.

Por João Henrique Hungulo

Em Julho de 1962, dias após a fuga de Neto de Portugal, foi – lhe enviado o convite de Pinto de Andrade a solicitar – lhe a presença em cerimónia de juramento da bandeira em alusão aos então 91 soldados cadetes recém – formados em Marrocos, sob a supervisão de Hoji – ya – Henda e seus coetâneos, para engendrar as fileiras do Exército Popular de Libertação de Angola [EPLA], que era o braço armado do MPLA. A presença de Neto cuja figura estava irradiada numa farda completamente distinta entre todos, causou um espanto do olhar de todos lá existentes, Neto estava fardado da cabeça aos pés, parecendo um guerreiro pronto a lutar com arma nas mãos, a motivação correu o ânimo de todos ao verem Neto representado naquela figura militar distinta. Desde então Neto colocou os pés à distância rumo à Léopoldville onde acabou por se juntar aos demais combatentes do MPLA.

Logo de chegada à Leopoldville, dispôs – se à integrar a cúpula do MPLA e a manter a sua reorganização, uma vez que já lhe era delegada a direcção do Partido, faltando – lhe apenas a eleição em assembleia geral do Partido, a sua indicação como possível candidato à Presidência do MPLA ecoou o País todo com retumbante ressoo de alegria, desde então, o MPLA sentia – se satisfeito pelo facto de Neto ter sido indicado à liderança do Partido. A partir daí a ódio de Viriato contra Agostinho Neto acendeu como lenha acesa numa mata lançada em brasa, Viriato associou – se à uma cúpula de odiosos e ao mesmo tempo invejosos, que desde logo, sentiam a grandeza de Neto e quiseram – lhe desacreditar, os seus coetâneos Matias Migueis, José Miguel Francisco, eleito para o comité Central do MPLA em Maio de 1962, José Bernardo Domingos, e tantos outros da cúpula de Viriato incendiaram as relações com Neto e, tudo faziam à fim de desacreditar a liderança de Neto, tendo – o acusado de ser um agente da PIDE, e que a sua miraculosa fuga teria sido fruto da acção da polícia secreta portuguesa com a ajuda do PCP, os mesmos propunham a união do MPLA à UPA à constituir o GRAE de Holden Roberto. As vozes dissonantes de Viriato e Neto, marcavam o início de uma nova era de calamidades no seio do MPLA. Importa realçar que Viriato nem sequer à lume de palha soube conhecer Neto antes deste se fazer presente em Léopoldville, eram as vozes em surdinas quem sussurravam no alheio um Neto quase quer não conheciam de facto, mas na verdade, Neto marcou um líder forte e poderoso, não é a toa que o seu respeito na CEI colocava de joelhos brancos portugueses e africanos, a ponto da admiração por ele lhe ter valido lugares cimeiros dos movimentos anti – coloniais forjados em Portugal. O desconhecimento claro de Viriato sobre a pessoa de Neto era relevado pelo complexo de não – doutor, Viriato embora tivesse forte poder sobre o MPLA, por ser ele o maior ideólogo para a origem deste partido, nunca lhe piscara os olhos de que Dr. Agostinho Neto era um homem de batalhas, disposto à lhe fazer face à tudo que fosse possível, a ignorância de Viriato à pessoa de Neto colocou – lhe num terreno completamente minado pela sua própria arrogância, Viriato construiu uma armadilha que serviria para si mais tarde através de uma tal teoria de auto – exclusão racial inventada por si mesmo, era a pior desgraça evidenciada por uma mente brilhante que marcou o MPLA, ao inventar uma teoria que acabaria por lhe colocar de fora da cúpula do Partido: “a teoria da auto – exclusão racial”.

Se é que existia um complexo nunca foi na pessoa de Agostinho Neto, mas sim na própria pessoa de Viriato da Cruz, Agostinho Neto ao deparar – se com as acusações de Viriato da Cruz de que era um agente da PIDE, desde então chamou à reunião os militantes do MPLA, e fez – os perceber que jamais iria trabalhar com Viriato da Cruz, embora seja ele o obreiro e arquitecto do MPLA. Em Léopodiville no bairro Mbinza, entre 1 ao 3 de Dezembro de 1962, realizou – se a I Conferência do MPLA. Tentando buscar soluções vigentes no seio do movimento na altura. Os três dias não deram soluções à todos os males que enfermavam o movimento. A conferência liderada por Dr Neto na altura, fazia crer ser necessária a preparação de quadros capazes à liderar a luta de libertação de Angola, e preparar unidades de luta sobre a divisão territorial do País, mais tarde denominadas de regiões politico – militares do MPLA. O EPLA seria desde logo institucionalizado, e Manuel Guedes dos Santos Lima assumia o cargo de chefe do Departamento de Guerra. Neto conseguiu apoio de muitos delegados e votos dos mesmos. Viriato da Cruz conhecia neste momento a sua primeira derrota clara face à Neto, porém, não soube reconhecer com humildade de que Neto era de maior grandeza com relação à si nesta era.

A conferência nacional realçou o facto do MPLA ser um movimento de massas e revolucionário, que colocava a primazia da acção no interior, como complemento da actividade no exterior, assim como o incremento da política de formação de quadros. A conferência destacou os princípios orientadores da política para com o exterior e também o princípio do “neutralismo positivo”, considerado uma afirmação realista e o único comportamento possível num mundo pleno de ameaças, onde os povos ainda sob dominação colonial teriam muito a perder se se empenhassem no jogo da competição entre os dois blocos.  Foi reafirmado o neutralismo em matéria política. Neste contexto, a política levada a cabo pelo MPLA foi organizada no âmbito dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas, actuando em coordenação e reforçando as alianças com os países independentes anticoloniais, ao mesmo tempo que defendiam a política de não-alinhamento e a internacionalização da luta contra a política do Estado Novo português.

            Nesta óptica, o novo Comité Central evidenciava Neto na presidência, Matias Miguéis — primeiro Vice – Presidente, Mário Pinto de Andrade — segundo Vice – Presidente, Lúcio Lara Chefe da Organização e Quadros, Manuel Guedes dos Santos Lima, Chefe da Guerra, Chefe da informação, Deolinda Rodrigues Francisco de Almeida — chefe dos assuntos sociais, Henrique Alberto Teles Carreira — chefe da segurança, finalmente Desidério da Graça Veríssimo e Costa — responsável pelo departamento de Finanças e Economia. Joaquim Pinto de Andrade — era eleito Presidente de honra.

            A eleição de Agostinho Neto para o poder assinalava uma viragem histórica para o MPLA, e Viriato era apontado de ser o símbolo da Viragem política do MPLA à direita. Pinto de Andrade não hesitou em ceder a presidência à Agostinho Neto, por reconhecer que sendo Neto um angolano autóctone, ninguém melhor que ele simbolizava as aspirações da grande maioria das populações angolanas. Parafraseando Hugo de Menezes numa conversa com Viriato da Cruz em conacri:

“Fazemos tudo isto porque Neto é Doutor e é preto, quanto ao mais ele não vale nada — disse Viriato da Cruz.”

            Mas essa trajectória história de Neto fazia cumprir as suas declarações proféticas nos versos da sagrada esperança: «Eu já não espero, sou aquele à quem o mundo espera».

            A solidez no seio do Partido conheceu dias maus, e estas circunstâncias vividas quase que lhe valeram a vida. Foi necessário dar um novo sopro de vida ao Partido. A exclusão no comité central da altura de altas figuras que criaram o Partido derreteu ódio e desgraça no seio do MPLA, não fizeram palco nos anais do comité directivo do MPLA figuras com Viriato da Cruz, Eduardo Macedo dos Santos, Luís de Azevedo Júnior e Hugo Azancot de Menezes, isso abria a folga à novas revoltas no seio do MPLA.

            Viriato da Cruz reduziu – se à uma mera figura política de base, sem qualquer pendor de elite no seio do MPLA, mesmo sendo este o primeiro ideólogo da origem do MPLA, este facto causou sons dissonantes 14 anos mais tarde no seio do partido, no que se observou nas palavras clamadas por Mário Pinto de Andrade: “talvez tenhamos errado, visto de longe, com os olhos de hoje, parece que não fizemos, e, eu, pessoalmente, tudo o que era preciso para não afastar Viriato da Cruz do grupo. Porque era um homem de grande capacidade de organização no seio do partido, com grande audiência interna. É um facto que se lhe deve à emergência das forças mais progressivas de Angola. Essa crise interna do MPLA, saldou – se pelo afastamento de um homem importante, um homem chave e, isto, foi bastante grave”.

A circular de Mário de Andrade, responsável pelo Departamento das Relações Exteriores do MPLA, com data de 18 de Dezembro de 1962, enviada aos colaboradores no exterior e aos militantes, exorta-os a defenderem os interesses do movimento de libertação; a informarem e levarem a cabo propaganda em conferências internacionais, inscrevendo no plano internacional o problema angolano, por meio de informação orientada e periódica; a criarem uma corrente de opinião em favor da luta e das posições políticas anticoloniais, suscitando a formação de comités e redes de apoio e centros de documentação; a seguirem com atenção os acontecimentos políticos dos países onde o movimento se encontra representado; a fornecerem com regularidade ao Secretariado do Departamento das Relações Exteriores informações relacionadas com Angola; a manterem uma atitude de não-ingerência nos assuntos internos dos países; a assegurarem, todavia, uma presença do MPLA em todas as manifestações anticolonialistas entretanto, a partir de Dezembro de 1962, o Departamento das Relações Exteriores passou a ser chefiado por Mário de Andrade e a contar com a colaboração activa de Américo Boavida, Hugo de Meneses e Luís de Almeida, que faziam parte do primeiro Comité Director do MPLA, bem como o respectivo organograma, que reproduzimos: O MPLA só abriu representações na Argélia, em Brazzaville, no Egipto que fazia parte da República Árabe Unida (RAU), em Itália e nos países escandinavos. Em Itália, contou com alguns Comités de Apoio. A representação na Argélia levou a cabo uma intensa campanha junto da Conferência dos Países Não-Alinhados, denunciando a prisão de membros do MPLA pela FNLA.

Paulo Teixeira Jorge fugiu de Portugal, país onde estudava Engenharia, em Outubro de 1962, com destino a França, juntando-se depois ao MPLA. Foi representante no Egipto, no Congo-Brazzaville e na Argélia. António Mingas, representante do MPLA em Rabat, Marrocos, escreveu uma carta, com data de 24 de Agosto de 1964, a Agostinho Neto, comunicando o envio de medicamentos para assistência aos refugiados provenientes de Angola. Em Novembro de 1965, o Ministério do Interior do Egito determinou que todos os políticos africanos exilados naquele país tinham de se apresentar aos serviços de imigração, estando isentos de cumprir esta obrigação os políticos das ex-colónias portuguesas, assim como os do Zimbabué e da África do Sul. Entretanto, as subvenções financeiras do Governo egípcio aos exilados políticos mantiveram-se. Esta medida veio beneficiar a representação do MPLA naquele país. Garcia Bires, em 1967, é nomeado delegado do MPLA no Gana e, em 1968, regressou a Brazzaville, de onde partiu para a União Soviética. Aí se formou em Direito Internacional, na Universidade Patrick Lumumba, de Moscovo. Um representante do MPLA (cuja identidade não foi possível apurar), em Fevereiro de 1968, agradeceu os apoios recebidos do Egipto, do Congo-Brazzaville, da Tanzânia e da Zâmbia, numa fase em que os esforços empreendidos tinham aumentado o prestígio internacional, a necessidade de intensificar a actividade diplomática e a criação de representações do MPLA no exterior.

Numa altura em que o MPLA estava prestes à morrer, Agostinho Neto desenvolveu inúmeras tarefas que permitiram a ressurreição do Partido.

A história continua a registar factos mediantes os quais, o MPLA terá sofrido inúmeras transformações ao longo de sua existência, com inúmeras quedas e ressurreição para que hoje fosse uma das organizações mais desenvolvida de África Austral. Em 1977, aos 4 e 10 de Dezembro, as conturbações pousaram sobre o corpo do MPLA, nesta esfera conturbada, essa organização de índole política ter- se – á reunida num conclave intitulado I Congresso do MPLA, seis meses após Nito Alves ("O Traidor") e seus correlegionários terem fracassado a tentativa de golpe de Estado. Neste conclave se introduziram orientações recentes, nestas orientações, faziam – se presentes a transformação do MPLA em partido de vanguarda da aliança operária – camponesa, guiado pela ideologia do proletariado marxismo – Leninismo. Para dar os primeiros passos de uma nova era nos termos da vida política do Partido, esse passava à Movimento Popular da Libertação Angolana – Partido do Trabalho (MPLA – PT), cujo teor visava exercer um sacrifício árduo  e significativo cujo fruto seria, desde logo, a transformação política, social e económica da sociedade rumo aos socialismo. Agostinho Neto no seu discurso exaltava a vontade do MPLA se vincar à ideologias Monarquista – Leninista ao referir:

Em 10 de Dezembro de 1956 fundamos o MPLA, hoje 10 de Dezembro de 1977 sob olhar silencioso de Lenine fundamos o Partido do Trabalho. Agostinho Neto erguia o pilar da liderança no seio do Partido, pouco depois, levava à cabo uma campanha de rectificação do Partido, adequando –o aos princípios do centralismo democrático, ou seja, hierarquizando –o e inviabilizando discordâncias internas.

BEM – HAJA!

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